Jaider Esbell

Jaider Esbell, 2018
Texto
Jaider Esbell Macuxi (Normandia, Roraima, 1979 - São Paulo, São Paulo, 2021). Artivista. Ativista sócio-cultural indígena, Esbell constrói em sua produção conexões entre os valores comunitários de sua etnia, a Makuxi, e as romantizações brancas sobre as culturas indígenas, colocando em xeque a relação uníssona das apropriações culturais.
Gradua-se com dupla titulação (bacharelado e licenciatura) em geografia pela Universidade Federal de Roraima em 2008, e obtêm especialização em MBA em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável pela mesma instituição em 2010. Trabalha como técnico eletricista em linha de transmissão na Eletrobras até 2020, quando passa a se dedicar exclusivamente às carreiras artística e de produtor cultural. Transforma seu ateliê em uma galeria de arte indígena e centro cultural, com o nome de Galeria de Arte Indígena Contemporânea, que se torna um pólo de propagação de ações e seminários sobre arte indígena, organizados por Esbell desde 2013.
Em 2010, é contemplado pelo edital de literatura da Bolsa Funarte de Criação Literária e publica o livro Terreiro de Makunaima – Mitos, Lendas e Estórias em Vivências (2012). Nele, Esbell se coloca como um dos netos de Macunaíma, divindade solar da cultura Makuxi que se torna um herói mítico alçado à popularidade do panteão modernista pelo escritor Mário de Andrade (1893-1945). Esbell conclama nesse livro uma retomada da figura de Macunaíma, para ser visto não mais como malandro e oportunista, mas sim como um estrategista de culturas que elabora táticas de adaptabilidade e de negociação com um mundo atravessado por choques culturais.
Esbell afirma nessa obra que sua existência como artista e como articulador cultural ocorre dentro de um processo bastante crítico sobre as práticas de decolonização, apropriação cultural, cultura cristã monoteísta, a monocultura, a globalização, e demais dilemas que afrontam diretamente o modo de vida e a visão de mundo de seu povo. Para Esbell, seu lugar como artista e agente cultural vem de uma ampla valorização do termo arte indígena do início do século XXI.
Lança de maneira independente o livro Tardes de Agosto, Manhãs de Setembro, Noites de Outubro (2013). Nessa obra, Esbell articula narrativas cosmogônicas de sua etnia com elementos autobiográficos que salientam os choques culturais e a apropriação narrativa pelas práticas colonialistas.
É também em 2013 que Esbell passa a trabalhar com pintura, desdobrando-a eventualmente para a performance, mas mantendo o referencial cosmogônico como norte de seus temas e soluções formais. São telas e desenhos em sua maioria de cores saturadas, em composições cromaticamente contrastantes, intensificadas pelo uso requintado das padronagens e tessituras lineares, já consagradas pela produção artefatual dos povos originários. Há uma prevalência de fundos em tons escuros, entre marrons, pretos e vermelhos, com poucas inserções de cores mais luminosas, e que servem como uma plataforma de projeção das imagens lineares e pontilhistas em cores vibrantes.
Na tela Maikan e Tukui (Raposas e Beija-flores), de 2020, mesmo sendo possível identificar algumas figuras animais e vegetais, toda a composição da cena se metamorfoseia em uma trama colorida e vibrante de fundo escuro, e as figuras são construídas numa tessitura linear em que muitas vezes seus contornos e limites se confundem, se camuflam.
Esbell cria imagens onde tipos animais, animistas e vegetais não ocupam de modo algum um lugar ornamentativo ou estático nas composições e narrativas de sobreposição temporal não linear, mas se apresentam como entidades cosmogônicas que ora afirmam os valores das comunidades indígenas, ora se materializam como prenúncios de futuros trágicos, seguindo a tradição da vidência-política de Davi Kopenawa Yanomami (1956).
O protagonismo desses fundos escuros e saturados de massas de cor abrem espaço para tessituras mais claras na exposição individual do artista na Galeria Millan em São Paulo, em 2021, que leva o nome de Apresentação: Ruku. Num misto de continuidade de uma pesquisa comunitária e de homenagem à sua mãe adotiva e pajé Bernaldina José Pedro (1945-2020), conhecida como Vovó Bernaldina, militante e religiosa na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, Esbell apresenta o Ruku, conhecido como Jenipapo, como uma entidade xamânica de cura e de projeção de mundos, utilizando nas peças os mesmos recursos gráficos e narrativos cosmogônicos, enlaçados dessa vez pelo gesto performático e ritualístico de pintura corporal – um dos usos do pigmento obtido pelo Ruku.
Ao longo de sua trajetória como artista, Jaider Esbell assume não apenas uma posição de representante das linhas estético-históricas das culturas originárias, mas também a função de articulador político-cultural, organizando e promovendo eventos artísticos, educativos e militantes, no âmbito das lutas por demarcação de terras indígenas, de resistência às práticas de apropriação cultural e demais violências sistêmicas contra seu povo.
Obras 1
A árvore de todos os saberes
Espetáculos 1
Exposições 46
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5/12/2011 - 16/12/2011
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2011 - 2011
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2011 - 2011
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2/4/2012 - 30/4/2012
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16/5/2012 - 31/5/2012
Links relacionados 2
Fontes de pesquisa 9
- 34ª BIENAL Internacional de São Paulo. São Paulo: Fundação Bienal, 2020. Exposição realizada no período de 4 set. 2020 a 5 dez. 2021. Disponível em: http://34.bienal.org.br/exposicoes/7311. Acesso em: 15 jul. 2021.
- ABERTO/02. São Paulo: Casa Domschke, 2023. Disponível em: https://www.aberto.art/. Acesso em: 05 jul. 2024.
- DAMA, Juliana. Morre de coronavírus Vovó Bernaldina, mestra indígena da cultura Macuxi que teve encontro com o Papa. O Globo, 24 jun. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2020/06/24/morre-vitima-do-coronavirus-vovo-bernaldina-mestra-indigena-da-cultura-macuxi-que-teve-encontro-com-o-papa-luto-universal.ghtml/. Acesso em: 25 jul. 2021.
- GALERIA Jaider Esbell. Sobre o artista. Disponível em: http://www.jaideresbell.com.br/site/sobre-o-artista/. Acesso em: 29 out. 2020.
- GALERIA de Arte Indígena Contemporânea Jaider Esbell. C&América Latina. Disponível em: https://amlatina.contemporaryand.com/pt/places/jaider-esbell-contemporary-indigenous-art-gallery/. Acesso em: 29 out. 2020.
- GARCIA, Giulia. Jaider Esbell e uma apresentação através do jenipapo. In: Revista Arte Brasileiros, 23 mar. 2021. Disponível em: https://artebrasileiros.com.br/arte/exposicoes/apresentacao-ruku-jaider-esbell-galeria-millan/. Acesso em: 22 jul. 2021.
- JAIDER Esbell. Prêmio PIPA, [Rio de Janeiro], 2023. Disponível em: https://www.premiopipa.com/pag/jaider-esbell/. Acesso em: 29 out. 2020.
- MIBIELLI, Roberto. CAMPOS, Sheila Praxedes Pereira. JOBIM, José Luís. Jaider Esbell, Makunaima/Macunaíma e a Arte/Literatura Indígena. In: Revista Brasileira de Literatura Comparada, n. 38, 2019. Disponível em: https://revista.abralic.org.br/index.php/revista/article/view/545. Acesso em: 10 ago. 2021.
- MOQUÉM_Surarî: arte indígena contemporânea. São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo, 2021. Disponivel em: https://mam.org.br/exposicao/moquem_surari-arte-indigena-contemporanea/. Acesso em: 23 ago. 2021.
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JAIDER Esbell.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa641366/jaider-esbell. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7