Mário Faustino
Texto
Biografia
Mário Faustino dos Santos e Silva (Teresina PI 1930 - Lima Peru 1962). Poeta, jornalista, crítico literário e tradutor. Realiza a maior parte de seus estudos em Belém, onde se torna redator e cronista de A Província do Pará, de 1947 a 1949, e, em seguida, de A Folha do Norte, de 1949 a 1956. No suplemento literário de A Folha do Norte, reúne uma geração de jovens escritores, poetas e críticos, como Haroldo Maranhão (1927-2004), Oliveira Bastos (1933-2006), Benedito Nunes (1929- ), Max Martins (1926 - ?), Rui Barata (1920-1990) e o norte-americano Robert Stock (1923-1981), então residente na capital paraense. Clarice Lispector (1925-1977) que, nessa época, mora na cidade, também colabora no suplemento, que mantém intensa conexão com os intelectuais do eixo Rio-São Paulo. Em paralelo à atividade jornalística, Faustino cursa a faculdade de direito, que, todavia, abandona no terceiro ano. Nesse período, recebe uma bolsa do Institute of International Education para estudar teoria literária e literatura norte-americana no Pomona College, Claremont, Estados Unidos, onde vive de 1951 a 1953. Em 1955, publica seu primeiro e único volume de poemas, O Homem e sua Hora. Muda-se definitivamente para o Rio de Janeiro em 1956 e começa a trabalhar como professor-assistente na Escola de Administração da Fundação Getulio Vargas (FGV). Torna-se editorialista do Jornal do Brasil (JB) e colabora no Suplemento Dominical (SDJB), criado com base em um programa radiofônico, na Rádio Jornal do Brasil. Entre 1956 e 1959, assina nesse suplemento a página "Poesia-Experiência", dedicada exclusivamente à reflexão sobre a tradição, a teoria e a prática poéticas. Em fins de 1959, decepcionado com os rumos tomados pelo suplemento, desiste da militância literária e dedica-se exclusivamente à redação e ao editorial do jornal. Com a interrupção da página, surgem várias propostas de trabalho no país, mas opta pelo posto de jornalista no Departamento de Informação da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, entre 1960 e 1962. Ao retornar ao Brasil, assume, por curto período, o cargo de editor-chefe da Tribuna da Imprensa, que é comprado pelo JB. Em novembro de 1962, tem de viajar novamente a Nova York, como correspondente internacional do JB. Não chega, no entanto, ao seu destino, pois morre num acidente aéreo nos arredores de Lima.
Comentário Crítico
O Homem e sua Hora (1955), uma das principais obras de Mário Faustino, se caracteriza pela complexidade de metros, ritmos, formas poéticas e símbolos empregados nos 22 poemas que o compõem, bem como pelo diálogo vivo com uma ampla tradição poética que remonta a Homero (IX-VII a.C.) e Horácio (65-8 a.C.), chegando até Ezra Pound (1885-1972) e Dylan Thomas (1914-1955). Na tradição brasileira, dialoga de perto com poetas como Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Cecília Meireles (1901-1964) e, sobretudo, Jorge de Lima (1895-1953), a quem Faustino dedica um dos mais aprofundados estudos críticos.
Benedito Nunes (1929) fala do caráter politonal dessa poesia. Nela, a ode, o hino, a elegia e a canção se combinam com recursos dramáticos (apóstrofe, diálogo) e com formas narrativas como a parábola, o relato mítico e o heroico das epopeias. Os temas prediletos são universais, como o amor, o tempo e o senso da transitoriedade, a morte e a própria poesia. A arte poética que define a concepção do livro de 1955 é expressa nos versos de Vida Toda Linguagem. O título do poema já evidencia a função vital da palavra e, portanto, da poesia, como meio de apreensão, ordenação e conhecimento do mundo.
Os poemas escritos de 1956 a 1959 e divulgados na imprensa carioca revelam uma nova concepção poética, marcada por grande experimentação linguística inspirada pelas propostas dos poetas concretistas de São Paulo, com os quais mantém intenso diálogo, embora sem jamais integrar o grupo. Recorre, assim, à visualidade, à dimensão gráfica da página e à disposição espacial dos vocábulos, desmontando as palavras e explorando seu potencial sonoro-semântico, entre outros procedimentos marcantes do concretismo. É o que se verifica em poemas como Cavossonante Escudo Nosso e Ariazul.
A partir de 1959, a poesia de Faustino entra numa fase de pesquisa expressional, indicando a maturidade espiritual do poeta. Essa fase é representada pelo projeto não concluído de um poema longo, biográfico e ao mesmo tempo cósmico. Para esse poema total, planeja compor fragmentos altamente elaborados e integráveis, instantes lírico-épicos de uma Obra-em-Progresso, que exprimiria o fluxo incessante de sua consciência mitopoética.
Como exemplo de poeta-crítico, Faustino sempre alia intimamente a criação à intensa reflexão sobre a tradição e o fazer poéticos, chegando mesmo a cobrar de grandes nomes da poesia modernista que atuem do mesmo modo, no sentido de promover a atualização e o aprofundamento da pesquisa estética. É o que ele busca realizar como crítico de poesia do SDJB.
A projeção alcançada por Faustino na cena literária dos anos 1950 talvez se deva mais a essa atuação como crítico do que como poeta, assinando a página "Poesia-Experiência" nesse suplemento que marca época pelo seu projeto gráfico ousado e pela competência dos profissionais que arregimenta, sob a direção do poeta Reynaldo Jardim (1926- ) e com o apoio da proprietária do jornal, condessa Pereira Carneiro (1899-1983). Entre os principais nomes que colaboram no suplemento, destacam-se Mário Pedrosa (1900-1981), Ferreira Gullar (1930), Antônio Houaiss (1915-1999), Barbara Heliodora (1923- ), Assis Brasil (1945) e Judith Grossmann (1931). Graças a Faustino e Jardim, o SDJB dá ao movimento concretista um apoio fundamental, pela divulgação ampla que faz o grupo paulista alcançar no Rio uma ressonância não encontrada em São Paulo. É também na página-seção "Livro de Ensaios" que os concretistas Augusto de Campos (1931) e Haroldo de Campos (1929 - 2003), ao lado de José Lino Grünewald (1931 - 2000), são revelados como críticos literários. O compromisso do SDJB com a vanguarda concretista vai orientar até mesmo o projeto de reforma gráfica do jornal, de autoria do artista plástico Amilcar de Castro (1920-2002), que dá um tratamento novo à página, explorando os aspectos visuais da palavra e da colocação espacial do texto na página.
Obras 1
Exposições 2
-
26/10/2001 - 14/1/2000
-
30/11/2003 - 2/3/2002
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
MÁRIO Faustino.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa2844/mario-faustino. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7