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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Alain Fresnot

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 20.07.2023
06.06.1951 França / Ile de France / Paris
Alain Fresnot (Paris, França, 1951). Roteirista, produtor, montador, diretor de cinema. Autor de narrativas clássicas e personagens fortes, Fresnot se caracteriza por focar o realismo, que alterna ou combina registros dramáticos e cômicos. Cada filme se molda às exigências do gênero ou da expectativa do diretor quanto à receptividade do mercado....

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Alain Fresnot (Paris, França, 1951). Roteirista, produtor, montador, diretor de cinema. Autor de narrativas clássicas e personagens fortes, Fresnot se caracteriza por focar o realismo, que alterna ou combina registros dramáticos e cômicos. Cada filme se molda às exigências do gênero ou da expectativa do diretor quanto à receptividade do mercado. Desempenha papel fundamental na militância em organismos de classe e órgãos estatais de cultura e na criação de meios sustentáveis de produção.

O cineasta chega ao Brasil, aos oito anos de idade, instalando-se com a família na cidade de Campinas, onde seu pai monta uma pequena fábrica. Já em São Paulo, frequenta o Foto Cine Clube Bandeirante (FCCB) e, entre os 15 e 16 anos, o curso livre de cinema da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) e o curso superior de cinema da Faculdade São Luiz. Faz pequenos filmes em super-8 e trabalha como continuísta do longa As Amorosas (1967), de Walter Hugo Khoury (1929-2003). Aluno da turma de 1971 a 1974 da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), filma os curtas-metragens Pêndulo (1973) e Doces e Salgados (1975). No mesmo período, trabalha como estagiário não remunerado na Cinemateca Brasileira e difunde um pequeno acervo de 16 mm da instituição em companhia de Felipe Macedo (1952), que então reorganiza o movimento cineclubista. Atua na primeira diretoria paulista da Associação Brasileira de Documentaristas, fundada em 1973, além de editar a revista Cinemateca e realizar o curta-documentário Nitrato (1974).

A estreia de Alain Fresnot como realizador de longa-metragem ocorre em 1977 com Trem Fantasma. O filme invoca a tirania do trabalho e da repressão familiar, de maneira simplória, como reconhece o cineasta, mas dando vida a personagens que, nas palavras de Jean-Claude Bernardet (1936)1, representam, de maneira original e sincera, a juventude do momento. Feito com e para jovens, dentro de um regime independente de produção, o filme só é exibido no circuito alternativo. Ainda na década de 1970, atua como montador de O homem que virou suco (1980) e dirige o curta Capoeira (1979). Nos anos 1980, trabalha em  produções importantes do cinema brasileiro, desempenhando o papel de assistente de direção de Eles Não Usam Black-tie (1981) e de montador dos filmes Janete (1982) e A Marvada Carne (1985).

Em 1988, lança seu primeiro filme profissional Lua Cheia. Em tom farsesco, relata as trapalhadas de um poderoso usineiro, que, quando sóbrio, administra com truculência seus negócios e, quando bêbado, deixa irromper seu desejo de ser amado e magnânimo. Os desvarios do fazendeiro-empresário, em contraponto à elegância cínica de seu motorista, demonstram a pretensão de apreender um Brasil que oscila entre o autoritarismo e a recente democracia implantada2. O filme escapa da dimensão alegorizante modelada pelo cinema novo, da qual a geração de Fresnot procura se libertar, mas não encontra público para dialogar, diante da crise que fulmina o cinema brasileiro no início de 19903.

Na tentativa de atrair o público necessário a um cinema de retomada que busca afirmação em outras bases de financiamento, o cineasta arrisca por dois caminhos. O primeiro, a comédia Ed Mort (1996), ancora-se na personagem criada pelo cronista Luis Fernando Veríssimo (1936) e em um elenco estelar que inclui a participação, entre outros, do ator Paulo Betti (1952), como o protagonista, e dos cantores Chico Buarque (1944) e Gilberto Gil (1942) em papéis secundários. O detetive brasileiro, apalermado e em contínua dificuldade financeira, termina enredado pelo mistério que une um chantageador, um delegado, um empresário e uma apresentadora de programa infantil de televisão no sequestro de crianças, cuja carne é aproveitada na industrialização de alimentos. A comicidade é leve nas piadas verbais, mas se tensiona pela trama dramática que tende à sátira social de tom mais corrosivo.

O segundo, o do caminho dos filmes históricos, leva o cineasta à adaptação de Desmundo (2002), romance de Ana Miranda (1951). A câmera assume o papel de um cronista rigoroso, que contempla a fala de época e a descrição pormenorizada dos costumes dos primeiros colonizadores portugueses no Brasil do século XVI. Numa impressionante “arqueologia da família patriarcal brasileira” e “seu subsolo de opressão”4, conforme analisa o crítico Ismail Xavier (1947), uma órfã chega de Portugal para servir de esposa a um desbravador cujo objetivo é expandir suas propriedades, nas quais ela se inclui. Rebelde por princípio às obrigações impostas pelos homens, ela acaba por se render ao mundo inclemente que se constrói à sua revelia. O filme é bem avaliado pela crítica e recebe alguns prêmios, mas não engaja o grande público.

Em 2011, com o longa Família Vende Tudo, retorna ao registro cômico para abordar o “jeitinho” brasileiro reformatado pelos novos hábitos de uma família da periferia de São Paulo. Acuada por crescentes necessidades financeiras, a programada gravidez da filha é motivo para a extorsão que se promove contra um astro da música brega. A combinação de união familiar com a prostituição velada, o universo do espetáculo e a religiosidade evangélica resulta em filme de apelo popular, porém, embora tenha sido parcialmente financiado pela Globo Filmes, não obtém compensação nas bilheterias. Em 2012, o cineasta participa do projeto Raul, o início, o fim e o meio, documentário sobre o cantor e compositor Raul Seixas (1945-1989), premiado como melhor longa-metragem de documentário no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.

Alain Fresnot é uma importante figura do cinema nacional, tanto por suas produções quanto por seu engajamento na valorização dessa arte historicamente preterida no Brasil.

Notas
1.
Press-release do filme.
2. O Brasil havia passado por um período de ditadura militar (1964-1985), em que se que censuravam todos os tipos de obras que fossem consideradas subversivas, ou seja, que não se alinhassem a seu ideário.
3. Durante a presidência de Fernando Collor de Mello (1990-1992), a Embrafilme, empresa estatal que subsidia o cinema nacional, é fechada. Com esse evento, em conjunto com uma série de sanções econômicas, a produção audiovisual entra em declínio.
4. FRESNOT, Alain. Um cineasta sem alma. São Paulo: Imprensa Oficial, 2006. p.15.

Obras 1

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Espetáculos 1

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Fontes de pesquisa 8

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  • BERNARDET, Jean-Claude. Trem fantasma. São Paulo: Dinafilme, 1977. [Press-release do filme, doc. 615/3 do acervo da Cinemateca Brasileira].
  • FRESNOT, Alain. Um cineasta sem alma. São Paulo: Imprensa Oficial, 2006.
  • LEAL, Hermes. Alain Fresnot: não vivemos em Hollywood. Revista de Cinema, São Paulo, ano 2, n. 14, jun. 2001, p. 10-18.
  • LEAL, Hermes. Alain Fresnot: não vivemos em Hollywood. Revista de Cinema, São Paulo, ano 2, n. 14, jun. 2001, p. 10-18.
  • NAGIB, Lúcia. O cinema da retomada: depoimentos de 90 cineastas dos anos 90. São Paulo: Editora 34, 2002. p. 201-208.
  • NEVES, Fátima Maria. O filme “Desmundo”, a história e a educação. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 24., 2007, São Leopoldo. Anais [...]. São Leopoldo: Unisinos, 2007. Disponível em: https://anpuh.org.br/uploads/anais-simposios/pdf/2019-01/1548210413_107224dbbc5fba9df3662f155b9b4b7a.pdf. Acesso em: 9 out. 2022.
  • PERAÇOLI, Fabio; CANNITO, Newton. Entrevista com Alain Fresnot. Novo Cinema, São Paulo, ano 1, n. 6, mai. 1997. p. 8-9.
  • TEATRO do Ornitorrinco. São Paulo: Imprensa Oficial, 2009. 792.0981 To253

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