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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Tetê Espíndola

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 29.08.2024
11.03.1954 Brasil / Mato Grosso do Sul / Campo Grande
Teresinha Maria Miranda Espíndola (Campo Grande, Mato Grosso do Sul, 1954). Cantora, compositora, instrumentista. Com seu repertório exótico e um timbre metálico, em que se destacam seus agudos extremos, desenvolve um estilo sem paralelo na música brasileira.

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Teresinha Maria Miranda Espíndola (Campo Grande, Mato Grosso do Sul, 1954). Cantora, compositora, instrumentista. Com seu repertório exótico e um timbre metálico, em que se destacam seus agudos extremos, desenvolve um estilo sem paralelo na música brasileira.

É reproduzindo o som de cachoeiras e pássaros de seu estado natal que desenvolve o gosto pela música, compartilhado pelos irmãos, autodidatas como ela. Aos 14 anos, é premiada em um festival local, ao interpretar a canção “Sorriso”, do irmão Geraldo. Em 1974, ganha uma craviola1, com a qual compõe sua primeira canção, “Fio de cabelo”. No ano seguinte, forma com os irmãos o grupo Luz Azul, que excursiona por Campo Grande e Cuiabá.

Muda-se para São Paulo, em 1977, onde encontra um ambiente propício para a divulgação de seu trabalho. Nessa época, um grupo composto por músicos de diferentes origens e propostas estéticas, mas sem inserção na indústria fonográfica, produzindo obra de caráter experimental e alternativo, assume a produção independente de seus álbuns. A imprensa da época chama o movimento de vanguarda paulista.

Reúne os membros do Luz Azul para gravar o LP Tetê e o lírio selvagem (1978), pela Philips, com canções como “Rio de luar” ou “Pássaro sobre o cerrado”. Mesmo iniciando sua carreira numa gravadora multinacional e com respaldo da grande mídia (a canção “Bem-te-vi” integra a trilha da novela Roda de fogo, da TV Tupi, em 1986), logo se identifica com a vanguarda paulistana, da qual se torna uma das principais expoentes.

Em 1980, lança pela Philips seu primeiro disco solo, Piraretã. Nesse disco, interpreta a faixa “Tamarana”, dos irmãos Arrigo Barnabé (1951) e Paulo Barnabé. Lança pelo selo independente Som da Gente o LP Pássaros na garganta (1982), pelo qual é premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).

Em suas primeiras composições, desenvolve um estilo singular, no qual gêneros regionais pantaneiros, como a polca e a guarânia, misturam-se ao folk rock e ao seu comportamento hippie. Mais tarde, aproxima-se da música urbana sem, no entanto, se afastar de suas origens.

Talvez em função de seu autodidatismo, muitas de suas melodias não são compostas no sistema tonal tradicional. “Fio de cabelo”, por exemplo, possui características modais. A uma harmonia de colorações impressionistas, arpejada na craviola, a artista sobrepõe uma melodia sem um centro tonal, o que provoca no ouvinte certo efeito hipnótico. “Alegria de cantarolar”, registrada em Tetê e o lírio selvagem, é um longo vocalise2 a quatro vozes, cuja melodia passeia por regiões tonais distantes, desorientando o ouvinte habituado à harmonia tradicional.

Suas letras trazem quase sempre um sentimento regional, sem, no entanto, serem regionalistas. Inspiradas na natureza do cerrado, suas primeiras composições chamam atenção para a ação do homem sobre as matas, antecipando a onda ecológica dos anos 1980. “Pássaro sobre o cerrado” critica a prática de aspersão de veneno sobre as plantações. Em “Caucaia”, denuncia o perigo da construção de um aeroporto na região da Mata Atlântica.

Pouco a pouco, sob influência da vanguarda paulista, o tom de denúncia cede espaço a imagens quase fotográficas, que remetem a paisagens do Pantanal e da Chapada dos Guimarães, bem como à cultura indígena da região, com o uso de palavras e topônimos em tupi. É o caso de “Piraretã”, gravada no disco homônimo, que apresenta uma colagem de elementos associados à floresta (“Jaguatirica / Lagarto tatu jabuti / Paca veado cobra/ Bichos que habitam as matas daquele lugar”) cantada sobre uma batida de rock.

A guinada em sua carreira ocorre em dezembro de 1985, com o hit “Escrito nas estrelas”, parceira de Arnaldo Black e Carlos Rennó (1956). Na voz de Tetê, a canção conquista o primeiro lugar no Festival dos Festivais da TV Globo. O disco mix3 homônimo, lançado às pressas pela Polygram, vende 50 mil cópias em uma única semana. Até então restrita a um público alternativo, a artista se consagra como estrela da MPB. Seu álbum seguinte, Gaiola (1986), conta com a participação de Ney Matogrosso (1941), Egberto Gismonti (1947) e Hermeto Paschoal (1936). Com bolsa da Fundação Vitae, realiza pesquisa sobre o canto dos pássaros amazônicos, que resulta no álbum independente Ouvir/Birds, de 1991. Seguem-se Só Tetê (1994), com canções de diversos autores, e Canção do amor (1995), álbum totalmente acústico.

Como intérprete, desenvolve um repertório eclético que inclui tanto composições suas e de seus parceiros, moldadas especialmente à sua voz, como regravações de clássicos da música popular brasileira, interpretados de forma bastante peculiar. É o caso, por exemplo, de “Judiaria”, valsa de Lupicínio Rodrigues (1914-1974) registrada no álbum Só Tetê. Para reforçar o caráter passional da letra, a cantora se vale de uma interpretação dramática, integrando ao canto inflexões típicas da fala – procedimento, aliás, utilizado por vários outros artistas da vanguarda paulista.

Em 1998, lança com Alzira Espíndola (1957), o álbum Anahí, que reúne clássicos da música regional que as irmãs ouviam na voz de sua mãe. Com o compositor francês Philippe Kadosch, grava em Paris o disco VozVoixVoice (2001), que explora percussividades vocais e sons onomatopaicos de aves e outros animais.

Cria o selo Luz Azul, pelo qual lança diversos álbuns, dentre os quais Fiandeiras do Pantanal (2002), em parceria com a poetisa Raquel Naveira (1957), e E va por ar (2007), somente com composições suas, algumas em parceria.

Com sua profunda ligação com a natureza, com as tradições populares e musicais de sua infância no Mato Grosso do Sul, bem como com seu lirismo e espírito vanguardista, Tetê Espíndola marca a história da música popular brasileira com suas interpretações e composições singulares, registradas em sua voz inconfundível. 

Notas

1. Instrumento projetado pelo violonista brasileiro Paulinho Nogueira (1927-2003). Semelhante a um violão de 12 cordas, porém com o bojo superior arredondado, seu timbre metálico remete às sonoridades do cravo e da viola.

2. Melodia vocal sem palavras.

3. Disco de vinil com formato de LP, contendo, porém, apenas uma faixa de cada lado.

Obras 1

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Exposições 1

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Fontes de pesquisa 3

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  • ESPÍNDOLA, Tetê. Site oficial da cantora. Disponível em: <www.teteespindola.com.br> Acesso em: 10 dez. 2012.
  • MURGEL, Ana Carolina A. de Toledo. Alice Ruiz, Alzira Espíndola, Tetê Espíndola e Ná Ozzetti: produção musical feminina na Vanguarda Paulista. Dissertação de mestrado. Campinas, IFCH-UNICAMP, 2005.
  • SANTIAGO, Ricardo. "'Eu sonhava e via tudo'. Entrevista com Tetê Espíndola". Oralidades. São Paulo, NEHO-USP, n. 1, p. 151-161, 2007.

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