Raquel Arnaud
Texto
Raquel Barbosa Arnaud (Guaratinguetá, São Paulo, 1935). Marchand. Tem papel importante no desenvolvimento da arte contemporânea e na consolidação das artes plásticas no Brasil, seja abrindo espaço para artistas iniciantes, seja criando formas de valorizar aqueles já renomados.
Aos dez anos de idade, migra com a família de Guaratinguetá para São Paulo, onde o pai espera que ela tenha uma formação de alta qualidade. Durante o colegial, torna-se frequentadora do então recém-inaugurado Museu de Arte de São Paulo (Masp), onde estuda história da arte.
Em 1954, ingressa na Escola Livre de Sociologia e Política, onde estuda sociologia e ciência política, curso que lhe ajuda a ter uma visão mais ampla sobre as questões sociais.
Após a morte de Lasar Segall (1889-1957), cujo ateliê ela costuma frequentar, ajuda a família Segall a organizar os trabalhos do artista lituano e viaja pela Europa acompanhando exposições das obras dele. De volta ao Brasil, começa a trabalhar no Masp, onde organiza feiras e exposições, e colabora com Pietro Maria Bardi (1900-1999), fundador do museu ao lado de Assis Chateaubriand (1892-1968).
Após a experiência no Masp, faz estágio na galeria e casa de leilões Collectio, onde conhece a marchand Mônica Filgueiras (1944-2011) e toma contato com o trabalho de Sérgio Camargo (1930-1990), que a deixa impressionada.
Em 1973, associa-se a Filgueiras para fundar o Gabinete de Artes Gráficas, especializado em trabalhos com papel e pequenos formatos, onde eram expostas obras de artistas como Mira Schendel (1919-1988) e León Ferrari (1920-2013), entre outros.
Simultaneamente, trabalha como diretora executiva na Arte Global, uma galeria da Rede Globo que realiza exposições anunciadas em horário nobre na televisão. O apelo midiático, somado à venda de gravuras a preços acessíveis, contribui para aumentar o apelo das artes plásticas junto ao público.
Em 1977, lança a obra Caixa preta, com desenhos do artista espanhol Julio Plaza (1938-2003) e poemas do escritor Augusto de Campos (1931) recitados em um disco pelo cantor Caetano Veloso (1942). O material, que reúne diversas linguagens, é referência para a arte neoconcreta, estilo que marca presença na galeria de Raquel, por meio das obras de artistas como Willys de Castro (1926-1988), Lygia Clark (1920-1988) e Sérgio Camargo – nos anos 1990, Arnaud se tornaria responsável pelo espólio de Camargo, cujas obras posteriormente seriam alojadas na casa HUM, outro espaço criado por ela.
Em 1980, desfaz a sociedade com Mônica Filgueiras e abre o Gabinete de Arte Raquel Arnaud, onde trabalha com artistas como Amilcar de Castro (1920-2002) e Carlos Fajardo (1941), além de apresentar nomes novos, como Nuno Ramos (1960) e Tunga (1952-2016), o que se revela uma novidade numa época em que colecionadores de arte no Brasil, via de regra, não dão muita importância para a arte contemporânea. Nesse aspecto, seu trabalho por vezes é comparado ao da galerista francesa Denise René (1913-2012), figura central para o reconhecimento da arte contemporânea na França.
Em 1997, funda o Instituto de Arte Contemporânea (IAC), centro de documentação e pesquisa que preserva e difunde uma coleção de documentos relacionados à trajetória e à obra de artistas visuais brasileiros, além de promover exposições, cursos e seminários.
Toda essa dedicação às artes faz com que a trajetória de Arnaud seja eternizada por mais de uma iniciativa. No ano de 2005, a editora Cosac Naify lança o livro Raquel Arnaud e o olhar contemporâneo, que aborda sua trajetória a partir de entrevista e estudos críticos. Em 2014, o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, realiza a exposição Afinidades: Raquel Arnaud 40 anos. Nela, são expostas obras de 45 artistas plásticos que passam pela Galeria Raquel Arnaud – inaugurada em 2011, após uma série de mudanças de nome e endereço da iniciativa criada em 1980.
Segundo o crítico Ronaldo Brito (1949), a Galeria Raquel Arnaud representa um lugar de consolidação da modernidade brasileira, onde convivem obras clássicas e trabalhos renovadores. É também um espaço que fomenta o hábito de colecionar e expor obras de arte. Prova disso é que alguns compradores da galeria se tornam, posteriormente, galeristas, caso de João Sattamini (1933-2018) e Marcantonio Vilaça (1962-2000).
Raquel Arnaud promove a popularização de uma linguagem artística que não é exatamente popular. Constrói pontes que aumentam o trânsito de artistas em início de carreira junto ao mercado e também leva os produtos desse mercado a um público que não está acostumado a ele.
Exposições 4
-
-
13/5/1993 - 12/6/1993
-
22/3/2001 - 22/5/2001
-
20/9/2014 - 25/10/2014
Fontes de pesquisa 2
- ARNAUD, Raquel. Afinidades: Raquel Arnaud. Textos: Raquel Arnaud, Antonio Gonçalves Filho, José Olympio Pereira, José Carlos Figueiredo Ferraz, Ronaldo Brito. São Paulo: Cosac Naify: 2014.
- ARNAUD, Raquel. Raquel Arnaud e o olhar contemporâneo. Apresentação e entrevista Rodrigo Naves. São Paulo: Cosac Naify, 2005.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
RAQUEL Arnaud.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa16541/raquel-arnaud. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7