Isay Leirner
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Isai Leirner (Varsóvia, Polônia 1904 - São Paulo SP 1962). Industrial, colecionador, galerista. Chega ao Brasil em 1927, um pouco antes da esposa, Felícia Leirner. Fixa-se em São Paulo e torna-se industrial.
Apreciador de arte, Leirner é convidado por Ciccillo Matarazzo (1898-1977) a integrar a diretoria do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), da qual passa a fazer parte em 1955, quando ocorre a 3ª Bienal Internacional de São Paulo. Segundo o crítico Frederico Morais (1936), é um dos diretores mais operosos do museu, tendo instituído prêmios de arte contemporânea para os expositores.[1] Torna-se amigo do crítico Mário Pedrosa, seu contemporâneo na direção do MAM. Na 4ª Bienal, de 1957, cria os prêmios para o melhor gravador e o melhor desenhista estrangeiro. É membro atuante do Centro Cultural Brasil-Israel e por isso é o principal responsável pela presença regular de artistas israelenses na Bienal.
Isai Leirner é um dos diretores do MAM/SP quando ocorre a polêmica em torno da 4ª Bienal, gerando uma violenta reação dos artistas recusados, que criticam o fato de 84% dos artistas brasileiros terem sido cortados da mostra e também a supervalorização dos concretistas, em detrimento dos figurativos. No mesmo ano, em apoio aos artistas recusados, Leirner decide organizar a exposição 12 Artistas de São Paulo, no saguão do edifício do grupo de jornais Folha, localizado na alameda Barão de Limeira, no centro de São Paulo. Participam Flávio de Carvalho, Jacques Douchez, Ítalo Cencini, Caetano Fraccaroli (1911-1987), Samson Flexor, Moussia Pinto Alves, Darcy Penteado, Felícia Leirner, Aldo Bonadei, Odetto Guersoni, José Antônio da Silva e Bella Prado (1925).
Magoado com a crise na Bienal e empolgado com o sucesso da mostra, ele se demite do MAM/SP e cria a Galeria de Artes das Folhas, naquele mesmo saguão. O regulamento é publicado em dezembro de 1957. A galeria teria um conselho de críticos e artistas e apresentaria tanto expositores convidados quanto espontâneos. O prêmio Leirner de aquisição é instituído com o objetivo de doar obras para museus. A galeria é inaugurada em 1958. O crítico José Geraldo Vieira (1897-1977)[3] torna-se assistente artístico e Leirner assume a função de assistente especial. O espaço torna-se um importante centro de atividades: não acontecem apenas mostras de arte, mas também debates sobre o assunto. Isai Leirner é considerado a "alma da galeria"3. Ele hospeda e recepciona críticos e artistas em sua casa, compra obras e expõe sua coleção, que contém trabalhos de artistas nacionais como Flávio de Carvalho, Alberto da Veiga Guignard, Di Cavalcanti, José Pancetti, Lasar Segall, e de artistas internacionais como Filippo de Pisis (1896 - 1956), Marc Chagall (1887-1985), Henry Moore (1898-1986), Massimo Campigli (1895-1971), Pablo Picasso (1881-1973), Raoul Dufy (1877-1953) e Toulouse-Lautrec (1864-1901). Em 1961, a Galeria de Arte Ibeu, no Rio de Janeiro, expõe 44 obras da coleção, datadas de 1930 a 1960.
Segundo sua esposa Felícia, Leirner quer: "oferecer um maior apoio às artes, que àquela época ferviam de entusiasmo. Foi um período movimentado para as artes em São Paulo, tanto pela união que havia entre os artistas tanto pelo processo de transição pelo qual estavam passando as artes visuais".[4]
Com sua morte, no dia 13 de novembro de 1962, o prêmio Leirner acaba e, pouco depois, a galeria é fechada. O historiador Walter Zanini cita a galeria e o prêmio como um exemplo da transformação do meio artístico na década de 1950, no sentido de assegurar aos artistas melhores condições para apresentar suas obras5. Ambos - galeria e prêmio - adquirem enorme prestígio, sobretudo se considerarmos que o período de funcionamento foi menor do que quatro anos. Nomes como Franz Weissmann e Nelson Leirner são revelados na galeria.6
Em 1962, Mário Pedrosa escreve sobre Leirner no Jornal do Brasil. Ressalta o fato de que ele "(...) não sabia esconder suas reações. Como se [quem se] interessasse realmente pelas coisas da arte não podia permanecer frio e indiferente aos julgamentos sobre artistas e obras". Pedrosa conta que, em uma das Bienais, Leirner discorda da escolha para o prêmio artista contemporâneo, da qual Pedrosa havia participado:
"Não escondeu o fato, nem naturalmente impugnou a escolha mas queria saber até no fundo as razões pelas quais a maioria do júri se pronunciou contra o seu ou seus candidatos. Na época, creio, não ficou convencido, embora conformado. Compreendi então que naquela natureza franzina, nervosa de gestos e de fala estava uma natureza veemente, apaixonada e profundamente afetiva. Tempos depois me confessava espontaneamente que acabara de concordar com a nossa decisão".[7]
Pedrosa diz ainda: "Um dos traços mais tocantes de sua personalidade era a afeição profunda, e por vezes ela aparecia em público ingenuamente, que votava à família, à sua mulher"[8]. Quando seu marido morre, Felícia faz uma série de esculturas em bronze intitulada Cruzes.
Para os Leirner, arte é quase coisa de família. Dos três filhos do casal, Giselda Leirner, Nelson Leirner e Adolfo, os dois primeiros tornam-se artistas. Sheila Leirner (1928), filha de Giselda e neta de Isai, é crítica de arte e curadora. O sobrinho de Isai, Adolpho, é um importante colecionador de arte concreta. Suas filhas, Jac Leirner e Betty Leirner, são artistas. A sobrinha Jeanette Musatti (1944), irmã de Adolpho, também é artista.
Notas
1. MORAIS, Frederico. Felícia Leirner: a arte como missão. Campos de Jordão, SP: Museu Felícia Leirner, 1991, p. 33.
2. José Geraldo Vieira é membro do júri que faz os cortes na 4ª Bienal. (ALAMBERT, Francisco, CANHÊTE, Polyana Lopes. As bienais de São Paulo: da era dos museus à era dos curadores, 1951 - 2001. São Paulo: Boitempo, 2004, p. 72.)
3. MORAIS, Frederico, Op. cit., p. 31.
4. Idem.
5. ZANINI, Walter (coord.). História geral da arte no Brasil. V - II. São Paulo: Instituto Moreira Salles: Fundação Djalma Guimarães, 1983, p. 644.
6. FIORAVANTE, Celso. O marchand, o artista e o mercado. In: ARCO das rosas: o marchand como curador. Apresentação José Roberto Aguilar; texto Celso Fioravante. São Paulo: Casa das Rosas, 2001, p. 10.
7. MORAIS, Frederico, Op. cit., p. 33.
8. Idem.
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ISAY Leirner.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa484982/isay-leirner. Acesso em: 03 de maio de 2025.
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