Roberto Lage
Texto
Biografia
Roberto Blat Lage (São Paulo, São Paulo, 1947). Diretor. Prestigiado encenador paulista, com longa e vasta atuação nos vários gêneros do teatro, alternando trabalhos em grupos experimentais e produções comerciais.
Roberto inicia sua carreira como ator em 1962. A partir de 1969 começa a dirigir no teatro amador. Logo a seguir atua no teatro universitário Sedes Sapientiae, em 1970, com a direção de Chico Rei, de Walmir Ayala (1933-1991). Nos dez anos seguintes, dedica-se a grupos profissionais, amadores e estudantis, solidificando sua carreira por meio de um repertório variado.
Seu primeiro sucesso de público ocorre com Mrozek, reunião dos textos Strip-Tease e Em Alto Mar, de Slawomir Mrozek (1930-2013), em 1974. À Flor da Pele, de Consuelo de Castro (1946-2016), em 1976, rende-lhe o Prêmio Molière de melhor direção. Com Mãos ao Alto, São Paulo!, uma comédia de Paulo Goulart (1933-2014), em 1980, e Mal Secreto, de José Antônio de Souza, em 1981, sua carreira adquire novo impulso. Em 1982, dirige Besame Mucho, comédia de Mario Prata (1946) produzida pelo Grupo de Teatro Mambembe, espetáculo bem acolhido pelo público. Em 1984, monta Escola de Mulheres, de Molière (1622-1673), montagem controvertida cuja repercussão aumenta seu prestígio como diretor.
Tanzi - Uma Mulher no Ringue, de Clara Luckhan, e O Gosto da Própria Carne, de Albert Innaurato (1948), em 1985, são duas realizações premiadas que o consolidam como um encenador inquieto e voltado para os grandes temas do momento.
Em 1986, está à frente de três realizações bem-sucedidas: Hello, Boy, de Roberto Gill Camargo (1951), destacando Elias Andreato (1955) na sensível criação do travesti; O Colecionador, playwrighting de John Fowles (1926-2005), eficiente e arguto; e Meu Tio, o Iauaretê, texto de Guimarães Rosa (1908-1967) adaptado para a cena por Walter George Durst (1922-1997), numa magnífica interpretação de Cacá Carvalho (1953), merecedora do Prêmio Molière.
Em seguida, monta Blasfêmeas, interessante colagem sobre o universo feminino; e Lets Play That, uma coletânea dedicada ao poeta Torquato Neto (1944-1972), expoente do tropicalismo, ambas em 1987. Em 1989, encena Dores de Amores, de Leo Lama (1964), obtendo grande receptividade junto ao público jovem; assim como Decifra-me ou Devoro-te, de José Rubens Siqueira (1945) e Renato Borghi (1937). Uma montagem didática de Peer Gynt, de Henrik Ibsen (1828-1906), em esquema de oficina para jovens profissionais, torna-se um sucesso cult em 1990. No ano seguinte, com Namoro, de Ilder Miranda da Costa, obtém um sucesso sem precedentes, novamente voltado para o público adolescente.
Em 1992, experimenta duas montagens ousadas - Tamara, de John Krizank - em que distribui as cenas do espetáculo pelos aposentos de um amplo e elegante casarão, dando ao público a possibilidade de montar sua própria cronologia dos fatos, e Os Amores Abandonados de Jennifer R., de Randy Buck, numa livre versão da biografia controversa do diretor alemão Rainer Werner Fassbinder (1945-1982), com formandos da Escola de Arte Dramática (EAD). Diana, um monólogo de Celso Frateschi (1952), volta a destacá-lo nas premiações, em 1993. No mesmo ano, em Portugal, monta Para Tão Longo Amor, de Maria Adelaide Amaral (1942), no Teatro D. Maria II, repetida no Brasil em 1994. No ano seguinte, dirige um espetáculo circense, Uma Noite e Tanto, com o grupo acrobático Fratelli, com grande sucesso em São Paulo, percorrendo festivais no Brasil e no exterior. De volta a Portugal encena Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues (1912-1980), e Ópera do Malandro, de Chico Buarque (1944), no Teatro Carlos Alberto, do Porto, em 1996.
Anchieta 400 Anos, performance de Arrigo Barnabé (1951) apresentada no Pátio do Colégio, e Cheque ou Mate, de Ricardo Semler (1959), protagonizada por Raul Cortez (1931-2006), são suas mais expressivas criações em 1997.
Em 1998, está à frente de Anjo na Contramão, de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), e de um espetáculo de clowns, Clips e Clops, colagem de quadros clássicos de clowns, que lhe rende o Prêmio Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) de melhor diretor.
Em 1999, volta a dirigir um infantil, Foi Ela Que Começou..., levando o Apetesp de melhor direção. Dirige ainda Agatha, de Marguerite Duras, teatro-instalação em parceria com Pink Wainer (1954). Ainda em 1999, funda com Celso Frateschi o Ágora - Centro para o Desenvolvimento Teatral, que promove seminários e outras atividades para o aperfeiçoamento do ator, e reflexões sobre o fazer teatral.
Em 2000, dirige, no Ágora, Diana, texto e interpretação de Celso Frateschi. Em 2001, é a vez de Mancha Roxa, de Plínio Marcos (1935-1999), e, em seguida, Eu Falo o Que Elas Querem Ouvir, de Mario Prata. A Mandrágora, de Maquiavel (1469-1527), pelo projeto de Formação de Público da Secretaria Municipal de Cultura, e Pássaro da Noite, de José Antônio de Souza, para o grupo Folias d'Arte, são as montagens de 2002. O ano seguinte é intenso: leva à cena Orgia, de Pier Paolo Pasolini (1922-1975), numa produção do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB); realiza as encenações de Distante, de Caryl Churchill (1938), e Quase Nada, de Marcos Barbosa (1977), textos desenvolvidos no projeto Royal Court Theatre, centro britânico que promove o intercâmbio entre a dramaturgia inglesa e novos autores de outros países, numa produção conjunta com o Teatro Popular do Sesi (TPS); encena Um Merlin, especialmente escrito para o ator Antonio Petrin (1938) por Luís Alberto de Abreu (1952); e dirige no Ágora Os Justos, peça de Albert Camus (1913-1960), inédita no Brasil.
Falando sobre suas impressões em Agatha, a crítica Mariangela Alves de Lima (1947) analisa: "A maior virtude do espetáculo, dirigido por Robero Lage, está na sobriedade com que recria o conflito amoroso. [...] Como os diálogos de Marguerite Duras nada têm de realistas ou coloquiais, essa delicadeza de tom não nos deixa esquecer que estamos diante de uma representação. Ou seja, não há ilusão de que estamos espiando alguma coisa pelo buraco da fechadura, mas há, antes, a intenção de envolver-nos com a representação de uma emoção verdadeira. Sem a distância física entre o palco e a platéia, sem os adornos ilusionistas, a encenação convida a um pacto entre o público e os intérpretes para a aceitação de uma verdade artística".1
Nota
1. LIMA, Mariângela Alves de. 'Agatha' é feita de ousadia e seriedade. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 1999.
Espetáculos 159
Fontes de pesquisa 14
- ALBUQUERQUE, Johana. Roberto Lage (ficha curricular) In: ___________. ENCICLOPÉDIA do Teatro Brasileiro Contemporâneo. Material elaborado em projeto de pesquisa para a Fundação VITAE. São Paulo, 2000.
- ANUÁRIO de teatro 1994. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 1996.
- ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Márcio Freitas]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos.
- GUERINI, Elaine. Nicette Bruno & Paulo Goulart: tudo em família. São Paulo: Cultura - Fundação Padre Anchieta: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004. 256 p. (Aplauso Perfil).
- GUZIK, Alberto. A prosa de Guimarães Rosa: melódica, visual. E no palco. Jornal da Tarde, São Paulo, 5 nov. 1986.
- LANDO, Vivien. Guimarães Rosa despido de energia e grunhidos. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. 5, 4 ago. 1986.
- MARTINS, Cláudio. “Cartola - O mundo é um moinho” estreia no Rio de Janeiro. A Broadway É Aqui!, Rio de Janeiro, 16 mar. 2017. Disponível em: https://abroadwayeaqui.com.br/2017/03/16/cartola-o-mundo-e-um-moinho-estreia-no-rio-de-janeiro/.
- MARTINS, Cláudio. “Cartola - O mundo é um moinho” estreia no Rio de Janeiro. A Broadway É Aqui!, Rio de Janeiro, 16 mar. 2017. Disponível em: https://abroadwayeaqui.com.br/2017/03/16/cartola-o-mundo-e-um-moinho-estreia-no-rio-de-janeiro/. Acesso em: 23 out. 2023.
- MOSTAÇO, Edélcio. Um negro postal de Nova York. Folha de S.Paulo, São Paulo, p. 41, 13 ago. 1985.
- Programa do Espetáculo - A Grande Imprecação Diante dos Muros da Cidade - 2007.
- Programa do Espetáculo - Agatha - 1999.
- Programa do Espetáculo - Cachorro - 2006.
- Programa do Espetáculo - Os Justos - 2003.
- Programa do Espetáculo: Em Alto Mar - 2007.
Como citar
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ROBERTO Lage.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa109288/roberto-lage. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7