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Enciclopédia Itaú Cultural
Dança

Maria Esther Stockler

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 09.08.2024
1939 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
2006 Brasil / Rio de Janeiro / Paraty
Maria Esther Stockler (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1939 – Paraty, Rio de Janeiro, 2006), bailarina, coreógrafa, preparadora corporal. Trabalha com base na improvisação, desapegada de escolas ou técnicas formais de dança, fugindo da espetacularização e propondo reverberações energéticas e ritualísticas.

Texto

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Maria Esther Stockler (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1939 – Paraty, Rio de Janeiro, 2006), bailarina, coreógrafa, preparadora corporal. Trabalha com base na improvisação, desapegada de escolas ou técnicas formais de dança, fugindo da espetacularização e propondo reverberações energéticas e ritualísticas.

Frequenta aulas de balé desde os 10 anos, depois pratica ioga. Em 1954, a família se muda para São Paulo depois de um período nos Estados Unidos, e Stockler entra para a segunda turma de alunos de Maria Duschenes (1922-2014), bailarina húngara radicada em São Paulo, expoente da dança moderna paulista.

Começa a carreira profissional com a fundação do Grupo Móbile, em São Paulo, logo após outra passagem pelos Estados Unidos, onde frequenta estúdios de expoentes da dança moderna, como os coreógrafos americanos Martha Graham (1894-1991), Merce Cunningham (1919-2009) e Allan Wayne (1906-1978).

O Móbile é formado por bailarinas do grupo de Duschenes. Sem seguir uma linha técnica específica, o grupo busca a pesquisa, com referências à dança moderna, improvisação e ioga, estudos de respiração e postura, colocados em cena ao lado de elementos como o canto gregoriano e a música clássica hindu. Stockler começa a construir sua proposta de afastamento das escolas técnicas reconhecidas e a busca por intersecções em outras áreas.

Stockler vê os trabalhos do grupo como eruditos e de difícil comunicação com o público, e passa a atuar como preparadora corporal e coreógrafa para teatro, participando da montagem do Teatro Oficina de O Rei da Vela (1967). Começa a trabalhar com o romancista e dramaturgo José Agrippino de Paula (1937-2007), um dos precursores do movimento tropicalista. Juntos, criam o Grupo Sonda, que produz três espetáculos. O último deles, Rito do Amor Selvagem (1969), torna-se um marco da cena paulistana. Originalmente criado para o 2º Festival de Dança de São Paulo, a obra faz temporada de quase seis meses no Theatro São Pedro.

Rito trabalha técnicas de mixagem entre mídias, ao sobrepor e editar elementos visuais, textuais, sonoros, e a atuação, em ordens e dominâncias variáveis. A obra constrói cenas com os atores aparecendo como figuras reconhecidas, em caráter tipificado, como Hitler (1889-1945) e Marlon Brando (1924-2004), e em tipos genéricos, como Rei, Louco e Super-herói.

Seguindo a proposta que Agrippino chama de “arte-soma”, o texto faz colagem de várias fontes, sem construir exatamente um sentido lógico, trabalhando uma atmosfera sensorial, para atingir o inconsciente coletivo. A busca pelo sensorial se insere na prática de Stockler e se torna uma tônica de seu trabalho.

O Rito levanta questionamentos dos críticos, que observam sua difícil compreensão, e alguns a classificam como vanguarda. O trabalho de Stockler com os corpos dos intérpretes é elogiado pela capacidade em desenvolver plasticidade num grupo que chamam de “bisonho”, dada a formação tão distinta entre os intérpretes. 

Em 1970, com Agrippino, a coreógrafa viaja por países da África e participa de danças sociais, rituais e festivas em uma aldeia de pescadores, e também do Candomblé, em Togo e Dahomey – experiências registradas em filme por Agrippino. 

No retorno da África, faz uma parada em Londres, onde acompanha workshops e apresentações de outras linguagens, como a mímica, a dança indiana Kathakali, e o Kabuki, forma teatral mista japonesa. Assim, alimenta as referências às formas não tradicionais, não ocidentais, ou não espetaculares, que se tornam o foco de seu trabalho, buscando formas mais ritualísticas de realização artística.

Depois de passar por essas experiências ritualísticas, deixa de vez a dança cênica. Seu trabalho foca os aspectos rituais, sociais e pessoais da dança, e se expressa em improvisações e numa rejeição às técnicas estruturadas. Suas propostas vanguardistas marcam e influenciam a cena da dança moderna de São Paulo, que passa a se estabelecer no Teatro de Dança Galpão (1974-1981).

Vivencia essas propostas quando mora na aldeia hippie de Arembepe, na Bahia, antes de retornar ao Rio de Janeiro, onde trabalha com o Grupo União do Vegetal. Com o grupo, segue sua pesquisa com a ayahuasca, depois de uma passagem pela Amazônia peruana, onde acompanha rituais religiosos e de medicina indígena, com foco na ampliação de contatos espirituais.

Essa ampliação também se expressa artisticamente em suas danças improvisadas, caracterizadas como experiências antropológicas desenvolvidas no próprio corpo, e que trabalham com referências que busca em outras culturas.

Como abandona os trabalhos do palco desde Rito, o registro de sua pesquisa se encontra em poucos vídeos. Agrippino a filma dançando na África e em dois momentos em Arembepe. Duas improvisações integram o filme-documentário Cinema Falado (1986), do músico Caetano Veloso (1942).

No longa-metragem, Stockler aparece improvisando em meio à natureza. Explora a dança livre, desapegada de estruturas formais de coreografia, e com a proposta de um corpo que reage ao espaço e evita o espetáculo, inspirada em dois temas: os elementos da natureza terra e ar.

Na década de 1990, a bailarina se fixa em Paraty, onde realiza estudos sobre florais de Bach e radiestesia, numa busca pela ampliação de canais energéticos e ao encontro da natureza, caminho que observa como perpetuação de seu pensamento em dança.

O trabalho corporal de Maria Esther Stockler tem raízes em sua formação diversa, desde o balé e a ioga, e com foco nas danças modernas, revelando sua proposta de interpretação que foge de escolas ou técnicas formais e reflete sobre a própria existência.

Espetáculos 6

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Exposições 1

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Fontes de pesquisa 15

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  • AMARO, André. Documentário resgata obra de José Agrippino de Paula. Rádio Câmara. Programa Trilha das Artes. Disponível em: https://www.camara.leg.br/radio/programas/585684-documentario-resgata-obra-de-jose-agrippino-de-paula/. Acesso em: 2 jun. 2020.
  • APRESENTAÇÃO do Grupo Móbile de Dança Moderna. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 8 dez. 1965.
  • BALÉ pelo Grupo Móbile dia 19 no T. Ruth Escobar. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 14 ago. 1965.
  • ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Edélcio Mostaço]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos.
  • FRAGOSO, Myriam Xavier. Dança Moderna para criança e adolescente. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 3 jun. 1966.
  • FRASER, Etty. Etty Fraser. São Paulo: [s.n.], s.d. Entrevista concedida a Rosy Farias, pesquisadora da Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira.
  • GIANETTI, Julia Corrêa. A dança marginal de Maria Esther Stockler: um dançar imagético. 2015. Dissertação (Mestrado em Artes da Cena) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2015.
  • MADAZZIO, Irlainy Regina. O Vôo da Borboleta: a obra cênica de José Agrippino de Paula e Maria Esther Stockler. 2005. Dissertação (Mestrado em Artes) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
  • MEIRELLES, Lucila. Rito do Amor Selvagem. Documentário. Sesc TV, 2019. Disponível em: https://youtu.be/vODvQVAkZW0. Acesso em: 06 jun. 2020.
  • NAVAS, Cássia; DIAS, Linneu. “As Mães da Modernidade”. In: ______. Dança Moderna. São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura, 1992.
  • O REI da Vela. São Paulo: Teatro Oficina Uzyna Uzona, [1967]. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Oficina.
  • PAULA, José Agrippino de. Céu Sobre Água. Curta-metragem em Super-8 (1972-1978). Disponível em: https://youtu.be/8eoZulLTgGI. Acesso em: 6 jun. 2020.
  • PAULA, José Agrippino de. Maria Esther: Danças na África. Média-metragem em Super-8 (1972). Disponível em: https://youtu.be/76NRWeWhiwU. Acesso em: 6 jun. 2020.
  • TERRON, Joca Reiners. Livro e filme resgatam legado caótico e tropicalista de José Agrippino de Paula. Folha de S.Paulo, São Paulo, 10 set. 2019.
  • UM RITO selvagem de amor para o público de S. Paulo. Folha de S.Paulo, São Paulo, 9 jan. 1970.

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