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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

José Agrippino de Paula

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 27.07.2023
13.07.1937 Brasil / São Paulo / São Paulo
04.07.2007 Brasil / São Paulo / Embu
Reprodução fotográfica Correio da Manhã/Acervo Arquivo Nacional

José Agrippino de Paula, 1970

José Agrippino de Paula e Silva (São Paulo, São Paulo, 1937 – Embu, São Paulo, 2007). Romancista, cineasta, dramaturgo. A obra de José Agrippino não passa indiferente àqueles que têm contato com ela. Considerado, por alguns críticos de arte, o precursor do tropicalismo, o autor é reverenciado nos meios intelectuais pela originalidade de seu trab...

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José Agrippino de Paula e Silva (São Paulo, São Paulo, 1937 – Embu, São Paulo, 2007). Romancista, cineasta, dramaturgo. A obra de José Agrippino não passa indiferente àqueles que têm contato com ela. Considerado, por alguns críticos de arte, o precursor do tropicalismo, o autor é reverenciado nos meios intelectuais pela originalidade de seu trabalho, apesar de ser pouco conhecido do grande público.

Agrippino ingressa, em 1955, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), junto com o cenógrafo Flávio Império (1935-1985), mas transfere-se posteriormente para a Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. Na nova instituição, envolve-se com o teatro e encena, em 1959, uma adaptação do romance Crime e Castigo, do escritor russo Fiódor Dostoievski (1821-1881), na qual trabalha como ator, diretor e cenógrafo.

Em 1965, retorna a São Paulo, onde publica seu primeiro romance, Lugar Público. De estilo fragmentário, o livro aborda o cotidiano caótico de uma grande cidade na qual personagens com nomes de figuras históricas, como Napoleão Bonaparte (1769-1821), Júlio César (100 a.C.-44 a.C.) e Pio XII (1876-1958), vivem de forma errante. Esses personagens, de diferentes épocas, comungam do mesmo tempo e espaço de um “eu” não identificado que narra a história, marcado apenas pela 1ª pessoa. A falta de delimitação de um contexto local, aliada à convergência dessas personalidades de diferentes épocas, expande os limites da obra, em um movimento similar ao que fazem os tropicalistas e os escritores da literatura marginal dos anos 1960.

Lugar Público causa grande impacto na cena literária brasileira. Na orelha da primeira edição, o escritor Carlos Heitor Cony (1926-2018) observa que a escrita de Agrippino possui afinidades com a de escritores franceses da década de 1950, criadores do chamado nouveau roman, pelo objetivismo da narração e o antipsicologismo na construção dos personagens.

No segundo romance, lançado em 1967, PanAmérica, o autor radicaliza as características do livro anterior. Os capítulos, formados por blocos de textos de um único e extenso parágrafo, não têm continuidade entre si e o próprio narrador-protagonista se alterna em diferentes papéis ao longo do romance: desde um diretor de Hollywood rodando um filme intitulado A Bíblia até um guerrilheiro latino-americano lutando ao lado de Che Guevara (1928-1967). Na exploração dessa "mitologia contemporânea", como define o crítico Mario Schenberg (1914-1990), o narrador namora a diva Marilyn Monroe (1926-1962), convive com líderes políticos como o general Charles de Gaulle (1890-1970) e briga com ídolos do beisebol como Joe DiMaggio (1914-1999).

PanAmérica é considerado, pelo compositor Caetano Veloso (1942), um precursor literário do movimento tropicalista. “Uma obra única na literatura brasileira, independente de tradição, com características da pop art, influências beat e antecipações do tropicalismo”, conforme aponta o jornal Folha de S.Paulo1. É a partir da leitura desse livro, inclusive, que Caetano escreve alguns dos versos da música “Sampa” (1978): "Panaméricas de Áfricas utópicas". PanAmérica é a obra mais importante de José Agrippino, qualificada por Schenberg como mais importante que o romance Cem anos de solidão (1967), de Gabriel García Márquez (1928-2014), na fusão que faz entre realidade e realismo fantástico.

Após esse romance, Agrippino se dedica ao teatro e ao cinema, bem como a alguns textos de ficção jamais publicados. Escreve e dirige em parceria com a bailarina e coreógrafa Maria Esther Stockler (1939-2006), sua companheira, Rito do Amor Selvagem. A peça estreia no Theatro São Pedro, em São Paulo, em 1969, um ano após a promulgação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), e impressiona público e crítica. Encenada pelo grupo Sonda, herdeiro do The Living Theater, caracteriza-se por seu formato inovador ao apresentar um “teatro rock”, antecipando o que mais tarde seriam tratadas como happenings2, em uma fusão de diferentes linguagens, marcando definitivamente a contracultura brasileira. É inspirada na obra As Nações Unidas (1968), do próprio autor, publicada inicialmente apenas em inglês, em cópias mimeografadas de circulação restrita. A obra só ganha edição em português em 2019. No prefácio, o autor pede a sua ampla divulgação, por ter sido censurada em seu país.

Dirige o filme Hitler III Mundo (1968), no qual Jô Soares (1938-2022) faz o papel de um samurai que, em determinada cena, joga alimentos para pessoas em uma favela, que reagem de forma animalesca. Lucila Meirelles (1953), curadora da obra cinematográfica de Agrippino, define esse filme como uma "crítica alegórica à ditadura”. Com referências de histórias em quadrinhos, seu caráter transgressor faz dele um clássico cult.

Pressionados pela ditadura militar, Agrippino e Maria Esther fogem do Brasil em 1971. Passam a década de 1970 viajando pelo mundo e produzindo pequenos documentários, com uma câmera Super-8. Nessa época, o escritor dedica-se ao romance Terracéu, sobre o qual há poucas informações. Escreve ainda o romance inacabado Os Favorecidos de Madame Estereofônica.

Considerado um artista de vanguarda nos anos 1960 e 1970, José Agrippino é um escritor único, que marca profundamente a contracultura no Brasil. O caráter experimental e inovador de sua obra faz dele um escritor essencial não apenas para a literatura, mas também para a arte brasileira como um todo, influenciando diferentes artistas, especialmente os tropicalistas. 

Notas
1.
MORRE José Agrippino, autor de "PanAmérica". Folha de S.Paulo, 6 jul. 2007. Ilustrada. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0607200734.htm. Acesso em: 9 out. 2022.
2. Happening é uma forma de expressão que envolve a participação do público, gerando certo grau de imprevisibilidade e apresentando críticas sociais.

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