Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Roberto Schwarz

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 29.10.2024
20.08.1938 Áustria / a definir / Viena
Robert Schwarz (Viena, Áustria, 1938). Crítico de literatura e cultura, poeta, dramaturgo. Destaca-se como grande ensaísta, especialista nas obras de Machado de Assis.

Texto

Abrir módulo

Robert Schwarz (Viena, Áustria, 1938). Crítico de literatura e cultura, poeta, dramaturgo. Destaca-se como grande ensaísta, especialista nas obras de Machado de Assis.

Muda-se para o Brasil com a família, de origem judaica, no início de 1939, quando a Áustria é anexada pelo regime da Alemanha nazista. No Brasil, nos anos 1950, trava contato com o também emigrado Anatol Rosenfeld (1912-1973), que desempenha o papel de mentor literário e filosófico.

Entre 1957 e 1960, estuda ciências sociais na Universidade de São Paulo (USP) e cursa mestrado em teoria literária na Universidade de Yale, Estados Unidos, de 1961 a 1963.

O ensaísmo de Roberto Schwarz representa o esforço de produzir uma crítica de filiação marxista adequada à realidade brasileira, com o exame das relações dialéticas entre forma literária e processo social. Seu primeiro livro de ensaios, A sereia e o desconfiado (1965), recolhe alguns dos trabalhos produzidos durante a estada na Universidade de Yale e revela a inclinação do autor para o estudo do romance. O livro aborda obras e temas da tradição europeia e anglo-americana, a partir de enfoque dialético que deixa entrever sólida formação marxista e intimidade com concepções dos principais nomes dentro dessa tradição teórico-crítica, como o pensador húngaro Georg Lukács (1885-1971) e os filósofos alemães Theodor Adorno (1903-1969) e Walter Benjamin (1892-1940).

De volta ao Brasil, em 1963, torna-se assistente de Antonio Candido (1918-2017) no Departamento de Teoria Literária da USP. Inspirado pela lição de Candido, percebe-se no livro seguinte, O pai de família e outros ensaios (1975), o direcionamento da abordagem materialista para a realidade histórico-social brasileira que vai marcar os estudos machadianos. Segundo Paulo Arantes (1942), o jovem Schwarz atina com a particularidade da matéria brasileira, como se observa no ensaio sobre O amanuense Belmiro (1937). Nesse romance de Cyro dos Anjos (1906-1994), o crítico evidencia o modo particular pelo qual se dá no Brasil a passagem do passado rural para o presente urbano: passagem em que, em vez de conflito e desintegração, há o prolongamento do tradicional e o convívio com o moderno. Por isso, Schwarz fala de uma "estética da acomodação" para caracterizar o romance.

Essas persistências e atrasos em tensão com o moderno, que marcam a especificidade da realidade brasileira, torna-se o tema central da reflexão de Schwarz e ganha relevância nos estudos dedicados à obra de Machado de Assis (1839-1908). O crítico trata de evidenciar essa contradição por meio da análise dialética, que mantém em tensão a forma literária e o processo social.

Nos primeiros romances machadianos, o crítico examina, como problemática central, a racionalização do paternalismo e a ideologia do favor a partir da perspectiva do favorecido ou do dependente. Como explica o autor, a respeito do romance A mão e a luva (1874), "em termos gerais, Machado opõe ao paternalismo autoritário e tradicionalista um paternalismo esclarecido, que aproveita os dons naturais e a iniciativa do beneficiado, em lugar de sacrificá-lo". O crítico demonstra como Machado de Assis transita, em um primeiro momento, de uma perspectiva "elitista" em A mão e a luva para a defesa intransigente da moral católica e familiar no romance Helena (1876), até que se dá a conversão para o ateísmo em Iaiá Garcia (1872), livro de passagem para a segunda fase.

Em 1968, por causa da ditadura militar, o crítico parte para o exílio em Paris e obtém o doutorado em estudos latino-americanos na Sorbonne (Universidade de Paris III) com a tese Ao vencedor as batatas, sobre a obra de Machado de Assis. Quando retorna ao Brasil, em 1978, leciona literatura e teoria literária na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Em Um mestre na periferia do capitalismo (1990), o autor examina a segunda fase da obra machadiana, inaugurada com Memórias póstumas de Brás Cubas (1881). Outros estudos sobre a obra machadiana são reunidos na coletânea Que horas são? (1987). O livro recolhe, ainda, estudos fundamentais sobre Oswald de Andrade (1890-1954) e Antonio Candido. Alguns de seus mais significativos ensaios são publicados em língua inglesa em forma de livro e em importantes periódicos, como a New Left Review. Em 1992, se aposenta pela Unicamp.

Como poeta, Schwarz é contemporâneo da geração da dita poesia marginal, da qual participam Cacaso (1944-1987) e Francisco Alvim (1938), sobre os quais o crítico escreve ensaios decisivos. Como notam Iumna Simon e Vinicius Dantas, a poesia de Schwarz pratica, no contexto dos anos 1970, "um modo de crônica, pouco enfática e muito irônica, das mazelas da repressão política, do exílio, da vida burocrática e das anedotas de família"1. A única peça teatral escrita pelo autor, A lata de lixo da história (1977),  tem como horizonte histórico os anos mais duros do regime militar e é concebida como uma farsa baseada na reescrita paródica do conto machadiano "O alienista", publicado em Papéis avulsos (1882). O escritor é ainda tradutor dos escritores alemães Bertolt Brecht (1898-1956) e Friedrich Schiller (1759-1805).

Ensaísta consagrado, também poeta, dramaturgo e tradutor, Roberto Schwarz é uma figura ímpar no universo da literatura produzida e analisada no Brasil.

Notas

1. SIMON, Iumna Maria; DANTAS, Vinicius. Poesia ruim, sociedade pior. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n.º 12, p. 48-61, jun. 1985.

Obras 1

Abrir módulo

Espetáculos 3

Abrir módulo

Exposições 1

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 3

Abrir módulo
  • CEVASCO, Maria Elisa & OHATA, Milton (orgs.). Um Crítico na Periferia do Capitalismo: reflexões sobre a obra de Roberto Schwarz. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
  • GALILEU Galilei. São Paulo: Teatro Oficina Uzyna Uzona, [1968]. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Oficina.
  • SIMON, Iumna e DANTAS, Vinicius. Poesia Ruim, Sociedade Pior. Novos Estudos - CEBRAP. n.º 12. São Paulo, jun 1985.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: