Ronaldo Bôscoli
Texto
Biografia
Ronaldo Fernando Esquerdo Bôscoli (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1928 - Idem, 1994). Jornalista, compositor e produtor musical. É descendente da compositora Chiquinha Gonzaga, dos teatrólogos Jardel Jércolis e Geysa Bôscoli, primo de Jardel Filho e de Bibi Ferreira. Durante a infância e juventude reside na zona sul do Rio de Janeiro. Em 1951, trabalha no Diário da Noite como jornalista esportivo, em seguida no jornal Última Hora, na Manchete Esportiva e na revista Manchete. Sua irmã Lila Bôscoli casa-se com Vinicius de Moraes, com quem colabora na montagem do espetáculo Orfeu da Conceição, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em 1956.
Reúne-se com amigos para ouvir e tocar música no apartamento de Nara Leão, na Avenida Atlântica, em Copacabana. Em 1957, compõe sua primeira parceria com Carlos Lyra, a canção Se É Tarde me Perdoa e, em dupla com Oscar Castro Neves, Não Faz Assim. João Gilberto vai residir no apartamento de Bôscoli e Chico Feitosa.
Em 1959, Bôscoli participa do show no Grupo Universitário Hebraico, no Flamengo, juntamente com Sylvia Telles, Carlos Lyra, Roberto Menescal e Luiz Eça. Essa apresentação é anunciada como uma noite em que Sylvinha Telles e um grupo bossa nova apresentam sambas modernos. A partir desse show, Bôscoli decide encampar o rótulo e propagar o movimento que surge com o nome bossa nova. Nesse ano, tem suas primeiras composições gravadas: o samba Sente, parceria com Chico Feitosa, que é incluído no LP Ooooooooh Norma, de Norma Bengell; e os sambas Lobo Bobo e Saudade Fez um Samba, parcerias com Carlos Lyra, que são interpretadas por João Gilberto no LP Chega de Saudade. No ano seguinte, organiza o show A Noite do Amor, do Sorriso e da Flor, na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Urca. Também em 1960, tem Jura de Pombo gravada por Alaíde Costa. É sua primeira parceria com Roberto Menescal, com quem assina a parte mais significativa de sua obra como letrista.
Em 1961, o samba O Barquinho, parceria com Menescal, é gravado no LP homônimo de Maysa e também por João Gilberto em seu terceiro disco de fundação da bossa nova. Participa da turnê nacional e internacional de divulgação do disco, juntamente com Menescal, Luiz Carlos Vinhas, Luiz Eça, Hélcio e Bebeto. Esses três últimos músicos vêm a formar o Tamba Trio.
Em parceria com Luiz Carlos Miéle, produz shows de diversos artistas no Little Club e nas boates do Beco das Garrafas, em Copacabana. Em suas memórias, Bôscoli destaca as apresentações de Elis Regina, Sérgio Mendes, Pery Ribeiro, Leny Andrade, Claudete Soares, Tamba Trio, Antônio Adolfo e Darlene Glória. Ao longo da década de 1960, Bôscoli e Miéle produzem a turnê europeia de Wilson Simonal e Luiz Carlos Vinhas. Em 1970, a dupla dirige o espetáculo que reúne Sarah Vaughan e Wilson Simonal no Teatro Tuca, em São Paulo. Bôscoli produz alguns LPs de Elis Regina, com quem permanece casado entre 1967 e 1972. O filho do casal, João Marcelo Bôscoli, torna-se músico e produtor musical.
Comentário crítico
Ronaldo Bôscoli, devido a seu trabalho como crítico musical no jornal A Última Hora e na revista Manchete, atua na divulgação da bossa nova. Compõem algumas obras relevantes que são gravadas pelos bossanovistas, tais como O Barquinho e Você (ambas com Menescal) e Lobo Bobo (com Carlos Lyra). Entre as músicas menos conhecidas está Mamadeira Atonal, parceria com Mário Castro Neves e só gravada em 2004, pelo próprio Neves. Bôscoli a interpreta em 1959, no I Festival de Samba-Session, que ocorre no anfiteatro da Faculdade Nacional de Arquitetura do Rio de Janeiro.
Participa e organiza as primeiras apresentações dos músicos adeptos à bossa nova. As reuniões nas casas e apartamentos da zona sul carioca são frequentadas por músicos e compositores que prestigiam os jovens ligados ao gênero, entre os quais Ary Barroso, que elogia a musicalidade e as letras modernas que tratam de um tradicional tema, o amor. Assim como muitos outros jovens de sua faixa etária ou mais novos, Ronaldo Bôscoli não aprecia vários dos sambas-canção de Antônio Maria (como Ninguém me Ama ou Se Eu Morresse Amanhã de Manhã) e de Lupicínio Rodrigues (como Vingança e Loucura), que tem como característica a interpretação grandiloquente. Com a criação da bossa nova, as músicas ganham um novo tipo de interpretação, mais intimista. Contudo, Bôscoli admira a obra de Ary Barroso e Dorival Caymmi, Newton Mendonça e Billy Blanco, assim como algumas composições de Dolores Duran.
Em suas memórias, Bôscoli afirma que seu processo de composição é uma combinação de intuição, facilidade de rimar e bagagem literária. Assumidamente boêmio, várias de suas obras são compostas nas noites cariocas com acompanhamento de doses de whisky.
O samba Lobo Bobo, composto com Carlos Lyra, ocupa pouco mais de um minuto no LP Chega de Saudade (1959), de João Gilberto. Pouco depois Silvia Telles e Alaíde Costa gravam essa faixa. A música é inspirada no tema de O Gordo e o Magro, de Stan Laurel e Olivier Hardy, e a letra brinca com a fábula de Chapeuzinho Vermelho. O lobo é o próprio Bôscoli e a Chapeuzinho é Nara Leão, sua namorada na época.
A letra e música do samba O Barquinho são compostas nas viagens que Menescal e Bôscoli fazem para Cabo Frio e Arraial do Cabo, onde praticam pesca submarina. O barquinho é uma traineira alugada para os passeios pelo litoral fluminense. Menescal e Bôscoli contam que o barqueiro não acredita que eles eram artistas de rádio. Esse samba é interpretado por João Gilberto no disco João Gilberto (1961), gravado com a regência de Tom Jobim. Uma das principais gravações é a de Maysa no LP O Barquinho (1961).
Bôscoli também se destaca na produção de shows e discos de vários artistas, influenciando alguns de forma marcante. Na década de 1970, Roberto Carlos convida Bôscoli e Miéle para dirigir seu show no Canecão (Rio de Janeiro). Por ideia da dupla, incluem uma banda sob regência de Chiquinho de Moraes. A apresentação tem grande êxito e o cantor passa a se apresentar com a banda, em lugar do conjunto RC4 que o acompanhava. Desde então, Bôscoli e Miéle produzem sua carreira, transformando-o de ícone da jovem guarda para um dos mais importantes cantores românticos do Brasil. A parceria dura mais de vinte anos e inclui a realização do especial de fim de ano exibido pela TV Globo.
A atuação de Bôscoli e Miéle na produção de programas televisivos é uma importante contribuição para história da música brasileira e sua difusão, já que a veicula no que seria o principal veículo de comunicação de massa do país, sobretudo a partir das décadas de 1960 e 1970. Na TV Record, a dupla dirige o programa O Fino da Bossa, com Elis Regina e Jair Rodrigues, que recebe convidados para duetos e apresentações solo. A convite de Carlos Manga, a dupla trabalha na produção dos programas Dois no Balanço, Se meu Apartamento Falasse, Rio Rei, Os 7 Pecados e Musical em Bossa 9, todos na TV Excelsior.
Em 1965, logo após a criação da TV Globo, são contratados pela emissora. Produzem os programas Alô, Dolly, com números musicais de Hilton Prado, Márcia de Windsor, Marli Tavares, Darlene Glória e arranjos de Eumir Deodato; Dick & Betty 17, com Dick Farney e Betty Faria; e Um Cantor por Dez Milhões, Dez Milhões por uma Canção, um programa de atrações e também concurso musical. Na década de 1970, participam da criação e produção de programas como Fantástico e musicais, como Elis Especial, Vinicius para Crianças e A Arca de Noé.
Na década de 1970, Ronaldo Bôscoli e Luiz Carlos Miéle se destacam na direção artística de duas casas noturnas relevantes no meio cultural das duas principais cidades do Brasil. No Rio de Janeiro, assumem a Monsuer Pujol, onde se apresentam Dionne Warwick, Burt Bacharach, Elis Regina, Wilson Simonal, Ivan Lins, Stevie Wonder e o mímico francês Marcel Marceau. Lá também são feitas e as primeiras apresentações do grupo Dzi Croquettes, sob direção de Lennie Dale. Em São Paulo, a dupla dirige a programação da Blow Up, onde Maria Bethânia e Dale se apresentam juntos.
Obras 3
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 7
- ARAÚJO, Paulo Cesar de. Roberto Carlos em detalhes. São Paulo: Editora Planeta, 2006.
- CASTRO, Ruy. Chega de Saudade: a história e as histórias da bossa nova. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
- FONTE, Bruna. O barquinho vai... Roberto Menescal e suas histórias. São Paulo: Irmãos Vitale, 2010.
- MACIEL, Luiz Carlos; CHAVES, Ângela. Eles e eu: memórias de Ronaldo Bôscoli. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994.
- RONALDO Boscoli. Site oficial do artista. Disponível em: http://www.ronaldoboscoli.com.br/. Acesso em: 14 out. 2011.
- RONALDO Boscoli. Verbete no Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Disponível em: http://www.dicionariompb.com.br/ronaldoboscoli (Dicionário Cravo Albin). Acesso em: 30 set. 2011.
- SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).
Como citar
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RONALDO Bôscoli.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa12627/ronaldo-boscoli. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7