Sergio Reis
Texto
Sérgio Bavini (São Paulo, São Paulo, 1940). Cantor, compositor e ator. Nasce na Zona Norte de São Paulo, em família de ascendência italiana. Na adolescência, trabalha com o pai na fábrica de papelão do avô. Juntos, em companhia do tio Henriquinho, ouvem regularmente na Rádio Nacional o programa Na Beira da Tuia, apresentado por Tonico (1917-1994) & Tinoco (1920-2012). Ganha de presente uma viola Giannini e, aos 16 anos, frequenta programas de calouros no rádio e na televisão, interpretando modas caipiras, boleros e canções italianas.
Influenciado pelo rock estadunidense de Elvis Presley (1935-1977), Neil Sedaka (1939) e Paul Anka (1941), assume o nome artístico de Johnny Johnson. Depois, adota o sobrenome materno e passa a ser conhecido como Sérgio Reis. Estreia em disco em 1961, com o bolero “Enganadora” (Umberto Silva, Luis Mergulhão e Souza Lima), e o rock balada “Será” (Valdemar Garcia). Em meados da década de 1960, aproxima-se de artistas da jovem guarda e desponta como compositor. Compõe canções para Jerry Adriani (1947-2017), Golden Boys, Os Vips, Deny (1941) & Dino (1942-1995) e Nalva Aguiar (1945). Frequenta o programa televisivo de Roberto Carlos (1941) e Erasmo Carlos (1941) e o de Eduardo Araújo (1945). Em 1967, lança seu primeiro LP, com o sucesso “Coração de Papel”, de sua autoria, e “Amor Nada Mais”, adaptação de Fred Jorge (1928-1994) para a canção “Here, There And Everywhere” [John Lennon (1940-1980) e Paul McCartney (1942)].
Cinco anos depois, lança “O Menino da Gaita”, versão para música do espanhol Fernando Arbex (1941-2003) e regrava o cururu “O Menino da Porteira” [Teddy Vieira (1922-1965) e Luizinho (1916-1983)], originalmente lançado em 1955. A partir desse momento, Sergio Reis dedica-se ao repertório caipira, contribuindo para a renovação do gênero.
A consagração na música abre espaço para o trabalho como ator. Com estilo vaqueiro – chapéu, botas e berrante a tiracolo –, atua com destaque nos filmes O Menino da Porteira (1977) e Mágoa de Boiadeiro (1978), ambos de Jeremias Moreira Filho (1942), e Filho Adotivo (1984), de Deni Cavalcanti (1950). Na televisão, trabalha nas novelas Paraíso (Globo, 1982), Pantanal (Manchete, 1990), O Rei do Gado (Globo, 1996), Canaviais da Paixão (SBT, 2003) e Bicho do Mato (Record, 2006).
Com discografia de mais de 60 títulos, vence duas vezes o Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música Sertaneja, em 2001 e 2009.
Análise
A obra de Sérgio Reis serve de trilha sonora para as transformações no ambiente rural brasileiro durante a segunda metade do século XX. No início da década de 1970, Reis direciona sua carreira como intérprete de canções caipiras tradicionais, especialmente a partir do disco Saudade da Minha Terra.
Com a modernidade musical inaugurada pela bossa nova, seguida do sucesso dos festivais de música e da jovem guarda, a música sertaneja termina a década de 1960 desvalorizada, mas tem apelo junto ao público interiorano. Sérgio descobre essa influência após um show em uma boate da pequena Tupaciguara, cidade do interior mineiro: o conjunto local agita a plateia com a interpretação de “O Menino da Porteira”.
A percepção de que há um gênero tradicional a ser reavivado resulta nas regravações de clássicos como “João de Barro” [Teddy Vieira e Muíbo Cury (1929-2009)], “Tristeza do Jeca” [Angelino de Oliveira (1888-1964)], “Saudade da Minha Terra” [Belmonte (1937-1972) e Goiá (1935-1980)] e “Chico Mineiro” (Tonico e Francisco Ribeiro).
Em um meio caracterizado por duplas sertanejas que cantam em terças, acompanhadas de viola e violão, Sérgio assume o microfone sozinho, dividindo o palco com sua banda. As músicas ganham arranjos com elementos do folk e da country music. A sonoridade envolve violas e sanfonas, bateria, contrabaixo e guitarra elétrica, amplificada por potentes equipamentos. O figurino assume o estilo de vaqueiro texano, distanciando-se do tipo caipira difundido nos filmes de Mazzaropi (1912-1981). No entanto, Sérigo Reis estabelece como marca registrada em suas apresentações o sopro do berrante, recorrendo a uma “raiz” sertaneja tipicamente brasileira.
Aos poucos, o repertório agrega baladas românticas, composições de apelo pop e temas bem-humorados, como “Panela Velha” (Moraezinho e Auri Silvestre) e “Pinga Ni Mim” (Elias Filho). Grava autores que renovam o gênero sertanejo, com destaque para o violeiro e compositor Almir Sater (1956), com quem assina “Peão de Boiadeiro” para a trilha da novela Pantanal, de 1990. Sua carreira desenvolve-se nos bailes de feiras agropecuárias e nas festas de rodeio que, durante o ano inteiro, mobilizam multidões em cidades de Minas Gerais, Mato Grosso, São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás.
Seu sucesso contribui para consolidar, em fins da década de 1970, a modernização da música caipira, ao lado de duplas consagradas como Léo Canhoto (1936) & Robertinho (1944) e Milionário (1940) & José Rico (1946-2015). Essas duplas abrem espaço para outros músicos que se destacam nas décadas seguintes, como Chitãozinho (1954) & Xororó (1957), Leandro (1961-1998) & Leonardo (1963) e Zezé Di Camargo (1963) & Luciano (1973).
Fontes de pesquisa 6
- ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Rosyane Trotta]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos. Não Catalogado
- INSTITUTO Memória Musical Brasileira. Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.memoriamusical.com.br. Acesso em: 18 out. 2012.
- NEPOMUCENO, Rosa. Música Caipira: da roça ao rodeio. São Paulo: Editora 34, 1999.
- SEVERIANO, Jairo. Uma história da música popular brasileira. São Paulo: Editora 34, 2008.
- SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 1: 1901-1957). São Paulo: Editora 34, 1997. (Coleção Ouvido Musical).
- SÉRGIO REIS. Site do artista. Disponível em: http://www.sergioreis.com.br. Acesso em: 18 out. 2012.
Como citar
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SERGIO Reis.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa359617/sergio-reis. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7