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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Luis Fernando Verissimo

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 01.08.2024
26.09.1936 Brasil / Rio Grande do Sul / Porto Alegre
Luis Fernando Verissimo (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 1936). Cronista, contista, romancista, cartunista, jornalista, poeta. Sua obra, que está entre as mais populares da literatura brasileira contemporânea, caracteriza-se pelo humor, pela concisão e pelo uso de uma linguagem informal, expressa em diferentes gêneros textuais, nos quais aborda...

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Luis Fernando Verissimo (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 1936). Cronista, contista, romancista, cartunista, jornalista, poeta. Sua obra, que está entre as mais populares da literatura brasileira contemporânea, caracteriza-se pelo humor, pela concisão e pelo uso de uma linguagem informal, expressa em diferentes gêneros textuais, nos quais aborda comportamentos e costumes da cultura nacional.

Filho do escritor Érico Verissimo (1905-1975), vive dos 7 aos 9 anos, nos Estados Unidos, em função do trabalho do pai, frequentando escolas em São Francisco e Los Angeles. Pelo mesmo motivo, a família retorna ao país, em 1953, desta vez em Washington, onde Luis Fernando completa os estudos na Roosevelt High School e estuda música.

De volta a Porto Alegre, em 1956, começa a trabalhar na Editora Globo. Entra para o Zero Hora, em 1967, jornal em que tem sua primeira coluna diária, desde 1969 – interrompida apenas entre 1970 e 1975, quando colabora com a Folha da Manhã. A primeira reunião desses textos, O popular, é publicada em 1973, pela editora José Olympio.

A partir de 1975, colabora também para o Jornal do Brasil. Em 1977, é editado o volume As cobras e outros bichos, primeira reunião em livro das tiras As cobras. Um de seus mais famosos personagens, o detetive Ed Mort, surge em Ed Mort e outras histórias, de 1979. Já o Analista de Bagé e a Velhinha de Taubaté aparecem na década seguinte, em livros lançados respectivamente em 1981 e 1983 – ambos com sucesso imediato de público. Mantém uma página de humor na revista Veja, de 1982 a 1989, ano em que passa a assinar coluna dominical no jornal O Estado de S. Paulo.

Verissimo considera que o escritor é um “gigolô das palavras”: deve utilizá-las como lhe convém, sem se importar com os rigores das normas. “Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical de suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel [...]. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção”, escreve em uma de suas crônicas. Esse breve trecho pode ser tomado como uma espécie de premissa de seu projeto literário. Para Maria da Gloria Bordini, os textos de Verissimo provocam a reflexão e o riso a partir de um efeito de “vertigem”: trata-se recorrentemente de um movimento que prepara as expectativas do leitor simplesmente para traí-las. A subversão dos clichês seria, nesse sentido, procedimento exemplar, como no caso da crônica “Vivendo e…”, em que o narrador conclui: “Na verdade, deve-se revisar aquela frase. É vivendo e desaprendendo”.

O mesmo efeito pode ser alcançado pela mescla de tons ou gêneros. Em “Ri, Gervásio”, por exemplo, a situação é inicialmente cômica: um produtor não consegue dirigir uma claque de humor por sentir a falta de Gervásio, funcionário que havia pedido demissão e cuja risada tornava o conjunto mais contagiante. A razão para que ele tenha deixado o trabalho é inicialmente trágica. O personagem, representante daquela “gente aposentada atrás de um dinheiro extra”, está com problemas familiares.

A situação seria apenas típica se não houvesse a amplificação radical do retrato da tragédia. “Gervásio não estava com problemas em casa porque não tinha mais casa. Fora destruída num incêndio, junto com todos os seus bens, inclusive a mãe de 80 anos [...].” Os apelos do produtor para que o protagonista volte ao trabalho se tornam progressivamente mais desesperados à medida que se somam os traços da desgraça: a morte do genro, cuja família inicia um processo contra a filha de Gervásio; a partida da mulher, com o que sobra de seus pertences; o envolvimento do filho com as drogas. Sendo obrigado a rir, o integrante da claque tem motivos apenas para chorar.

Subversão é o que ocorre também quando o autor atribui tratamento cômico a assuntos geralmente abordados com mais rigor – como a política e a economia. Aos olhos do cronista, por exemplo, um fictício combate entre países da América espanhola jamais seria levado adiante. Isso porque, como se retrata em “Guerra”, os exércitos entenderiam o aviso de mobilização como ordem para depor o governo local vigente, automaticamente se dirigindo ao palácio para derrubar o presidente. Em uma paródia das ditaduras militares estabelecidas no continente durante o século XX, um coronel diz a seu superior: “Brigar com gente de fora... Não sei. Acho até meio falta de ética, general”.

A crítica aos economistas surge de maneira despretensiosa, aliada à reflexão metalinguística. É o que ocorre em “O jargão”, crônica que também ilustra uma das obsessões do autor, o falseamento do significado das palavras. Após se imaginar em seu veleiro, dando ordens para a tripulação recolher a “traquineta [...] Quebrar o lume da alcatra e baixar a falcatrua”, conclui: “Quem garantiria que o meu enfoque diferente [...] não era uma novidade que mereceria estudo, já que ninguém parece mesmo saber o que é o certo?”.

O deslocamento dos vocábulos tem paralelo no modo como o autor se apropria da tradição literária. Em uma paródia do bíblico Cântico dos cânticos, os atributos típicos da amada são substituídos por lugares-comuns da vida moderna. É o que ocorre, por exemplo, ao descrever a arquetípica doce respiração da mulher: “O teu hálito é como o monóxido de carbono que sobe das ruas, e eis que desfaleço”.

Seu segundo romance, Borges e os orangotangos eternos, é publicado em 2000, e seus primeiros poemas, Poesia numa hora dessas?, em 2002. Desde 2003, quando opta por reduzir sua colaboração para a imprensa, mantém colunas semanais em O Globo e O Estado de S. Paulo. Em 2020, a Editora Objetiva lança Verissimo antológico: meio século de crônicas, ou coisa parecida, reunião fundamental da obra do autor.

A obra de Luis Fernando Verissimo tem um efeito vertiginoso, iniciado na leveza e encerrado com o contraponto entre o efeito risível e o sentimento de melancolia. O autor usa o cinismo para tecer críticas à hipocrisia da classe média, ao autoritarismo, à injustiça social e à corrupção da política brasileira.

Obras 1

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Espetáculos 23

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Exposições 2

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Fontes de pesquisa 4

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  • ANUÁRIO de teatro 1994. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 1996. R792.0981 A636t 1994
  • ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Igor Almeida]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos. Não Catalogado
  • O Analista de Bagé, o Musical, Tchê! Em Seu Segundo Ano de Sucesso. Palco e Platéia, São Paulo, ano 0, julho de 1985. Não catalogado
  • VERISSIMO, Luis Fernando. Verissimo antológico: meio século de crônicas, ou coisa parecida. Rio de Janeiro: Objetiva, 2020.

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