Pedro Bloch
Texto
Biografia
Pedro Bloch (Jitomir, Ucrânia, 1914 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004). Médico foniatra, escritor, jornalista, dramaturgo e compositor. Autor de cerca de 30 peças encenadas, algumas de incontestável popularidade. Elogiado por sua carpintaria teatral, ressalta valores humanistas revestindo-os com um jogo de cena melodramático, de inegável empatia com o grande público.
Sua família deixa a Ucrânia e se instala na cidade do Rio de Janeiro quando Bloch ainda é criança. Aos 23 anos, forma-se na Faculdade Nacional de Medicina. Em parceria com Roberto Ruiz, escreve O Grande Alexandre, encenada em 1947 pela Companhia Déa-Cazarré, no Teatro Regina, Rio de Janeiro, e em 1948, no Teatro Boavista, em São Paulo.
Pedro Bloch atua como diretor teatral do Pen Clube do Brasil, local de estreia de As Mãos de Eurídice, em 1950, seu primeiro grande sucesso como autor. O monólogo é protagonizado por Rodolfo Mayer, que se consagra no papel de Gumercindo Tavares, o que o faz manter o espetáculo em seu repertório em quase toda a sua carreira artística. A peça torna-se, posteriormente, um fenômeno mundial pela enorme quantidade de representações, nas quais se destacam intérpretes famosos como o espanhol Enrique Guitart e o italiano Marcello Moretti, do Piccolo Teatro di Milano. Na Inglaterra, a peça é produzida por Sean Connery. Nos Estados Unidos é levada com o título Conscience, em 1952, no Booth Theatre, na Broadway, com atuação de Maurice Schwartz.
A Camisola do Anjo, peça em co-autoria com Darcy Evangelista, dirigida por Esther Leão (1892-1971), no Teatro Rival, em 1950, conta a história de uma viúva recente, assediada por um novo pretendente. O marido volta à terra, como anjo, para perturbar seu sucessor. Em Os Inimigos Não Mandam Flores, estreada em 1951, no Teatro Serrador, com direção de Graça Mello (1914-1979), Bloch compõe um psicodrama vivido por um casal. Na França, as atrizes Edith Piaf, Juliette Greco e Marina Vlady, fazem-na conhecida como a "peça dos divórcios", pois todas acabam por se divorciar no período dos ensaios.
Em 1951, Irene é montada pela Companhia Dulcina-Odilon e Um Cravo na Lapela é levada pelos Os Artistas Unidos, no Teatro Copacabana. No mesmo ano são representadas mais duas peças, ambas protagonizadas, com êxito, por Procópio Ferreira (1898-1979): Morre um Gato na China, na qual há uma cena em que o ator apaga o cigarro na sola do sapato, cumprindo à risca a indicação da rubrica no texto, e Esta Noite Choveu Prata, um monólogo que lhe dá a oportunidade de compor três tipos diferentes, unidos pela mesma história, o português Francisco Rodrigues, o maestro italiano Pietro Bonardi e o ator Camilo. Uma nova temporada da peça, realizada em 1957, no Teatro Serrador, acaba transformando o espetáculo no segundo carro-chefe de Procópio Ferreira, que totaliza mais de mil representações.
Eva Todor (1920) estreia A Mancha, com direção de Willy Keller, no Teatro Serrador, em 1952, ano em que Bloch emplaca outro sucesso, Dona Xepa, com Alda Garrido (1896-1970) no papel-título. A peça lota o Teatro Rival por três temporadas consecutivas e acaba virando filme em 1959. Segundo Décio de Almeida Prado (1917-2000), Bloch foi desinibido comercialmente, "não tanto por amor à bilheteria", pois como médico "não dependia do palco - mas porque seus limites, como pensador e como especialista em teatro, coincidiam exatamente com os do grande público. Ele nunca hesitou em compor peças sob medida para determinadas personalidades ou em imaginar situações carregadas de melodramaticidade, abrindo as comportas para o histrionismo latente em tantos atores, mesmo entre os maiores".1
Em 1955, a peça Leonora é montada pela Companhia Dulcina-Odilon e também vai para o cinema, com roteiro de Bloch, com título Leonora dos Sete Mares. Os estudos, que conclui na Escola Nacional de Música, possibilitam que o autor se dedique à composição de músicas para algumas de suas peças, entre elas Uma Flauta para o Negro - também conhecida como Mulher de Briga - dirigida por Delorges Caminha, em 1955. Para Soraia, Posto 2, compõe uma marcha-rancho com Ary Barroso. Encenada por Léo Jusi (1930), em 1963, a peça trata dos sonhos e da realidade dos operários de uma construção.
Brasileiros em Nova York, com Henriette Morineau (1908-1990), e Miquelina, com Alda Garrido, são montadas, respectivamente, pelos diretores José Maria Monteiro (1923-2010) e Léo Jusi, em 1959. Segundo o crítico Yan Michalski (1932-1990): "As comédias e os dramas de costumes de Pedro Bloch captam com certo dom de observação personagens e cacoetes do cotidiano carioca; e o grande público, na época do lançamento dos seus grandes êxitos, não se chocava com os aspectos piegas e novelescos da sua dramaturgia. Um dos seus textos mais enxutos é o ato único Procura-se uma Rosa, que em 1961, junto com peças homônimas de Vinicius de Moraes e Glaucio Gill, inaugurou o Teatro Santa Rosa",2 em Ipanema. As peças, cujo argumento fundamenta-se em uma notícia de jornal, são remontadas, em 1965, para outra inauguração, a do Teatro Miguel Lemos, em Copacabana.
Sorriso de Pedra, outro de seus monólogos, é interpretado por Henriette Morineau, no Teatro Dulcina, no Rio de Janeiro, em 1961, no Teatro Oficina, em São Paulo, em 1962. No Rio de Janeiro, Roleta Paulista estreia, em 1963, e Amor a Oito Mãos entra em cartaz em 1964 ambas dirigidas por Fábio Sabag.
Encenada em 1966, por João Bethencourt (1924-2006), Os Pais Abstratos aborda os conflitos entre os jovens e seus pais. Em 1967, estreia na capital mineira O Pecado Imortal, com direção de Carlos Alberto, que contracena com Yoná Magalhães. Depois de assistir ao mesmo espetáculo, em 1968, no Teatro Serrador, Yan Michalski constata uma nova fase no trabalho autoral de Pedro Bloch: "Dentro dos seus limites de passatempo, a comédia - bastante pouco cômica, diga-se de passagem - é de uma respeitável eficiência e comprova um domínio extremamente seguro dos instrumentos de trabalho que Pedro Bloch alcançou agora como dramaturgo-artesão. Não hesito mesmo em afirmar que poucos autores brasileiros seriam, hoje em dia, capazes de criar uma peça tão bem feita, construída com tanta firmeza, apoiada em tantos efeitos eficientes e valorizada por um diálogo tão espontâneo e vivo. Por outro lado, Pedro Bloch confirma aqui uma tendência que já havíamos sentido em Os Pais Abstratos: um estilo mais seco e contido, um esforço no sentido de evitar ou pelo menos dosar mais cuidadosamente, o sentimentalismo óbvio, o mau gosto e o sensacionalismo fácil que invalidaram em grande parte muitas de suas peças anteriores".3
LSD e O Contrato Azul, duas peças curtas, apresentadas sequencialmente em dois atos, são dirigidas por Antonio do Cabo, em 1970. LSD tem seu título vetado pelo Juizado de Menores, por fazer menção subliminar às drogas. Bloch se recusa a mudar o título. Sua intenção é discutir o uso de drogas como fuga dos problemas do mundo moderno. Diante da inflexibilidade das autoridades, encerra o assunto limitando-se a colocar três pontos de interrogação - ??? - no lugar do título original.
Dona Xepa volta ao palco, em 1974, protagonizada pela atriz Vanda Lacerda (1923-2001). A remontagem é mal recebida pela crítica, que a considera de nostalgia anacrônica e não justificada. Três anos depois, a peça é adaptada para a televisão. A novela consagra a atriz Yara Côrtes, no papel de Xepa. Em 1975, a peça Karla, Valeu a Pena?, dirigida por Maurício Sherman, retrata os modismos mal digeridos e a liberdade de costumes que aparentemente, segundo o autor, se apoderam da mentalidade da família burguesa.
Paralelamente ao seu reconhecido desempenho na dramaturgia, Pedro Bloch é famoso por sua atuação como médico foniatra. Escreve livros científicos e infanto-juvenis e produz roteiros para o cinema, a maioria baseados em textos seus para o teatro e assina colunas nas revistas Manchete, Pais&Filhos e no jornal O Globo. É também autor de outras peças, como A Xícara do Imperador, Um Anão Chora Baixinho, Casal em Crise e A Profissão do Demônio ou O Quarto Vagabundo.
Para Bloch "só existe um gênero de teatro: o que se comunica intensamente com a plateia, o que extravasa o palco. [...] Quem não alcança esse tipo de diálogo deveria adotar outro gênero menos implacável, pois o teatro é a exposição da alma nua aos olhos e critério de mil juízes. Gênero é circunstancial".4
Notas
1 PRADO, Décio de Almeida. O teatro brasileiro moderno. 2ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1996.p.56.
2 MICHALSKI, Yan. Pedro Bloch. In: ______.PEQUENA Enciclopédia do Teatro Brasileiro Contemporâneo. Material inédito, elaborado em projeto para o CNPq. Rio de Janeiro, 1989.
3 MICHALSKI, Yan. Pecado Comercial. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 15 jun. 1968.
4 SANTOS, Nelson. O pecado imortal de Ioná e Carlos Alberto. Manchete, Rio de Janeiro, 2 set. 1967.
Espetáculos 50
Fontes de pesquisa 12
- BARCELLOS, Jalusa. O mágico da expressão: Procópio Ferreira. Rio de Janeiro: Funarte, 1999.______. Depoimento. In: DEPOIMENTOS II. Rio de Janeiro: Serviço Nacional de Teatro, 1981.
- ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Rosyane Trotta]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos. Não Catalogado
- FRASER, Etty. Etty Fraser. São Paulo: [s.n.], s.d. Entrevista concedida a Rosy Farias, pesquisadora da Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. Não Catalogado
- GUERINI, Elaine. Nicette Bruno & Paulo Goulart: tudo em família. São Paulo: Cultura - Fundação Padre Anchieta: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004. 256 p. (Aplauso Perfil). 792.092 G932n
- MAGALDI, Sábato. Panorama do teatro brasileiro. 4ª ed. São Paulo: Global, 1999.
- MICHALSKI, Yan. Pecado comercial. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 15 jun. 1968.
- PEDRO Bloch. Dossiê personalidades artes cênicas. Rio de Janeiro: Cedoc/Funarte, s.d.
- PRADO, Décio de Almeida. O teatro brasileiro moderno. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 1996. (Debates, 211).
- Programa do Espetáculo - Quem Tem Medo de Virginia Woolf? - 1965. Não catalogado
- SANTOS, Nelson. O pecado imortal de Ioná e Carlos Alberto. Manchete, Rio de Janeiro, 2 set. 1967.
- SOUSA, J. Galante de. O teatro no Brasil: subsídios para uma bibliografia do teatro no Brasil. Tomo II. Rio de Janeiro: MEC:INL, 1960.
- ______. Pedro Bloch. In: ______.PEQUENA Enciclopédia do teatro brasileiro contemporâneo. Material inédito, elaborado em projeto pra o CNPq. Rio de Janeiro, 1989.
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PEDRO Bloch.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa397530/pedro-bloch. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
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