Lupicínio Rodrigues

Lupicínio Rodrigues
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Lupicínio Rodrigues (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 1914 - Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 1974). Compositor e cantor. Suas composições o consagram como nome referencial na formação da música popular brasileira da primeira metade do século XX, destacando-o como um dos principais representantes do samba-canção.
Aos sete anos, é matriculado no Colégio São Sebastião da Congregação dos Irmãos Maristas, onde tem os primeiros contatos com a linguagem musical. Fervoroso torcedor do Grêmio, compõe o hino oficial do clube gaúcho.
Muito jovem, compõe para os blocos carnavalescos de seu bairro. A inclinação para a boêmia preocupa o pai, que resolve matriculá-lo como voluntário no Exército. Com 16 anos, torna-se soldado do 7º Batalhão de Caçadores de Porto Alegre. Durante a fase do quartel, que termina em 1935, canta em conjuntos musicais e vence um concurso com a marchinha Carnaval, escrita para o cordão carnavalesco Prediletos. Entre 1935 e 1947, é bedel na Faculdade de Direito de Porto Alegre.
Lupicínio começa sua trajetória no canto antes de tentar a composição. Seu ídolo é Mário Reis (1907-1981), cantor que surge nos anos 1930, quando novos recursos técnicos, como a gravação elétrica, favorecem o surgimento de cantores de voz miúda, cuja interpretação aproxima-se de um canto coloquial, quase falado. Essa tradição inaugurada por Reis desemboca na bossa nova de João Gilberto e Nara Leão. O cantor Lupicínio, muito antes da bossa nova, filia-se a essa linhagem: sua voz de tenor de pouca extensão inspira-se nessa forma de cantar baixinho.
Sem dominar a linguagem formal da música e tocar instrumentos, tem apenas a voz para compor suas canções. Estas, afirma Lupicínio, fundam-se em experiências vividas por ele próprio ou por seus amigos, sempre ligadas à traição, ao desencanto, à paixão, aos dramas do amor.
O impulso para sua carreira de compositor surge com a premiação no concurso em comemoração ao centenário da Revolução Farroupilha, em 1935. Em parceria com o cantor Alcides Gonçalves, da Rádio Farroupilha, compõe a música vencedora: o samba Triste História. A partir daí, a dupla é responsável por outros sucessos, como Quem Há de Dizer (1948) e Cadeira Vazia (1950), que são gravadas por Francisco Alves (1898-1952), e Castigo (1953), gravada por Gilberto Milfont (1922), em 1953.
Lupicínio atribui aos marinheiros que frequentam os cabarés de Porto Alegre a difusão de suas músicas em outras capitais brasileiras. Se Acaso Você Chegasse (1938), composta em parceria com Felisberto Martins (1904-1980), chega ao Rio de Janeiro por essa via, sendo gravada pelo cantor carioca Ciro Monteiro (1913-1973). Em 1939, Lupicínio desembarca pela primeira vez nessa cidade. Ali, tem contato com importantes cantores, momento no qual aproxima-se de Francisco Alves, um de seus principais intérpretes.
O compositor investe na tradução do universo da boêmia, e sua lira busca narrar as dores dos desencontros amorosos e desilusões do amor, temas sempre presentes no universo boêmio. Vingança, seu maior sucesso, lançado pela rainha do rádio Linda Batista, em 1951, torna-se símbolo de tal estilo. A música bate recordes de venda e consagra o nome do compositor nacional e internacionalmente, sendo gravada em ritmo de fado, bolero e tango. Representante do sentimentalismo romântico da época, o samba torna-se sucesso em todo o Brasil. O próprio compositor o grava em seu primeiro álbum, Roteiro de um Boêmio, em 1952.
No decorrer de sua carreira, exerce o cargo de representante da Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Músicas (Sbacem). Seus sambas se filiam à música de Noel Rosa (1910-1937), mas apresentam novas modulações, que apontam para a moderna música popular brasileira. O samba Último Desejo, de Noel Rosa, é uma referência para Lupicínio. Outra influência é Joubert de Carvalho (1900-1977), autor de valsas, tangos, marchinhas e sambas, como Maringá [com Olegário Mariano (1889-1958)] e Pra Você Gostar de Mim (Taí).
Entre as décadas de 1950 e 1960, o compositor sai de cena. A bossa nova, a música engajada e o rock eclipsam seu samba-canção. Mesmo assim, ele continua traçando seu roteiro de boêmio. Entre 1963 e 1964, escreve semanalmente no jornal Última Hora, em que narra histórias da boêmia de Porto Alegre, além de comentar suas músicas. Em 1970, é redescoberto pelos tropicalistas, quando grava dois LPs: Dor de Cotovelo, lançado em 1973, pelo selo Rosicler/Chantecler, e Lupicínio Rodrigues, de 1974, pelo selo Copacabana. Nos dois discos, interpreta seus clássicos, como Vingança, Nunca, Felicidade, e canções inéditas, como Inah. Por essa época, faz uma série de shows, como o realizado no Teatro Opinião, em outubro de 1973, no Rio de Janeiro.
Tanto as linhas melódicas de suas composições quanto a poética de suas letras contribuem para renovar a canção romântica brasileira. Chega a compor mais de 600 músicas, das quais são gravadas por volta de 150, por artistas como Elis Regina (1945-1982), com Cadeira Vazia, em 1974, Gilberto Gil (1942), com Esses Moços (Pobres Moços), em 1981, e Paulinho da Viola (1942), com Nervos de Aço, em 1985.
Lupicínio Rodrigues contribui para a consolidação do samba-canção e torna-se um dos principais representantes do sentimentalismo boêmio, especialmente das décadas de 1940 e 1950.
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 6
- CAMPOS, Augusto de. "Lupicínio Esquecido?". In: Balanço da Bossa e outras bossas. São Paulo, Perspectiva, 1993.
- CAMPOS, Augusto de. "O criador da dor-de-cotovelo". In: Nova História da Música Popular Brasileira - Lupicínio Rodrigues. São Paulo, Abril Cultural, 1970.
- Fontes de Pesquisa.
- GONZALEZ, Demosthenes. Roteiro de um boêmio: vida e obra de Lupicínio Rodrigues. Porto Alegre, Sulina, 1986.
- MATOS, Maria Izilda S. de e FARIA, Fernando A. Melodia e sintonia em Lupicínio Rodrigues: o feminino, o masculino e suas relações. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1996.
- RODRIGUES FILHO, Lupicínio (Org.). Foi assim: o cronista Lupicínio Rodrigues. Porto Alegre, L&PM, 1995.
Como citar
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LUPICÍNIO Rodrigues.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa6600/lupicinio-rodrigues. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7