Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 10.06.2024
04.09.2021 - 28.11.2021 Brasil / São Paulo / São Paulo – Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP)
Moquém_Surarî: Arte Indígena Contemporânea é uma exposição de arte contemporânea realizada entre 4 de setembro e 28 de novembro de 2021 no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP). A exposição, uma correalização entre o MAM-SP e a Fundação Bienal de São Paulo, é parte integrante da rede de parcerias da 34ª Bienal Internacional de São Paulo (2...

Texto

Abrir módulo

Moquém_Surarî: Arte Indígena Contemporânea é uma exposição de arte contemporânea realizada entre 4 de setembro e 28 de novembro de 2021 no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP). A exposição, uma correalização entre o MAM-SP e a Fundação Bienal de São Paulo, é parte integrante da rede de parcerias da 34ª Bienal Internacional de São Paulo (2021). Com curadoria de Jaider Esbell (1979-2021), artista indígena do povo Makuxi, assistência curatorial de Paula Berbert (1982) e consultoria de Pedro Cesarino (1977), a exposição reúne trabalhos de trinta e quatro artistas e coletivos indígenas de etnias diversas e reflete sobre as transformações visuais do pensamento cosmológico e narrativo ameríndio.

Surarî é uma palavra de origem makuxi que designa o moquém, uma tecnologia milenar indígena utilizada para defumar os alimentos após a caça coletiva, possibilitando a sua conservação durante o trajeto de volta à aldeia. Após seu uso, o moquém, grelha feita de madeira, é abandonado na mata. Segundo a lenda makuxi, nos tempos antigos, Surarî é abandonado no mato pelo caçador e ao sentir saudades de seu dono vira gente, subindo aos céus para procurá-lo. Chegando lá, transforma-se novamente, ganhando corpo de estrela, tornando-se a constelação responsável por trazer as chuvas. Para Esbell, Moquém_Surarî é um lembrete de que depois da seca, há o tempo das águas. Assim, a exposição é o ponto de partida para a reflexão sobre a ideia de transformação e continuidade, ampliando a percepção sobre os conceitos de tempo e espaço e os trânsitos que constituem os movimentos da arte indígena contemporânea1.

Entre desenhos, pinturas, fotografias e esculturas, a mostra reúne trabalhos de artistas de dezoito povos indígenas: Baniwa, Guarani Mbya, Huni Kuin, Krenak, Karipuna, Lakota, Makuxi, Marubo, Pataxó, Patamona, Taurepang, Tapirapé, Tikmũ'ũn Maxakali, Tukano, Wapichana, Xakriabá, Xirixana e Yanomami. Um dos principais objetivos da exposição é ressaltar a existência de outras histórias da arte e não buscar encaixar a arte indígena em uma narrativa canônica. Assim, o conjunto de obras busca mobilizar outras compreensões de mundo, oferecendo um parâmetro sobre a diversidade das visualidades indígenas.

Uma das séries centrais da exposição é composta por obras da coleção Vacas nas terras de Makunaimî: de malditas a desejadas (2013), de Esbell, montada a partir do 1º Encontro de Todos os Povos (2013), organizado por ele para reunir artistas originários de Roraima. A série busca refletir sobre a chegada do gado na região amazônica, o impacto causado nas comunidades indígenas e seus efeitos sociais, territoriais e políticos. É o caso da obra Vaca flechada (2013), de Amazoner Arawak (1973). Nela, o animal ferido pela flecha retrata a estratégia indígena de alertar os fazendeiros da região sobre os verdadeiros donos da terra. 

Em Uma vaca para um índio (2013), tela de Bartô (1969), o animal aparece simbolizando o roubo do território da aldeia pela agropecuária. Já na tela de Carmézia Emiliano (1960) Sem título (2012), o animal é retratado como o meio de subsistência da comunidade. Esbell reflete sobre essa ambiguidade simbólica na obra Maldita e desejada (2012), em acrílica sobre lona, onde uma vaca é representada com uma cabeça de demônio e tetas cheias de leite. Dialogando com essa série, há a tela The Sacred (2020), de Vernon Foster (1955), artista do povo Lakota, dos Estados Unidos, que traz a figura de um bovino, dessa vez o búfalo, para representar, em outro continente, as formas de dominação do homem branco.

Obras de artistas mulheres indígenas também integram a exposição, como a série de fotografias Joapya Yãmiy/Homem-Espírito (2019), de Sueli Maxakali (1976), que apresenta um ensaio poético sobre os rituais e as tradições ancestrais ligadas à figura da mulher nas aldeias. Em Joapya Mãgutxi Pataxó: pegando ouriço (2014), série fotográfica de Arissana Pataxó (1983), a artista representa de forma afetiva os rituais de coleta de alimentos na aldeia. Já a obra Kumurô (2021), de Daiara Tukano (1982), apresenta em grafias coloridas os símbolos da tradição do povo Tukano que remetem à sabedoria da medicina da floresta.

Outro conjunto de obras reflete sobre as formas de relação com a natureza, como em Festa na floresta (1998), desenho de Ailton Krenak (1953) feito em tinta acrílica e urucum, onde o artista retrata a mata sendo celebrada pela comunidade indígena com festividades. Outro núcleo se dedica ao xamanismo, com obras de artistas e xamãs. Entre eles, a tela de Jaider Esbell, Txaísmo (2019).

Moquém_Surarî: Arte Indígena Contemporânea reflete sobre as implicações políticas, as poéticas e as cosmogonias da arte indígena, revelando as camadas de ativismo e xamanismo presente nas obras. A mostra ainda colabora com a circulação de artistas indígenas brasileiros e com pesquisas sobre a arte contemporânea.

Nota

1. Sobre o conceito de “arte indígena contemporânea” ver: ESBELL, Jaider. A arte indígena contemporânea como armadilha para armadilhas. Galeria Jaider Esbell, 9 jul. 2020. Disponível em: http://www.jaideresbell.com.br/site/2020/07/09/a-arte-indigena-contemporanea-como-armadilha-para-armadilhas/. Acesso em: 3 nov. 2023.

Ficha Técnica

Abrir módulo

Exposições 1

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 13

Abrir módulo

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: