Renata Melo
Texto
Renata Melo Moraes (Ribeirão Preto, São Paulo, 1956). Dançarina, coreógrafa, atriz e diretora teatral. Gradua-se em Odontologia pela Universidade de São Paulo (USP) em 1979. No período, tem treinamento de balé e dança moderna. A partir de 1982, quando funda e dirige o grupo Marzipan, concilia a profissão de cirurgiã-dentista com atividades profissionais na área de dança e teatro. Durante a existência do Marzipan (1982-1990), assina a criação de peças curtas e, algumas vezes, em conjunto com o elenco. A última delas, com Lúcia Merlino (1958), quando assume o Núcleo Oswaldiano das Oficinas Culturais Oswald de Andrade, São Paulo, com Fui, Vim, Voltei (1990), e assina sua primeira direção teatral. Como atriz, estreia como coadjuvante na peça Quem Tem Medo de Itália Fausta? (1986).
Em 1991, participa programa Coreógrafos-Residentes no American Dance Festival (ADF) do American Dance Festival, na Duke University, em Durham, Estados Unidos. A partir desse período, inicia carreira solo com Slices of Life (1991) e Receba as Flores (1992), prêmios de criação-intérprete e roteiro, respectivamente, da Associação Paulista de Críticos de Arte (Apca).
A bolsa da Fundação Vitae lhe dá oportunidade de realizar a primeira produção subsidiada: o espetáculo de dança teatro Bonita Lampião (1994), com Plínio Soares (1954). Com ela, obtém os prêmios especiais Mambembe de dança e teatro. Domésticas (1998) é sua primeira realização como autora e diretora, na qual faz uso do texto e do gesto. Seguem-se outras produções na confluência entre dança e teatro, como diretora e roteirista.
Nos anos 2000, expande as atividades como preparadora corporal e diretora de teatro. Entre elas, a curadoria de duas edições do Panorama Sesi de Dança (2008 e 2009) para o Núcleo Experimental do Sesi. Realiza, ainda, supervisão coreográfica para o espetáculo 1POR1PRAUM (2010) do Balé Teatro Castro Alves, Salvador, em 2011, na direção da companhia de Jorge Vermelho.
A preocupação em levar à cena temas relacionados a episódios da vida urbana e imagens extraídas da história em quadrinhos torna-se um viés do grupo Marzipan, sob a liderança de Renata Melo. No final dos anos 1990, o desenho inicial da coreógrafa expande-se em diálogo contundente entre gesto e dramaticidade, movimento e texto. A carreira-solo pavimenta as novas investidas em trabalhos conjuntos como diretora, nos quais relatos gestuais se fazem presentes. Renata Melo acentua a presença do material advindo da trivialidade cotidiana.
O viés organizado no ‘modo marzipan’ encontra sua síntese em Box e Vampiris (1985) que Renata Melo assina com e Zélia Monteiro: “A composição dos movimentos e dos gestos (a mão que acaricia o pescoço, o giro-louco depois da mordida...) ilustram muito bem todo esse vampirismo. A sequência final encerra um trabalho inventivo, com marca própria”1. A crítica Helena Katz (1950) reafirma tal inventividade : “Foi com ‘Vampiris’ [...] que o Marzipan caiu na modernidade. Partindo para a dança-vinheta, o grupo produziu clips descartáveis como a moda”2.
Depois de iniciar carreira-solo com Slices of Life e Receba as Flores, realiza o primeiro marco da trajetória artística. Viabiliza a aproximação entre gesto e dramaticidade em Bonita Lampião. O impacto da montagem formata um novo momento na trajetória da artista. Em sua contundente escolha pela narrativa, a dominância é do movimento.
Com Domésticas, como autora, diretora e intérprete, acentua a aproximação com a dramaturgia de relatos. Com ela, a peça obtém uma dramaturgia corporal, para além da mera gestualidade. No entanto, como assinala Helena Katz: “O novo naturalismo de Renata Melo, irrigado do teatro, é perfurado pelas construções rítmicas e espaciais que apenas alguém com formação em dança contemporânea conseguiria produzir”3. Os traços cotidianos da profissão ganham contornos particulares quando a gestualidade torna-se explícita. “Nunca literal, jamais desnecessária, essa complementaridade entre o que o corpo fala e faz indica o surgimento de um veio que ela pode transformar numa marca”4.
Na tentativa de transformar o trivial em poesia, Passatempo (2001) não encontra repercussão similar à dos trabalhos anteriores, no jogo entre teatro e dança. Aqui, reconhece-se a tarefa da diretora em valorizar as singularidades do elenco. “Todavia o material de dança estanca a possibilidade desse espetáculo se transformar naquilo que se espera: ser mais que a soma de suas partes”5.
Depois disso, aprofunda sua produção dramatúrgica, realiza direções teatrais e empreende seu primeiro trabalho para a televisão, adaptando textos de Felipe Hirsch (1972) para o programa A Menina sem Qualidades (2013) da MTV Brasil .
Notas
1. BRAGATO, Marcos. Marzipan e o seu “Vampiris”. Dançar, São Paulo, Ano III, n. 12, 1985. p. 47.
2. KATZ. Helena. Chavão e clichês em clips banais. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 17 dez. 1986. Caderno 2, p. 51.
3. KATZ, Helena. Domésticas confirma talento de Renata Melo. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 07 ago. 1998. Caderno 2, p. D19.
4. Ibidem.
5. KATZ, Helena. Foto chapada de um tema promissor. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 08 abr. 2002. Caderno 2, p. D4.
Espetáculos 32
Fontes de pesquisa 27
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- Programa do Espetáculo - Boteco - 1997. Não catalogado
- Programa do Espetáculo - Domésticas - 1998. Não Catalogado
- Programa do Espetáculo - O Cobrador - 1990. Não Catalogado
- RAMOS, Luiz Fernando. Novos passos na dança. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 10 abr. 1988. Caderno 2, p. 83.
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RENATA Melo.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa109025/renata-melo. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
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