Leo Canhoto
Texto
Leonildo Sachi (Anhumas SP 1936). Cantor, compositor e produtor. Leo Canhoto recebe este apelido pelo fato de ser canhoto e inverter as cordas do violão para tocá-lo. Passa por muitas dificuldades na infância no interior do Paraná, o que o leva a tentar a sorte como músico em apresentações de circo. Com Maurinho, forma a dupla Maurinho e Zé Canhoto e participa de programas de rádio na Difusora de Londrina. Eles gravam apenas o disco Os Canarinhos do Sertão. Posteriormente, faz parte do trio Campanha, Leo Canhoto e Perigoso, que também não dura muito. Na mesma época, porém, Leo Canhoto começa a se destacar como compositor, com músicas gravadas por duplas como Zilo e Zalo, Pedro Bento e Zé da Estrada, Zico e Zeca; pelo trio Luizinho, Limeira e Zezinho, que canta Só para Mim, de 1963.
Leo Canhoto atua também como empresário e produtor de várias duplas, como Vieira e Vieirinha e Sulino e Marrueiro. Em 1969, conhece Robertinho1 numa temporada em Goiás e forma a dupla mais longeva: Leo Canhoto e Robertinho. Nesse ano, gravam o primeiro disco pela RCA Victor e, em 1972, se tornam a primeira dupla sertaneja a ganhar um disco de ouro devido ao sucesso do corrido Apartamento 37, de 1969, de Leo Canhoto.
Ele recebe, em 1976, do então presidente do Brasil, Ernesto Geisel, a medalha do brasão da República pela música O Presidente e o Lavrador, de 1975. Em 1978, escreve o argumento do longa-metragem Chumbo Quente, dirigido por Clery Cunha, em que atua - ao lado de Robertinho - como protagonista, e lança também um LP com as músicas do filme. No ano seguinte, a canção Motorista de Caminhão, de 1979, de sua autoria, é escolhida como trilha sonora do seriado Carga Pesada, da TV Globo.
A dupla Leo Canhoto e Robertinho se desfaz em 1983, e Canhoto segue carreira solo até 1989, quando voltam a cantar juntos, atuando até os dias de hoje. Frequentemente participam de trabalhos de outras duplas sertanejas que continuam a gravar as músicas de Leo Canhoto, como Chitãozinho e Xororó, que cantam o cateretê Vou Tomá um Pingão (1997), e Milionário e José Rico, que dão voz ao cateretê Último Julgamento (1997). Em toda sua carreira grava mais de 30 discos e dois DVDs, um deles fruto de sua participação no programa MPB Especial, de Fernando Faro.
Leo Canhoto aproveita o sucesso alcançado pela Jovem Guarda e busca uma nova musicalidade que mescle a tradicional música sertaneja com gêneros urbanos estrangeiros dos anos 1960, como o rock, o country e o iê-iê-iê. O próprio figurino da dupla que forma com Robertinho nesse período é inspirado no movimento hippie, com estilo exagerado, se apresentando com camisas de estampados psicodélicos abertas, e uma grande quantidade de medalhões e pulseiras. Como boa parte dos jovens contestadores da época, a dupla usa cabelos compridos, e aparecendo não em cavalos, mas em motocicletas, misturando trajes de couro de boiadeiro com trajes de roqueiro.
Para conquistar o público jovem das grandes cidades, introduz guitarra, baixo e bateria (formação de banda de rock) na música sertaneja. A dupla é produzida por Tony Campello - irmão de Cely Campello, uma precursora do rock no Brasil -, que também produz discos de música sertaneja de cantores ex-Jovem Guarda como Sérgio Reis. A guitarra passa a fazer a marcação de suas canções, como em Motorista de Caminhão (1979) e Segura a Peteca (1979). Algumas composições parodiam a Jovem Guarda, como em Meu Carango (1976), inspirada em O Calhambeque (1964), de Roberto Carlos (1941). No período do regime da ditadura militar (1964-1985), Leo Canhoto e Robertinho conquistam espaço no mercado fonográfico, com canções ufanistas e de apoio ao regime como, por exemplo, Minha Pátria Amada (1971).
Leo Canhoto, ao lado de Robertinho, compõe canções sertanejas com diálogos e efeitos sonoros variados, inspirados nos filmes de bangue-bangue italianos, chamados espaguete western, principalmente os estrelados por Clint Eastwood, muito em moda nos anos 1970, a exemplo de Moreira da Silva e Miguel Gustavo, que introduzem esses efeitos sonoros no samba na década anterior. A dupla brinca com o enredo desses filmes, aludindo a cavalos, tiros e brigas em salões, utilizando recursos de sonoplastia de radionovela, construindo diálogos nas músicas de briga entre heróis e bandidos, propondo finais moralistas, como em Jack, o Matador (1969), Homem Mau (1969), Rock Bravo Chegou para Matar (1970) e Buck Sarampo (1971). Em suas apresentações, enfim, a dupla atua com recursos cênicos de teatro, encenando essas músicas ao público.
Nota
1. José Simão Alves (Água Limpa, Goias, 1944) escolhe o nome artístico "Robertinho" por sua admiração por Roberto Carlos.
Fontes de pesquisa 6
- ARAUJO, Paulo César. Eu não sou cachorro não. Música popular cafona e a ditadura militar. Rio de Janeiro: Editora Record, 2002.
- BRÊDA, Lucas. Morre o cantor e compositor Léo Canhoto, que fez dupla com Robertinho, aos 84 anos. Folha de S.Paulo. 25 jul. 2020. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/07/morre-o-cantor-e-compositor-leo-canhoto-que-fez-dupla-com-robertinho-aos-84-anos.shtml. Acesso em: 29 jul. 2020
- LEO CANHOTO E ROBERTINHO. Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Cultural Cravo Albin. Disponível em: http://www.dicionariompb.com.br/leo-canhoto-e-robertinho. Acesso em: 12 set. 2011
- LEO CANHOTO E ROBERTINHO. Site Oficial da dupla. Disponível em: www.leocanhotoerobertinho.com.br. Acesso em: 12 set. 2011.
- MUGNAINI JÚNIOR. Ayrton. Enciclopédia das Músicas Sertanejas. São Paulo: Editora Letras e Letras, 2001.
- NEPOMUCENO, Rosa. Música Caipira: da roça ao rodeio. São Paulo: Editora 34, 1999.
Como citar
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LEO Canhoto.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa588667/leo-canhoto. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7