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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Marcos Valle

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 05.07.2024
14.09.1943 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Marcos Kostenbader Valle (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1943). Compositor, cantor, instrumentista, arranjador. Atento às novidades na produção musical internacional, incorpora diversas vertentes ao longo de sua trajetória. Absorve ainda uma variedade de ritmos regionais brasileiros, sem se especializar ou se restringir a um gênero específico.

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Marcos Kostenbader Valle (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1943). Compositor, cantor, instrumentista, arranjador. Atento às novidades na produção musical internacional, incorpora diversas vertentes ao longo de sua trajetória. Absorve ainda uma variedade de ritmos regionais brasileiros, sem se especializar ou se restringir a um gênero específico.

Estuda piano clássico dos 5 aos 16 anos, além do acordeão, instrumento que toca em seus primeiros conjuntos. Na adolescência, aprende violão e forma trio com Edu Lobo (1943) e Dori Caymmi (1943). Em 1963, algumas de suas composições, em parceria com o irmão Paulo Sérgio Valle (1940), são gravadas pelo Tamba Trio e Os Cariocas. Estreia como cantor em seu primeiro LP, Samba “demais” (1964). Nessa época, abandona o curso de direito para se dedicar à música. Em suas primeiras composições, tem como principal influência o violão de João Gilberto (1931-2019) e a bossa nova.

Viaja aos Estados Unidos como integrante do grupo Brasil’65, liderado pelo pianista Sérgio Mendes (1941), onde grava discos lançados em português e em inglês. Diante da possibilidade de ser enviado para a Guerra do Vietnã, retorna ao Brasil, em 1967, e se depara com novo cenário cultural, em que a bossa nova é considerada ultrapassada. Neste momento, desempenha um papel importante no movimento Musicanossa1 refletido em seu disco Viola enluarada (1968). Nele, o compositor explora a toada moderna2, a canção popular estadunidense, o rock e o baião, dialogando com a música trazida de Minas Gerais por Milton Nascimento (1942).

A partir de seu disco Samba ‘68 (1968), explora ritmos diversos, buscando empregar elementos do baião, do maxixe, do jazz e da música latina. Outra influência é Os afro-sambas, de Baden Powell (1937-2000) e Vinicius de Moraes (1913-1980), pelas suas melodias modais, com frases curtas e percussivas. Valle utiliza o groove em suas composições e é um dos responsáveis por fazer a transposição da fusão entre ritmos nordestinos e jazz para um contexto moderno, influenciado pela cultura pop.

Em 1969, lança o instrumental “Azymuth” para a trilha da novela Véu de noiva (1969-1970), da TV Globo, no qual o compositor mistura as síncopes e harmonias do baião à interpretação jazzística e à pulsação do funk. Depois do tema, passa a compor regularmente para publicidade e televisão, abrindo a produtora Aquarius, em sociedade com Paulo Sérgio e Nelson Motta (1944). São dessa época trilhas de outras novelas como Pigmalião 70 (1970).

No início da década de 1970, estreita relações com o rock progressivo, presente no álbum Marcos Valle (1970). O LP seguinte, Garra (1971), faz pontes entre MPB, bossa, soul e rock. Nele, estabelece os jogos rítmicos que se tornam característicos de sua obra, baseados no uso do contratempo para ataques dos acordes de piano, enquanto o violão e o contrabaixo fazem marcações nos tempos fortes, como ocorre na canção “Com mais de trinta”. Outra inovação é o emprego de sons vocalizados, com função predominantemente percussiva, e do pedal wah-wah, filtro projetado para imitar a voz humana, difundido pelo músico estadunidense Jimi Hendrix (1942-1970).

Boa parte de sua obra é indissociável da parceria com Paulo Sérgio Valle, letrista da dupla. As mudanças musicais estão em suas letras também, já que os irmãos abandonam a temática despretensiosa da bossa nova em que estão envolvidos e incorporam o lirismo introspectivo, o posicionamento contra a ditadura militar3, a sociedade industrial e o consumismo. Apesar disso, eles são, nos anos 1970, um dos principais formatadores da produção com fins publicitários e para a televisão, o que, por sua vez, aproxima-os de uma linguagem mais coloquial e acessível ao grande público.

Esta fluidez permite que a música “Mustang cor de sangue” (1969) – provocação à publicidade da época – seja empregada pela fabricante de automóveis Ford como jingle do seu modelo Corcel. Com esta canção, o compositor adota o piano como instrumento principal, o que favorece as experimentações rítmicas, por meio da utilização de pequenos trechos repetidos e acelerados.

Da mesma forma, a irreverência de músicas como “Ele e ela” (1970) – inspirada pela canção “Je t'Aime Moi Non Plus” do francês Serge Gainsbourg (1928-1991), disfarçada de tema instrumental – e “Flamengo até morrer” (1973), que acusa a alienação dos brasileiros por meio do futebol, passam despercebidas pelos censores da ditadura. Outras composições não têm a mesma sorte, sendo modificadas ou vetadas, e o artista se torna alvo de censuras e mesmo de uma prisão, em 1971, por se recusar a participar da 5ª edição do Festival Internacional da Canção. Também em 1973, lança o jingle “Um novo tempo”, que se torna um clássico dos finais de ano da TV Globo.

A aproximação ao universo pop nem sempre significa êxito na sua trajetória: Estrelar (1983), apesar do sucesso imediato, estigmatiza-o como autor de “música para academias de ginástica”. No entanto, o aspecto ritmado, baseado nos grooves, estabelece um diálogo com compositores de pop e soul, bem como com DJs, produtores de música eletrônica dançante e da lounge music, dos Estados Unidos, Europa e Japão, divulgadores de sua obra.

Marcos Valle transita por diferentes campos da produção musical, explorando movimentos da MPB sem, no entanto, deixar de assimilar inovações tecnológicas e rítmicas do Brasil e do mundo, especialmente da indústria estadunidense. Sua irreverência enquanto letrista permite ainda que produza peças voltadas aos meios de comunicação de massa, sem deixar de lado seu comprometimento com a crítica política.

Notas

1. Movimento criado em 1967, no Rio de Janeiro, por iniciativa do compositor Armando Schiavo (1943) e do pianista Hugo Bellard, com o objetivo de reunir músicos da bossa nova em apresentações coletivas e gravações. Participam do movimento Roberto Menescal (1937), Carlos Pingarilho (1940), Marcos Vasconcellos, Mario Telles (1926-2001), João Donato (1934-2023), Ronaldo Bôscoli (1928-1994), Rosinha de Valença (1941-2004), Antonio Adolfo (1947) entre outros. Dos discos lançados destacam-se Isto é musicanossa! (1968), Musicanossa (1968).

2. Estilo criado a partir da adaptação da batida da viola caipira para o piano.

3. Também denominada de ditadura civil-militar por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.

Espetáculos 1

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Exposições 1

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Fontes de pesquisa 8

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  • CASTRO, Ruy. Chega de Saudade: a história e as histórias da bossa nova. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
  • CHEDIAK, Almir (org.). Songbook Marcos Valle. Rio de Janeiro: Lumiar, 1998.
  • MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998.
  • MICHAILOWSKY, Alexei Figueiredo. Da bossa nova ao pop: transformações na obra de Marcos Valle entre 1968 e 1974. Dissertação (Mestrado em Música) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.
  • MOTTA, Nelson. Noites tropicais: solos, improvisos e memórias musicais. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
  • SANCHES, Pedro Alexandre. Como dois e dois são cinco: Roberto Carlos & Erasmo Carlos & Wanderléa. São Paulo: Boitempo, 2003.
  • SOUZA, Tárik de. Tem Mais Samba: das raízes à eletrônica. São Paulo: Editora 34, 2003. (Coleção Todos os Cantos).
  • VALLE, Paulo Sérgio. Se eu não te amasse tanto assim. Rio de Janeiro: Litteris, 2008.

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