Alcione
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Projeto Nobre Negro, 2015
Alberto Pereira, Alcione
Colagem digital
Texto
Alcione Dias Nazareth (São Luís, Maranhão, 1947). Cantora, instrumentista. Alcione é uma das intérpretes mais aclamadas do samba e, ao mesmo tempo, uma voz importante da música romântica brasileira. O timbre extremamente grave é um diferencial e seu estilo vocal também se caracteriza por muita improvisação, o que lhe permite interferir com naturalidade na melodia das canções que interpreta, adicionando notas inexistentes originalmente e variando o timbre.
Entre as suas principais referências estão as brasileiras Angela Maria (1929-2018) e Núbia Lafayette (1937-2007) e as estadunidenses Ella Fitzgerald (1917-1996) e Sarah Vaughan (1924-1990). Seu pai, o militar João Carlos Dias Nazareth (1911-1986), atua como maestro da banda da Polícia Militar e da Orquestra Jazz Guarani e a estimula. Alcione toca clarinete, saxofone e trompete desde criança e logo aprende também a ler música ao auxiliar o pai a transcrever partituras. Já aos nove anos, apresenta-se como cantora no programa Hora dos Calouros, da Rádio Difusora de São Luís. Volta a cantar em público aos 17 anos quando o cantor oficial da Orquestra Jazz Guarani não comparece a uma apresentação e é substituído por Alcione.
Forma-se professora na Escola de Curso Normal e leciona por dois anos na Escola São Luís, na capital maranhense. É demitida quando toca trompete para os alunos em sala de aula. Decide, então, se mudar para o Rio de Janeiro em 1967, onde começa a cantar em boates como Little Club, Holliday, Porão 73, Bolero, Bacarat, Preto 22 e Alaska. O cantor Jair Rodrigues (1939-2014), então, recomenda a cantora ao compositor e violonista Roberto Menescal (1937), diretor artístico da Philips, que estava à procura de uma intérprete de samba para rivalizar com artistas de sucesso no período, como Beth Carvalho (1946-2019), Clara Nunes (1942-1983) e Martinho da Vila (1938).
A Voz do Samba, seu primeiro álbum lançado em 1975, promove um passeio pelo gênero, com músicas de compositores consagrados como Candeia (1935-1978), Ismael Silva (1905-1978) e Zé Keti (1921-1978). O grande sucesso do disco é “Não Deixe o Samba Morrer”, da dupla Edson Conceição (1937) e Aloísio Silva (1939-1981). A música fica mais de 20 semanas nas paradas de sucesso e abre os caminhos para a consagração de Alcione. Na década de 1970, lança mais quatro álbuns, todos focados no samba: Morte de um poeta (1976), Pra que chorar (1977), Alerta geral (1978) e Gostoso veneno (1979).
A partir de Gostoso veneno, Alcione dá visibilidade a compositores oriundos da roda de samba Cacique de Ramos, celeiro de sambistas cariocas, de onde surge intérpretes e compositores como Zeca Pagodinho (1959), Almir Guineto (1946) e Arlindo Cruz (1958), além do grupo Fundo de Quintal. Já em Alerta geral, a música “Pode Esperar”, indica a predileção pela cantora pelas músicas românticas, caminho que seguirá a partir da década de 1980 e que aos poucos começa a substituir o samba de raiz no foco do repertório da cantora. A herança como cantora de grupos da noite carioca, então, aparece com mais evidência e ela torna-se uma das melhores vozes para embalar canções sobre ciúmes, traições amorosas, abandono e paixão. No que diz respeito ao instrumental de suas canções, estes associados ao samba, como pandeiro e cavaquinho, começam a conviver com arranjos orquestrados de cordas e os teclados em primeiro plano.
Entre 1985 e 1987, lança uma sequência de sucessos nessa linha romântica: “Garoto Maroto” (Franco e Marcos Paiva), “Meu Vício é Você” (Carlos Colla e Chico Roque), “Ou Ela ou Eu” (Flávio Augusto e Carlos Rocha) além de “Estranha Loucura” e “Nem Morta”, ambas da dupla Michael Sullivan (1950) e Paulo Massadas (1950).
“Estranha Loucura”, gravada no disco Nosso nome - Resistência, de 1987, é um exemplo de personagem feminina submissa a qual ela dá voz, sobretudo nos anos 1980. diz a letra: “minha estranha loucura / é correr pros teus braços quando acaba uma briga / te dar sempre razão / e assumir o papel de culpada bandida”;
A guinada na estética musical é acompanhada também por uma mudança na imagem da cantora, que aposta a partir de então na sensualidade para estampar as fotos de capa dos discos. Em todos os discos que lança nos anos 1980, ela aparece retratada em close e com os ombros à mostra. Nota-se também uma expansão para outros gêneros como xote, baião e bolero.
Nos anos 1990, a cantora acompanha a tendência de sucesso do pagode e participa dos álbuns de artistas associados ao gênero como Só Pra Contrariar, Belo (1974), Grupo Raça e Art Popular. Em 1997, dedica um álbum inteiro a esta geração. Valeu traz o subtítulo “Uma Homenagem à Nova Geração do Samba” e o repertório destaca duas composições de Leandro Lehart (1972), do Art Popular: "Valeu Demais" e "Telegrama".
É interessante notar que, a partir dos anos 2000, as letras que ela canta acompanham as reinvidicações do movimento feminista e a personagem submissa dá lugar a uma mulher empoderada. “Maria da Penha” (Paulinho Rezende e Evandro Lima), que ela grava em 2007 no álbum De tudo que eu gosto, traz os versos: “comigo não, violão / na cara que mamãe beijou / Zé Ruela nenhum bota a mão / se tentar me bater, vai se arrepender”.
Alcione surge como intérprete de samba e, aos poucos, expande o repertório para outros gêneros, consagrando-se como cantora romântica. Na ativa desde os anos 70, a cantora é, ao mesmo tempo, uma das intérpretes femininas mais importantes do samba e uma das vozes mais conhecidas da música brasileira no cancioneiro relacionado às relações afetivas.
Obras 1
Projeto Nobre Negro
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 2
- ESPECIAL Marrom 70. Maranhão, TV Mirante, 2017. (30 min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Owest9xl3Oc. Acesso em: 10 out. 2022.
- LEONARDO, Bruno. Canto de Rainhas – O Poder das Mulheres que Escreveram a História do Samba. Pará: ICBS, 2013.
Como citar
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ALCIONE.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa643451/alcione. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7