Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Eunice Catunda

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 07.06.2024
14.03.1915 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
03.08.1990 Brasil / São Paulo / São José dos Campos
Eunice do Monte Lima Catunda (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1915 - São José dos Campos, São Paulo, 1990). Pianista, compositora, professora e regente. Inicia seus estudos de piano aos cinco anos, com Mima Oswald, com que permanece de 1920 a 1927, e os segue com Branca Bilhar (de 1928 a 1936) e Oscar Guanabarino. Estreia como pianista aos 12 an...

Texto

Abrir módulo

Eunice do Monte Lima Catunda (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1915 - São José dos Campos, São Paulo, 1990). Pianista, compositora, professora e regente. Inicia seus estudos de piano aos cinco anos, com Mima Oswald, com que permanece de 1920 a 1927, e os segue com Branca Bilhar (de 1928 a 1936) e Oscar Guanabarino. Estreia como pianista aos 12 anos no Instituto Nacional de Música (Rio de Janeiro) e como concertista aos 19, frente à Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde toca o Concerto em Mi Maior para Piano e Orquestra, de Moritz Moszkowski, sob regência de Henrique Spedini. Casa-se em 1934 com o matemático Omar Catunda, incorporando o sobrenome do marido, e muda-se para São Paulo, tornando-se aluna de Furio Franceschini (harmonia e análise musical) e Marietta Lion (piano), de 1936 a 1942. Inicia sua carreira profissional como solista no Theatro Municipal de São Paulo em 1941 sob a direção de Camargo Guarnieri, com quem tem aulas de composição e harmonia moderna (1946 - 1950). Em 1943, encontra Villa-Lobos, realizando, sob a indicação desse, sua primeira turnê internacional na Argentina.

Em 1946, volta ao Rio de Janeiro e conhece Hans-Joachim Koellreutter - compositor alemão que chega ao país em 1936 e funda o movimento música viva em 1938 -, aderindo ao seu grupo até 1950. Compõe sob sua orientação a cantata Negrinho do Pastoreio, com a qual recebe o prêmio Música Viva (1946), além de atuar como intérprete no programa do grupo dirigido por Koellreutter na Rádio Ministério da Educação. Estuda orquestração com Guerra-Peixe em 1946 e, no ano seguinte, com Koellreutter. Por seu intermédio, realiza em 1948 o curso internacional de regência, de Hermann Scherchen (regente alemão, criador do música  viva e professor de Koellreutter), em Veneza. Prolonga a sua estadia, e tem sua peça Cantos à Morte estreada por Scherchen. Atua como intérprete em eventos como o Festival Brasiliano, promovido pelo II Diapason, ministra palestras sobre folclore brasileiro e participa do I Congresso Internacional de Compositores Dodecafônicos. Retorna a São Paulo em 1949, torna-se partidária do realismo socialista na música e engaja-se na corrente da música nacionalista, realizando uma série de viagens pelo Brasil para estudar seu folclore.

Entre 1955 e 1956, torna-se regente da Orquestra Sinfônica da Rádio Nacional, no programa musical Lloyd Aéreo. Atua posteriormente como pianista do mesmo programa, agora na Rádio Gazeta (1957 - 1958),  e recebe o Prêmio Radiolândia de melhor intérprete. Em 1956, funda o Coral Piratininga, tornando-se regente, compositora e arranjadora do grupo. Em 1968, realiza turnê nos Estados Unidos, toca no Carnegie Hall e torna-se artista Steinway, tornando-se contratada da casa de pianos e só tocando com instrumentos dessa marca. A partir da década de 1960, sofre uma considerável represália profissional devido ao seu posicionamento político de esquerda, que, apesar de lhe render uma certa desilusão quanto à condição do artista no Brasil, não atinge sua produtividade como compositora. Em 1964, separa-se do marido e passa a assinar como Katunda. Morre em 1990, deixando uma obra de quase uma centena de títulos pouco conhecida do público.

Análise

A consciência política de Katunda é um dos fios condutores mais fortes de sua vida artística e suas escolhas estéticas. Filiada ao partido comunista desde 1936, a musicista nutre a convicção de que a música deve ser uma ferramenta de aprimoramento e de integração social e humana, sentimento que provêm de sua ânsia política de "pertencer a uma coletividade"1, o que lhe fez ser porta-voz de muitos compositores brasileiros, estreando e divulgando o repertório nacional. No intuito de servir a esse ideal, dedica-se à arte tentando reintegrar o artista à sociedade, transformando a mentalidade social através da construção de uma identidade coletiva. Oscila, assim, entre as duas correntes estéticas predominantes no Brasil nesse momento: a música nacionalista de Mário de Andrade - em que função social da obra artística deve refletir as características do povo a fim de se criar uma identidade nacional, proporcionando ao mesmo tempo uma elevação do nível da música popular e uma maior compreensão da música erudita pela massa -  e a universalista de Koellreutter. Isso ocorre por ambas possuírem como princípio a criação de uma nova sociedade. A  diferença é que os nacionalistas concentram-se na arte-ação para a construção da identidade nacional (geográfica) e os universalistas na renovação da linguagem (o dodecafonismo) para criar uma arte sintonizada à expressão da época (temporal).

O valor da identidade nacional lhe é passado desde cedo por Camargo Guarnieri e sobretudo pelo contato com o Ensaio sobre a Música Brasileira, de Mário de Andrade, que se torna seu livro de cabeceira. O contato com Koellreutter, por sua vez, desvela à compositora as técnicas europeias modernas, como o atonalismo e o dodecafonismo, e a leva a aderir ao movimento música viva, com o qual trabalha por quatro anos. Segundo Catunda, essa é a fase mais produtiva de sua vida musical, o único momento em que, ao lado de Cláudio Santoro, César Guerra-Peixe, Edino Krieger e Koellreutter, houve uma coletividade musical, pois todos estavam sempre juntos fazendo ou discutindo música2.

No fim da década de 1940, as diretrizes trazidas por Santoro do II Congresso Internacional de Compositores e Críticos Musicais de Praga (1948) - que prega uma música realista-socialista de qualidade artística e cunho popular, e que condena a música dodecafônica, serial e atonal no intuito de oferecer ao povo obras capazes de serem compreendidas - e a publicação da Carta Aberta aos Músicos e Críticos do Brasil (1950), de Guarnieri, impulsionam Catunda a romper com o música viva e dedicar-se inteiramente à música nacionalista. Inicia a partir daí uma série de viagens à Bahia, entre 1952 e 1962, para estudar os ritmos e as cantigas da capoeira, dos cantadores e violeiros do Nordeste e dos cultos afro-brasileiros. Escreve de maneira prolífica, desde então, composições e arranjos inspirados em melodias e ritmos folclóricos para as mais diversas formações, que, entre outros, rege no seu programa junto à Orquestra Sinfônica da Rádio Nacional. Não perde, no entanto, as técnicas que havia adquirido durante seus anos no grupo música viva, conservando-a no pensamento estrutural de suas criações. Em 1979, confessa seu arrependimento a Koellreutter por ter rompido sua atividade com o música viva. Nesse mesmo ano, escreve uma de suas peças mais experimentais para piano, Expressão Anímica, recobrando assim a liberdade de criar música de invenção. Serviu-se dessas técnicas, no entanto, assim como do folclore, como recurso de linguagem, adaptando-os à sua própria imaginação musical.

Notas

1. Carta de Veneza, em 27 jan. 1949. Apud: I.A.V. Lívero de Souza. Louvação a Eunice: um estudo de análise da obra para piano de Eunice Katunda, p. 65.

2. Carta de Koellreutter para Santoro (RJ: 20 jun. 1948), em Kater (2001: 277).

Fontes de pesquisa 5

Abrir módulo
  • Holanda, Joana Cunha de. Eunice Katunda (1915-1990) e Esther Scliar (1926-1978): trajetórias individuais e análise de Sonata de Louvação (1960) e Sonata para Piano (1961). Tese de doutorado sob a orientação de Cristina Capparelli Gerling. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2006.
  • Kater, Carlos. Eunice Katunda, musicista brasileira. São Paulo: Annablume, 2001.
  • Lima Peixoto, Melina de. A obra para canto e piano de Eunice Katunda: três momentos. Dissertação de mestrado sob a orientação de Margarida Maria Borghoff. Belo Horizonte: Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais, 2009.
  • Lívero de Souza, Iracele Aparecida Vera. Louvação a Eunice: um estudo de análise da obra para piano de Eunice Katunda. Tese de doutorado sob a orientação de Maria Lúcia Senna Machado Pascoal e Mauricy Matos Martin. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2009.
  • NEVES, José Maria. Música contemporânea brasileira. São Paulo: Ricordi Brasileira, 1981.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: