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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Érico Verissimo

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 16.04.2018
17.12.1905 Brasil / Rio Grande do Sul / Cruz Alta
28.11.1975 Brasil / Rio Grande do Sul / Porto Alegre
Coleção Brasiliana Itaú / Reprodução Fotográfica Horst Merkel

Incidente em Antares, 1971
Érico Verissimo

Érico Lopes Veríssimo (Cruz Alta, Rio Grande do Sul, 1905 - Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 1975). Escritor. Filho de uma tradicional família gaúcha, a literatura faz parte na vida do autor desde bem cedo: aos 13 anos, tem contato com obras de escritores brasileiros, com a prosa de Dostoievski (1821-1881) e, principalmente, com Tolstói (1828-19...

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Biografia

Érico Lopes Veríssimo (Cruz Alta, Rio Grande do Sul, 1905 - Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 1975). Escritor. Filho de uma tradicional família gaúcha, a literatura faz parte na vida do autor desde bem cedo: aos 13 anos, tem contato com obras de escritores brasileiros, com a prosa de Dostoievski (1821-1881) e, principalmente, com Tolstói (1828-1910) e Walter Scott (1771-1832). 

Aos 17 anos, após a separação dos pais, muda-se, com mãe e irmãos, para a casa do avô. Jovem, chega a trabalhar como bancário e farmacêutico, presenciando de perto o processo de decadência das famílias abastadas da região. Em 1928, publica seu primeiro conto, “Ladrão de Gado”, na Revista do Globo, onde, no final de 1930, consegue uma posição como secretário, mudando-se para Porto Alegre. Dois anos depois, surge Fantoches, seu primeiro livro de contos. 

No ano seguinte, assume o cargo de diretor da revista, ao mesmo tempo em que traduz obras inglesas, francesas e espanholas; nos fins de semana, escreve seu primeiro romance, Clarissa, publicado no mesmo ano. Em 1933, termina a tradução de Point Conterpoint (Contraponto), de Aldous Huxley (1894-1963), obra cuja técnica narrativa servirá de base para o seu próximo romance: Caminhos Cruzados. Ele permanece na gaveta, uma vez que o autor, como ele mesmo afirma, escreve às pressas uma novela para concorrer ao Prêmio Machado de Assis, da Companhia Editora Nacional. 

No ano de 1936, mais um romance, Um Lugar ao Sol, seguido, no ano seguinte, por uma publicação infantojuvenil, As Aventuras de Tibicuera. Em 1938, publica seu primeiro grande sucesso editorial, Olhai os Lírios do Campo, romance cujo êxito editorial possibilita a Veríssimo “viver de literatura” e aproximar-se cada vez mais da função de “conselheiro literário” da Editora Globo. Após uma tentativa não tão bem-sucedida de escrever um relato épico, Saga (1940), retorna à técnica do contraponto de Caminhos Cruzados em O Resto É Silêncio (1943). Romance cujo final aponta para uma espécie de volta a raízes históricas, sociais e individuais que engendrariam seu grande empreendimento épico: a saga da família Terra-Cambará, presente nas três partes da série O Tempo e o Vento: O Continente (1949), grande sucesso de público e de crítica; O Retrato (1951); e O Arquipélago, publicado em três tomos em 1961 e 1962. 

Durante o período de escrita dessa trilogia, embarca com a família para Washington, onde assume o cargo de diretor de assuntos culturais pan-americanos na Organização dos Estados Americanos (OEA), o que lhe serve de experiência para a composição de Senhor Embaixador (1965). Em pleno regime militar, corajosamente publica Incidente em Antares (1971), uma contundente crítica aos rumos políticos do país. Dois anos depois, é lançado o livro de memórias Solo da Clarineta

Análise

Pode-se dividir a obra de Érico Veríssimo basicamente em dois ciclos: o primeiro, urbano, principia com Clarissa (1933); o segundo, voltado à reflexão histórica, encontra eco em Saga (1940), mas atinge sua forma mais consistente na trilogia de O Tempo e o Vento, iniciada no final da década de 1940. 

Logo no primeiro romance, escrito mais propriamente como um idílio lírico, ou “novela adocicada”, nos termos do crítico Massaud Moisés (1928), alguns traços que configuram sua obra já comparecem: a simplicidade da linguagem somada à facilidade de narrar pequenos fatos cotidianos, o que lhe valeria o epíteto de “contador de histórias”. Embora escrito em terceira pessoa, o leitor é logo capturado por duas perspectivas bastante distintas: a de uma garota de 13 anos, fascinada e espantada em meio a descobertas da adolescência; e a de Amaro, um melancólico funcionário de banco, compositor no tempo livre, às voltas com o fim de sua juventude. Já nesse livro detectam-se rudimentos de crítica social, ainda bastante diluídos no impressionismo das imagens e ainda não suficientes para ultrapassar percepções todavia bastante simplórias da realidade.

O lirismo de sua primeira obra será logo suplantado pela ironia mordaz de seu próximo romance realmente significativo, Caminhos Cruzados. Nele, as influências provenientes dos trabalhos de tradução tornam-se evidentes: a técnica contrapontística de Aldous Huxley - e aqui o termo contrapondo se encontra em sua acepção musical, ou seja, a simultaneidade de linhas melódicas - é utilizada tanto na elaboração do foco narrativo, por meio da multiplicidade de perspectivas, como pela concatenação de ações que, mesmo em espaço e tempo distintos, parecem tornar-se simultâneas, interagindo-se dialeticamente.

Em Música ao Longe, ocorre um retorno à Clarissa, agora como professora de uma cidade pequena. A mesma personagem fará parte, juntamente com outros, das narrativas seguintes, compondo uma espécie de “comédia humana”, à maneira de Balzac (1799-1850), que o crítico Antonio Candido (1918-2017) mais tarde lerá como uma preocupação do autor em acompanhar o desenvolvimento de personagens no decorrer do tempo.

Com Olhai os Lírios do Campo (1938), Érico Veríssimo torna-se sucesso de público. O novo romance alavanca as vendas das obras anteriores, por meio de um enredo folhetinesco e, nas palavras de Candido, assaz “sentimentaleiro”. O próprio autor reconhece as fraquezas do texto, mas continua a arriscar essas mesmas características no romance seguinte: Saga (1940), recebido com bastante frieza pela crítica especializada. Álvaro Lins (1912-1970), por exemplo, chega a lhe fazer uma dura apreciação, argumentando que o romance é “mais uma produção que uma criação”.

No volume seguinte, O Resto É Silêncio, o retorno à técnica contrapontística garante à obra uma densidade ausente nos textos anteriores. Na época, um integrante do clero, próximo ao conservadorismo da ditadura vigente2, enceta-lhe duras críticas. Em importante texto, censurado internamente pela Folha da Manhã e publicado em livro somente na década de 1990, Antonio Candido parte em defesa de Érico Veríssimo, pesando, em relação ao autor, tanto os seus aspectos positivos quanto negativos. Mais tarde, na década de 1970, o mesmo crítico mostraria como o trecho final do romance, no qual o escritor Tônio Santiago, ao acompanhar a execução da Quinta Sinfonia, de Beethoven, imagina as “raízes longínquas” de todos os presentes, retrocedendo até o período colonial, concatenando história individual e coletiva, aponta para grande aventura diacrônica que o autor empreenderia mais tarde: a trilogia O Tempo e o Vento.

Na saga da família Terra-Cambará, narrada nessa trilogia, a história tem início no final do século XVIII e encontra seu termo no Estado Novo, de modo que o leitor entra em contato tanto com fatos históricos do período como também com o processo de decadência e ascensão de diferentes formações sociais. Assim, pode-se acompanhar toda a história que leva da impetuosidade aventureira do Capitão Rodrigo e de Ana Terra, em O Continente, primeiro volume da saga, até o sentimento de culpa histórica de Floriano Cambará, que, na última parte (O Arquipélago), reflete não só sobre a violência do passado como também sobre a própria incapacidade de colocar-se contra a violência do presente.

Desse modo, como grande parte dos escritores de sua geração, verifica-se, desde o “ciclo Clarissa”, uma preocupação em tematizar a violência proveniente de um passado colonial que permanece, no Sul do país, sob o regime quase feudal dos caudilhos (que são equivalentes aos coronéis dos romances do “ciclo da seca”). Essa herança histórica atinge sua tematização mais irônica em Incidente em Antares, obra que se aproxima do “realismo maravilhoso”. Nela, uma greve de coveiros no dia 13 de dezembro de 1963 impede o sepultamento de alguns mortos, que se levantam de seus caixões e resolvem, em pleno coreto da praça principal da cidade, revelar os segredos mais terríveis dos habitantes. Como nota Candido, embora a narrativa tenha um teor fantástico, há uma espécie de golpe de realidade que aponta para o momento histórico em que a obra é escrita: a ditatura militar que, sob o pretexto de restaurar a “ordem”, trouxe de volta à vida política os setores mais retrógados da sociedade.

Veríssimo morreria poucos anos após a publicação de Incidente, deixando uma obra extensa, muitas vezes recebida com frieza por especialistas, devido às características novelescas que o autor incorpora às suas obras, vistas por muitos críticos como concessões à indústria do best-seller.

Obras 4

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Espetáculos 3

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Exposições 2

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Fontes de pesquisa 10

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  • BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 3 ed. São Paulo: Cultrix, 1989.
  • CANDIDO, Antonio. Agora é com a literatura. In: Érico Veríssimo: o romance da história. São Paulo: Nova Alexandria, 2001.
  • CANDIDO, Antonio. Entrevista com Antonio Candido. In: Érico Veríssimo: o romance da história. São Paulo: Nova Alexandria, 2001.
  • CANDIDO, Antonio. Érico Veríssimo de trinta a setenta. In: Chaves, Flávio Loureiro (org.). O contador de histórias: 40 anos de vida literária de Érico Veríssimo. Porto Alegre: Editora Globo, 1972.
  • CHIAPPINI, Lígia. Virilidade, valentia e violência. Folha de S.Paulo, São Paulo, 11 jan. 2004.
  • LINS, Álvaro. Sagas de Porto Alegre. In: Sagas literárias e teatro moderno no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Ouro, 1967.
  • MARTINS, Wilson. O estilo do romance. In: VERÍSSIMO, Érico. Obras completas, v. 1. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1956.
  • MOISÉS, Massaud. A literatura brasileira através dos textos. São Paulo: Cultrix, 1971.
  • MOISÉS, Massaud. História da literatura brasileira: modernismo. São Paulo: Cultrix, 1989. v.5.
  • OLINTO, Antonio. Érico Veríssimo romancista. In: Veríssimo, Érico. Obras completas, v. 1. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1956.

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