José Rubens Siqueira
Texto
Biografia
José Rubens Siqueira de Madureira (Sorocaba, São Paulo, 1945). Autor, diretor e cenógrafo. Alternando ou acumulando as funções da dramaturgia e encenação, José Rubens contribui para realizações representativas do teatro paulista, ganhando destaque a partir da década de 1980.
Dedicando-se ao cinema em meados da década de 1960, José Rubens tem sua primeira experiência em teatro junto ao Núcleo 2 do Teatro de Arena, na montagem de O Processo, baseado em Franz Kafka, em 1967. Dois anos depois, estréia como diretor de Numância, obra de Cervantes encenada com o grupo universitário Sedes Sapientie. Em 1970 obtém seu primeiro destaque, ao dirigir O Cordão Umbilical, texto de estréia de Mario Prata, e Marta de Tal, de Graça Mello. Em 1975 dirige A Sétima Morada, O Romance de Tereza d'Ávila, de José Maria Ferreira, destacando Célia Helena e Carlos Augusto Strazzer nos papéis centrais.
Em 1978 está em O Banquete, dramatização que realiza sobre a obra de Mário de Andrade, responsabilizando-se também pelos cenários e figurinos dessa direção de Myrian Muniz. O ano de 1981 divide as atenções do artista em duas vertentes que marcam seu trabalho: no campo do experimentalismo integra a equipe de Clara Crocodilo, espetáculo de dança-teatro baseado na música de Arrigo Barnabé; e A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho, revivendo um clássico do século XIX, com Alna Prado no desempenho central.
Junto ao encenador Francisco Medeiros firma uma parceria em torno de muitos trabalhos. Em 1984 está como ator em Simon, de Isaac Chocrón; Sampa, a Idade de Amar, texto, cenografia e figurinos de sua autoria; assim como no infanto-juvenil Tronodocrono, em parceria com Gabriela Rabelo. No ano seguinte, integra uma oficina junto ao Sesi, da qual resulta Cárcere Secreto, um Ato Sobre a Intolerância, sobre a vida e obra de Antônio José da Silva, o Judeu; e outro projeto multifacetado que resulta na montagem de Artaud, O Espírito do Teatro, uma das vigorosas e premiadas realizações de sua carreira. Comentando seu trabalho, afirma a crítica Mariangela Alves de Lima: "Na construção do roteiro, o dramaturgo José Rubens Siqueira devolve ao teórico Antonin Artaud o direito de circular e ser compreendido até por quem não pode aceitá-lo. Transformado em personagem, Artaud diz seus próprios textos, dividindo os momentos diferenciados da psique entre vários atores. Com um domínio técnico seguro dessas variações, José Rubens funciona como um co-autor. A fala de natureza poética é cercada pelo depoimento de contemporâneos para formar uma narrativa coerente das circunstâncias em que o pensamento de Artaud progride. Em todas essas falas históricas das testemunhas transparece o medo do desconhecido. É um efeito que faz brilhar intensamente a beleza e a ousadia do protagonista".1
Em 1986, traduz e interpreta Muito Barulho Por Nada, de William Shakespeare; e em 1990 Confusão Na Cidade, de Carlo Goldoni, dois espetáculos bem-sucedidos de Osmar Rodrigues Cruz para o Teatro Popular do Sesi (TPS). Em 1987 é o autor, diretor, cenógrafo e figurinista de As Irmãs Siamesas, realização que reúne Nize Silva e Ruthinéa de Moraes numa curiosa experiência. Em 1989 está em duas significativas realizações: como autor em Decifra-me ou Devoro-te, que destaca Renato Borghi, e Sessenta e Oito, obra resultante de depoimentos realizados numa programação coordenada por Francisco Medeiros em torno do histórico ano.
Em 1990 está em dois projetos ambiciosos: uma dramatização da vida e obra de Mário de Andrade, cujo texto denomina-se O Inútil Brilho das Estrelas, levado a cabo juntamente com Gabriela Rabelo e Maria Helena Grembecki; além de Os Ventos e os Waldes, realização de Lala Deheizelin e Edith Siqueira centrado sobre a vida e a obra de Oswald de Andrade, para o qual José Rubens participa ativamente.
Para o TPS traduz, encena, cenografa e faz figurinos de Escola de Maridos, de Molière, em 1992. Volta ao autor em 1997, com a realização de Tartufo, destacando a atuação de Edney Giovenazzi.
Em 1998 assina a dramaturgia de Domésticas, o vitorioso espetáculo de Renata Melo que, posteriormente, ganha versão cinematográfica; bem como é o autor de Éonoé, infantil cheio de encantos dirigido por Francisco Medeiros para o grupo Pia Fraus Teatro. Em 1999, adapta ,dirige, faz cenário e figurinos de A Cândida Erêndira e Sua Avó Desalmada, de Gabriel García Márquez, com Esther Góes e grande elenco. Em 2000 debruça-se sobre a poetisa Adélia Prado, assumindo a autoria de Dona da Casa, espetáculo de Georgette Fadel.
A partir de sua primeira realização cinematográfica, Opus 1, curta-metragem em 16 mm de 1965, José Rubens tem voltado periodicamente à sétima arte. Amor e Medo, longa-metragem de 1974, é lançado na Alemanha. No ano seguinte, cria A Estrela Dalva e Hamlet, usando técnicas de animação. Em 1979, lança Kitsch nº 1, um média-metragem, participando como ator em diversas realizações de outros diretores nos anos subseqüentes.
Autodidata, José Rubens Siqueira recebe a graduação de Notório Saber em 2002 pela universidade que leciona desde 2000, a Escola de Comunicação das Artes do Corpo, curso integrante do Departamento de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica (PUC). José Rubens também aplica oficinas de dramaturgia fora da cidade de São Paulo.
Para comentar o trabalho do artista, a atriz Gabriela Rabelo, sua parceira em muitos trabalhos, depõe: "Nada, na obra de José Rubens Siqueira, é inocente: a intenção marca seus gestos. Talvez o fato de ser um artista tão múltiplo (tanto na área teatral onde é cenógrafo, figurinista, autor, ator, diretor, tradutor - quanto em outras áreas: cinema, literatura, artes plásticas) torne seu olhar muito vasto, permitindo-lhe construir uma obra com uma amplitude que não é fácil de ser encontrada. Alie-se a tantas habilidades um cabedal de conhecimentos recolhidos em estudos sistemáticos ao longo de sua vida e poder-se-á entender sua tenacidade em procurar, nas coisas mais simples, seu sentido mais amplo, e nas coisas mais elaboradas, sua tradução mais cotidiana. José Rubens Siqueira é isto: um artista em busca do sentido e finalidade de tudo o que o cerca, e que expõe essa busca, sem pudores, em tudo o que faz. É isto o seu teatro".2
Notas
1. LIMA, Mariangela Alves de. Artaud, o direito de ser acessível e compreendido. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. 43, 23 set. 1984.
2. RABELO, Gabriela. Depoimento sobre José Rubens Siqueira cedido à Enciclopédia de Teatro do Itaú Cultural.
Espetáculos 127
Fontes de pesquisa 10
- ANUÁRIO de teatro 1994. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 1996. R792.0981 A636t 1994
- ARTAUD estréia sem cortes. Depois de uma briga com a censura. Jornal da Tarde, São Paulo, p. 21, 21 mar. 1984.
- LIMA, Mariangela Alves de. Artaud, o direito de ser acessível e compreendido. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. 43, 23 set. 1984.
- Programa do Espetáculo - Boteco - 1997. Não catalogado
- Programa do Espetáculo - Depois do Expediente - 1987. Não Catalogado
- Programa do Espetáculo - O Enigma Blavatsky - 2003. Não Catalogado
- Programa do Espetáculo - À Margem A. Artaud - 2005. Não Catalogado
- Programa do Espetáculo - É o Noé, Uma Cosmogonia - 1998. Não Catalogado
- Programa do espetáculo - A Casa. Não catalogado
- SIQUEIRA, José Rubens. Currículum vitae. Cronologia das atividades realizadas ao longo da carreira profissional . São Paulo, 2000.
Como citar
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JOSÉ Rubens Siqueira.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa13641/jose-rubens-siqueira. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7