Roberto Schwarz
Texto
Robert Schwarz (Viena, Áustria, 1938). Crítico de literatura e cultura, poeta, dramaturgo. Destaca-se como grande ensaísta, especialista nas obras de Machado de Assis.
Muda-se para o Brasil com a família, de origem judaica, no início de 1939, quando a Áustria é anexada pelo regime da Alemanha nazista. No Brasil, nos anos 1950, trava contato com o também emigrado Anatol Rosenfeld (1912-1973), que desempenha o papel de mentor literário e filosófico.
Entre 1957 e 1960, estuda ciências sociais na Universidade de São Paulo (USP) e cursa mestrado em teoria literária na Universidade de Yale, Estados Unidos, de 1961 a 1963.
O ensaísmo de Roberto Schwarz representa o esforço de produzir uma crítica de filiação marxista adequada à realidade brasileira, com o exame das relações dialéticas entre forma literária e processo social. Seu primeiro livro de ensaios, A sereia e o desconfiado (1965), recolhe alguns dos trabalhos produzidos durante a estada na Universidade de Yale e revela a inclinação do autor para o estudo do romance. O livro aborda obras e temas da tradição europeia e anglo-americana, a partir de enfoque dialético que deixa entrever sólida formação marxista e intimidade com concepções dos principais nomes dentro dessa tradição teórico-crítica, como o pensador húngaro Georg Lukács (1885-1971) e os filósofos alemães Theodor Adorno (1903-1969) e Walter Benjamin (1892-1940).
De volta ao Brasil, em 1963, torna-se assistente de Antonio Candido (1918-2017) no Departamento de Teoria Literária da USP. Inspirado pela lição de Candido, percebe-se no livro seguinte, O pai de família e outros ensaios (1975), o direcionamento da abordagem materialista para a realidade histórico-social brasileira que vai marcar os estudos machadianos. Segundo Paulo Arantes (1942), o jovem Schwarz atina com a particularidade da matéria brasileira, como se observa no ensaio sobre O amanuense Belmiro (1937). Nesse romance de Cyro dos Anjos (1906-1994), o crítico evidencia o modo particular pelo qual se dá no Brasil a passagem do passado rural para o presente urbano: passagem em que, em vez de conflito e desintegração, há o prolongamento do tradicional e o convívio com o moderno. Por isso, Schwarz fala de uma "estética da acomodação" para caracterizar o romance.
Essas persistências e atrasos em tensão com o moderno, que marcam a especificidade da realidade brasileira, torna-se o tema central da reflexão de Schwarz e ganha relevância nos estudos dedicados à obra de Machado de Assis (1839-1908). O crítico trata de evidenciar essa contradição por meio da análise dialética, que mantém em tensão a forma literária e o processo social.
Nos primeiros romances machadianos, o crítico examina, como problemática central, a racionalização do paternalismo e a ideologia do favor a partir da perspectiva do favorecido ou do dependente. Como explica o autor, a respeito do romance A mão e a luva (1874), "em termos gerais, Machado opõe ao paternalismo autoritário e tradicionalista um paternalismo esclarecido, que aproveita os dons naturais e a iniciativa do beneficiado, em lugar de sacrificá-lo". O crítico demonstra como Machado de Assis transita, em um primeiro momento, de uma perspectiva "elitista" em A mão e a luva para a defesa intransigente da moral católica e familiar no romance Helena (1876), até que se dá a conversão para o ateísmo em Iaiá Garcia (1872), livro de passagem para a segunda fase.
Em 1968, por causa da ditadura militar, o crítico parte para o exílio em Paris e obtém o doutorado em estudos latino-americanos na Sorbonne (Universidade de Paris III) com a tese Ao vencedor as batatas, sobre a obra de Machado de Assis. Quando retorna ao Brasil, em 1978, leciona literatura e teoria literária na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Em Um mestre na periferia do capitalismo (1990), o autor examina a segunda fase da obra machadiana, inaugurada com Memórias póstumas de Brás Cubas (1881). Outros estudos sobre a obra machadiana são reunidos na coletânea Que horas são? (1987). O livro recolhe, ainda, estudos fundamentais sobre Oswald de Andrade (1890-1954) e Antonio Candido. Alguns de seus mais significativos ensaios são publicados em língua inglesa em forma de livro e em importantes periódicos, como a New Left Review. Em 1992, se aposenta pela Unicamp.
Como poeta, Schwarz é contemporâneo da geração da dita poesia marginal, da qual participam Cacaso (1944-1987) e Francisco Alvim (1938), sobre os quais o crítico escreve ensaios decisivos. Como notam Iumna Simon e Vinicius Dantas, a poesia de Schwarz pratica, no contexto dos anos 1970, "um modo de crônica, pouco enfática e muito irônica, das mazelas da repressão política, do exílio, da vida burocrática e das anedotas de família"1. A única peça teatral escrita pelo autor, A lata de lixo da história (1977), tem como horizonte histórico os anos mais duros do regime militar e é concebida como uma farsa baseada na reescrita paródica do conto machadiano "O alienista", publicado em Papéis avulsos (1882). O escritor é ainda tradutor dos escritores alemães Bertolt Brecht (1898-1956) e Friedrich Schiller (1759-1805).
Ensaísta consagrado, também poeta, dramaturgo e tradutor, Roberto Schwarz é uma figura ímpar no universo da literatura produzida e analisada no Brasil.
Notas
1. SIMON, Iumna Maria; DANTAS, Vinicius. Poesia ruim, sociedade pior. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n.º 12, p. 48-61, jun. 1985.
Obras 1
Espetáculos 3
Exposições 1
-
4/9/2018 - 4/11/2018
Fontes de pesquisa 3
- CEVASCO, Maria Elisa & OHATA, Milton (orgs.). Um Crítico na Periferia do Capitalismo: reflexões sobre a obra de Roberto Schwarz. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
- GALILEU Galilei. São Paulo: Teatro Oficina Uzyna Uzona, [1968]. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Oficina.
- SIMON, Iumna e DANTAS, Vinicius. Poesia Ruim, Sociedade Pior. Novos Estudos - CEBRAP. n.º 12. São Paulo, jun 1985.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
ROBERTO Schwarz.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa1879/roberto-schwarz. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7