Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Folias d'Arte

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 03.02.2017
1997 Brasil / São Paulo / São Paulo
Grupo voltado para o teatro político. Adapta textos clássicos e cria dramaturgia própria com o objetivo de criticar os problemas da sociedade contemporânea.

Texto

Abrir módulo

Histórico

Grupo voltado para o teatro político. Adapta textos clássicos e cria dramaturgia própria com o objetivo de criticar os problemas da sociedade contemporânea.

O Folias d'Arte se forma em 1997, quando um grupo de artistas paulistas recebe o Prêmio Estímulo Flávio Rangel, do governo do Estado de São Paulo, para produzir a montagem do espetáculo Folias Fellinianas, texto inspirado na atmosfera onírica do cineasta italiano Federico Fellini. Diante da necessidade de escolher um nome para o grupo, o título da peça parece a seus fundadores uma boa inspiração, capaz de representar a proposta de unir o erudito, representado na expressão "d'arte", e o popular, nos cantos, nas danças e na irreverência das folias de rua. Na fundação os integrantes do Folias são Reinaldo Maia, autor do texto, os atores Renata Zhanetta, Rogério Bandeira, Carlos Francisco, Nani de Oliveira e Patrícia Barros, além de Marco Antonio Rodrigues, diretor do espetáculo.
 
Em busca de um local de ensaios para Folias Fellinianas, o grupo encontra no bairro de Santa Cecília, em São Paulo, um galpão abandonado, propriedade da Fundação Conrado Wessel, que cede o espaço sem ônus de aluguel por dois anos. O espetáculo estreia no Teatro Aliança Francesa em outubro de 1998, ano em que o grupo recebe o Prêmio Mambembe.

A necessidade de ter um espaço próprio, que permitisse autonomia de programação e administração, leva o grupo a investir na transformação do galpão de ensaios em sala de espetáculo. Para isso, conta com a ajuda da Fundação Wessel, que fornece material e mão de obra da engenharia civil, e do cenógrafo J. C. Serroni, que oferece o projeto arquitetônico gratuitamente.

Depois de dois anos de trabalho na reforma, o Galpão do Folias é oficialmente inaugurado em 2000 com Happy End, texto de Elizabeth Hauptmann e músicas de Bertolt Brecht e Kurt Weill, em coprodução com o Grupo TAPA. Musical em clima de cabaré, conta o embate entre gângsteres e religiosos na Chicago dos anos 1930, período tumultuado da lei seca e do crack da Bolsa de Nova York, que, segundo o diretor Marco Antonio Rodrigues, guarda relação com o cenário mundial do fim do século XX na forma como os poderes políticos, religiosos e empresariais se relacionam, corroborando "a cultura da mediocrização e a consequente violência".1

A partir de 1999, o Folias torna-se um dos líderes do movimento Arte contra a Barbárie, que condena a mercantilização da cultura e propõe a criação de mecanismos estáveis de fomento à pesquisa e à experimentação, assim como políticas públicas que promovam maior acesso do público aos espetáculos. A repercussão do movimento resulta na aprovação da Lei de Fomento ao Teatro do Município de São Paulo.
 
A luta por políticas públicas para a arte e a cultura faz parte do ideário do grupo, que participa também das discussões para a criação do Fundo Estadual de Arte e Cultura e do Prêmio Teatro Brasileiro, e está envolvido, com mais dez grupos da cidade, em reflexões e análises sobre a criação estética com base na prática e na perspectiva do teatro de grupo.

Para o diretor Marco Antonio Rodrigues, a escolha do tema para um espetáculo nasce sempre de uma questão que os angustia como artistas. "Acreditamos que, se levantamos um problema legítimo, ele diz respeito a nossos contemporâneos, e que portanto a comunicação entre palco e espectadores se constituirá de forma concreta".2

Em 2003, o Folias realiza sua primeira montagem de um texto de William Shakespeare. A releitura de Otelo, segundo Marco Antonio Rodrigues, é mais uma tragédia sobre a propriedade do que sobre o ciúme, em que a Veneza do século XVI se funde com a Nova York do século XXI. Para a professora e pesquisadora de literatura inglesa Célia Arns de Miranda, o espetáculo resulta em "uma incessante e recíproca interação do sagrado e do profano, da arte erudita e popular, da linearidade clássica e da fragmentação do pensamento, do humanismo renascentista e da modernidade asfixiante".3 Essa peça recebe, em 2003, o Prêmio Shell de direção e cenografia, e o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) de melhor espetáculo do ano.

Para comemorar os dez anos de existência, o grupo monta Oréstia, o Canto do Bode, adaptação de Reinaldo Maia para a trilogia de Ésquilo, constituída pelas tragédias Agamênon, Coéforas e Eumênides, que, juntas, tratam da formação do estado democrático grego, em que se dá a passagem da justiça baseada na vingança para a justiça do mundo civilizado. A adaptação do Folias traça um paralelo com a constituição do continente latino-americano e aborda, na primeira peça, o populismo dos anos 1950 e 1960; na segunda, a ditadura dos anos 1970 e 1980; e na terceira, a redemocratização a partir das últimas décadas do século XX. 

A montagem comemorativa do 10º aniversário coincide com o décimo número dos Cadernos do Folias, revista lançada pelo grupo em junho de 2000, com ensaios, entrevistas e textos do repertório dos grupos teatrais de São Paulo. Além dos Cadernos, o grupo publica livros, oferece oficinas e leituras de textos teatrais, organiza seminários e debates públicos. Sempre buscando a troca de experiências, o Folias estabelece um convênio com a Escola Superior de Coimbra, em Portugal, mantém estreitas relações com a Academia Russa de Arte Teatral e é parceiro do Teatro-Escola Célia Helena, de São Paulo, em várias iniciativas.

Em maio de 2008, no Galpão do Folias, é lançado o livro Verás que Tudo É Verdade, de Jorge Louraço Figueira, dramaturgo e crítico de teatro português, que "descreve a trajetória de um punhado de aventureiros que, a bordo de um galpão, impõem a arte teatral como experiência do real".4

Em dezembro do mesmo ano, o Folias lança o filme Ao Pé de Cecília Santa, dirigido pelo também ator Zeca Rodrigues. O documentário acompanha o percurso artístico e político do grupo na região da cidade onde está sua sede, o bairro de Santa Cecília.

Para manter a estrutura do galpão, o grupo promove uma campanha para conquistar sócios e parceiros, que têm, em troca, o direito de assistir seus espetáculos e participar de suas atividades. Porque, de acordo com a concepção de seus criadores, o Galpão do Folias não é fundado apenas para ser sede do grupo, mas também instrumento de revitalização do espaço urbano, levando sua produção à população e convidando-a a se apropriar do espaço, que "nasceu para ser público".5 Supervisionado por um conselho artístico que avalia o conteúdo ideológico e estético dos projetos, o grupo conta com mais de trinta "foliões", em 2009.

Notas
1. Entrevista com o diretor do grupo, Marco Antonio Rodrigues, realizada em 20 de setembro de 2009.

2. Idem.

3. MIRANDA, Célia Arns de. A música como enquadramento épico no 'Otelo' do Folias D'Arte. In: XI Congresso Internacional da Abralic: tessituras, interações, convergências. São Paulo: Anais do XI Congresso Internacional da Associação Brasileira de Literatura Comparada (Abralic), 2008.

4. LOURAÇO, Jorge. Disponível em: http:// jorgelouraco.worldpress.com. Acesso em: 25/9/2009.

5. Dagoberto Feliz em entrevista para o jornal A Nova Democracia, n. 21, dezembro de 2004.

Espetáculos 28

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 14

Abrir módulo
  • COELHO, Sérgio Sálvia. Otelo: montagem estreia com medo de ser feliz. Folha de S.Paulo, 28 jun. 2003.
  • Entrevista com o diretor do grupo, Marco Antonio Rodrigues.
  • FOLIAS d'Arte abre ciclo de debates hoje. Folha de S.Paulo , 4 set. 2007.
  • FOLIAS promove seminário. Folha de S.Paulo, 8 ago. 2001. Folha ilustrada.
  • GALPÃO do Folias. Site oficial do grupo. Disponível em: http://www.galpaodofolias.com.br. Acesso em: 20/09/2009.
  • MIRANDA, Célia Arns de . A música como enquadramento épico no 'Otelo' do Folias D'Arte. In: XI Congresso Internacional da ABRALIC: Tessituras, Interações, Convergências, 2008.
  • SANTOS, Valmir. Com tragédia em cena, Folias completa 10 anos. Folha de S.Paulo, 27 mai. 2007.
  • SANTOS, Valmir. Folias d'Arte comemora um ano de galpão. Folha de S.Paulo, 14 abr. 2001.
  • SANTOS, Valmir. Folias d'Arte lança caderno. Folha de S.Paulo, 1 jun. 2000.
  • SANTOS, Valmir. Folias lança livro sobre Bertolt Brecht. Folha de S.Paulo, 27 jun. 2002.
  • SANTOS, Valmir. Galpão do Folias faz 5 anos e ganha cineclube. Folha de S.Paulo, 11 abr. 2005.
  • SANTOS, Valmir. Musical de autora alemã abre galpão do grupo Folias d'Arte. Folha de S.Paulo, 14 abr. 2000.
  • SANTOS, Valmir. O círculo da traição. Folha de S.Paulo. 19 jun. 2003.
  • SÁ, Nelson de. Grupos criticam mercantilização da cultura. Folha de S.Paulo, 28 abr. 1999.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: