Rafael Frederico
![Camponesa Italiana, 1896 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/002136004013.jpg)
Camponesa Italiana, 1896
Rafael Frederico
Óleo sobre tela, c.s.d.
56,00 cm x 42,00 cm
Texto
Raphael Frederico (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1865 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1934). Pintor e professor. Perde o pai na infância e sua educação é assumida pela avó paterna, que o orienta a matricular-se na Escola Naval. Em 1877, porém, matricula-se na Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), e muda-se com a mãe para um casebre no Morro de São Januário. Ambos sobrevivem da confecção de paramentos religiosos. Por conta de dificuldades materiais, os cursos da Academia são realizados de maneira intermitente e concluídos apenas na década de 1890. É aluno de Victor Meirelles (1832-1903) e Agostinho da Motta (1824-1878). Envolve-se na disputa entre positivistas e modernos (ou “os novos”), em torno da renovação do ensino artístico na Academia, no fim dos anos 1880. Frequenta o Atelier Livre, formado pelo grupo dos novos, fora da Aiba. Em 1890, integra exposição na sede do ateliê, ao lado de Eliseu Visconti (1866-1944), Fiuza Guimarães (1868-1949), Bento Barbosa (1866-?) e França Júnior (1838-1890). Em 1893, conquista o prêmio de viagem à Europa no concurso anual da Escola Nacional de Belas Artes (Enba), concorrendo sob o pseudônimo “Brasil”. Viaja no ano seguinte, fixando-se em Paris, onde estuda com o pintor francês Pascal Dagnan-Bouveret (1852-1929). Em 1896, transfere-se para Roma, onde realiza estudos e cópias. Envia-os à Enba, e convive com Zeferino da Costa (1840-1915) de quem é assistente nos projetos para decoração da Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro. Retorna ao Rio, em 1899, ano em que obtém medalha de ouro de 2ª classe, por um conjunto de aquarelas apresentado na Exposição Geral de Belas Artes. A partir de 1914, abandona a produção artística e deixa de frequentar salões e exposições de arte. Dedica-se ao magistério, lecionando desenho em estabelecimentos de ensino públicos e privados, no Rio de Janeiro.
Análise
Rafael Frederico participa de um período importante da história da arte brasileira: a passagem da Academia Imperial para a Escola Nacional de Belas Artes, após a proclamação da República. O período é marcado por projetos em busca de reformas no ensino e na cultura acadêmica. Artista negro e de origem humilde, alcança a possibilidade de ascensão econômica e social ao ingressar e concluir os cursos da Aiba. Frederico posiciona-se contra a instituição no momento em que ela é questionada. Na disputa entre “velhos” e “novos”, “positivistas” e “modernos”, fica ao lado dos últimos. Frequenta e expõe no Atelier Livre, organizado por eles no centro do Rio de Janeiro. Restabelecida a ordem, o artista é um dos beneficiados pelos resultados da revolta, que reivindica a volta da concessão dos prêmios de viagem. Frederico conquista-o em 1893 e segue para Paris no ano seguinte. Depois, estabelece-se em Roma.
Suas principais obras são produzidas no período em que vive e trabalha na capital italiana. Pratica todos os gêneros pictóricos: pintura religiosa e histórica, retrato, natureza-morta, paisagem, cenas de gênero e interiores, além de estudos de nu. Entre os quadros de temática religiosa, destacam-se A Tentação de Santo Antão (1890) e A Descida da Cruz (1897), ambos no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), no Rio de Janeiro.
A vontade de renovação verifica-se também em sua obra, atingindo mais a técnica do que a composição. Apresenta uma dinâmica interessante de pinceladas curtas e manchas, principalmente no tratamento dos fundos em estudos de nus e algumas cenas de interiores, como Antes do Ensaio (c. 1896-1899). A tela representa bailarinas preparando-se para uma apresentação. Se é possível notar a pincelada dinâmica, a composição e o uso das cores não mostram a mesma ousadia. O artista dispõe as figuras no espaço da tela evitando enquadramentos oblíquos e cortes. Já as cores, embora aplicadas com refinamento, não exploram como poderiam os contrastes sugeridos, por exemplo, pelo vestido roxo de uma das dançarinas sobre o fundo verde do camarim.
Frederico destaca-se também como aquarelista. Recebe comentários elogiosos do crítico Gonzaga Duque (1863-1911), em resenha sobre a exposição de aquarelistas no Clube Brasil, da qual participa, em 1907, no Rio de Janeiro.
Obras 3
Exposições 20
Fontes de pesquisa 15
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- CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983.
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- DUQUE, Gonzaga. Contemporâneos: pintores e esculptores. Rio de Janeiro: Tipografia Benedicto de Souza, 1929.
- FREIRE, Laudelino. Um século de pintura: apontamentos para a história da pintura no Brasil de 1816-1916. Rio de Janeiro: Fontana, 1983.
- GUANABARINO, Oscar. Exposição de bellas-artes. O Paiz, Rio de Janeiro, n. 5444, 1 de setembro de 1899. p. 2. Disponível em: < http://www.dezenovevinte.net/artigos_imprensa/guanabarino_1894.htm >. Acesso em 30 abr. 2013.
- LEITE, José Roberto Teixeira. Pintores negros do oitocentos. São Paulo: MWM Motores Diesel Ltda. : Indústria Freios KNORR Ltda., 1988. [246 p.]. (Coleção MWM-IFK).
- MUSEU Nacional de Belas Artes. Entre duas modernidades: do neoclassicismo ao pós-impressionismo na coleção do Museu Nacional de Belas Artes. Rio de Janeiro: Artviva Produção Cultural, 2004.
- O MUSEU Nacional de Belas Artes. São Paulo: Banco Safra, 1985.
- RUBENS, Carlos. Pequena história das artes plásticas no Brasil. São Paulo: Editora Nacional, 1941. (Brasiliana. Série 5ª: biblioteca pedagógica brasileira, 198).
Como citar
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RAFAEL Frederico.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa24116/rafael-frederico. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7