Eduardo Araújo
Texto
Biografia
Eduardo Oliveira Araújo (Joaíma, Minas Gerais, 1942). Cantor, compositor. Filho de Fazendeiro, passa a infância em sua cidade natal. Na adolescência, estuda em Belo Horizonte, época em que se encanta com o som de Bill Halley (1925-1981) e Elvis Presley (1935-1977). Passa a frequentar os ambientes musicais e canta em programas de rádio da capital mineira, sendo apelidado de O Rei do Rock de Minas.
Em 1960, vai para o Rio de Janeiro onde consegue espaço nos programas Os Brotos Comandam (TV Tupi e Rádio Guanabara), conduzido por Carlos Imperial (1935-1992), Alô Brotos (Rádio Mayrink Veiga) e Hoje é Dia de Rock, (TV Rio), os dois últimos apresentados por Jair de Taumaturgo.
Em 1961, lança seus primeiros discos: um 78 rpm contendo “Deixa o Rock” (de sua autoria) e “Diana me Deixou” (Alfredo Max/ Fernando Costa); um compacto duplo intitulado O Garoto do Rock e um simples. O último, com as canções “Maringá”, de Joubert de Carvalho (1900-1977), e “Prima Dayse” , de Carlos Imperial. Ainda lança outro 78 rpm, com “Twist do Brotinho” (Carlos Imperial) e “Rock Cha-Cha-Cha” (parceria com Imperial), sem muito êxito. Volta para Minas e trabalha na fazenda da família.
Entusiasmado com a repercussão da jovem guarda, retorna ao Rio de Janeiro em 1966, quando grava “O Bom” (Carlos Imperial), seu primeiro sucesso, acompanhado pelo grupo The Fevers. Nesse mesmo compacto, registra “De Papo pro Á”, clássicos da música rural de Joubert de Carvalho (1900-1977) e Olegário Mariano (1889-1958), e “Chuá Chuá”, de Pedro Sá Pereira (1892 - 19--) e Ari Pavão. No ano seguinte, comanda na TV Excelsior o programa O Bom, dividindo a apresentação com a cantora Silvinha (1951-2008), com quem se casa em 1969 e tem dois filhos.
Suas canções, a maioria em parceria com Carlos Imperial ou Chil Deberto, começam a ser gravadas por outros artistas, a exemplo de: Roberto Carlos (1941),“Com Muito Amor e Carinho”; Erasmo Carlos (1941), “Vem quente que eu estou fervendo”; Wanderléa (1946), “Pra Ganhar seu Coração”; Sergio Reis (1940), “Solidão”; Waldirene (1948), “Garota do Roberto” e Vanusa (1947), “Pra nunca mais chorar”.
A partir do final dos anos 1970, divide-se entre a vida artística e as atividades de fazendeiro. Na década de 1990, apresenta os programas Pé na Estrada (SBT) e Brasil Rural (Bandeirantes).
Em sua discografia individual, contabiliza 13 álbuns, lançados nos formatos LP e CD. Com Silvinha, assina outros três discos, o último deles o CD/DVD 40 Anos de Jovem Guarda (2006).
Análise da trajetória
Pioneiro do rock nacional, Eduardo Araújo mantém-se fiel ao gênero ao longo de sua carreira, que envereda por estilos como soul music e country rock. É um dos expoentes da movimentação cultural brasileira, em meados da década de 1960, conhecida como jovem guarda.
Do mesmo modo que Erasmo Carlos e Carlos Imperial, Araújo ostenta uma postura de rebeldia, investindo contra o puritanismo, a moral e os bons costumes da família brasileira tradicional. Sua imagem artística é planejada para rivalizar com os “bons-moços” Roberto Carlos, Jerry Adriani (1947) e Wanderley Cardoso (1945).
É influenciado pelo seu ídolo o cantor norte-americano Elvis Presley, especialmente no visual, nos trejeitos e na performance vocal. Do ponto de vista musical, O Bom, seu LP de estreia, traz como novidade a presença da Banda Jovem do Maestro Edmundo Peruzzi (1918-1975) em algumas faixas, superando o acompanhamento convencional de guitarras, em arranjos que envolvem um grupo robusto de seis violinos, três pistons, três trombones, quarteto de saxofones, trio vocal feminino e um conjunto de duas guitarras, baixo e bateria.
As letras dos primeiros sucessos têm um tom narcisista e apelo sexual. O discurso oscila entre o romântico e o cafajeste, quase sempre machista. Ele se descreve em O Bom:
Cabelo na testa
Sou o dono da festa
Pertenço aos dez mais
Se você quiser experimentar
Sei que vai gostar.
E canta em “Vem quente que eu estou fervendo”:
O meu coração é do tamanho de um trem
Iguais a você
Eu apanhei mais de cem
Pode vir quente que eu estou fervendo.
Em sua parceria com Imperial, ora assina as letras ora fica responsável pela música.
Em fins dos anos 1960, passada a febre da jovem guarda, Araújo diversifica sua música lançando A Onda é Boogaloo, álbum que tem o iniciante Tim Maia (1942-1998) na assistência de produção e na autoria de versões de autores como James Brown (1933-2006), Ray Charles (1930-2004) e Wilson Pickett (1941-2006). Boogaloo, como informa o artista no texto de contracapa, nada mais é que uma vertente da soul music, na qual ritmo e melodia se sobressaem às letras.
Na década seguinte, ele se aproxima do repertório mais tradicional da música popular brasileira, sem abandonar o estilo que o consagrou. Em álbuns como Eduardo Araújo (1971) e Pelos Caminhos do Rock (1975), ele grava, em versões roqueiras, “No Rancho Fundo” [Ary Barroso (1903-1964)/ Lamartine Babo (1904-1963)], “Ave Maria no Morro” [Herivelto Martins (1912-1992)] e “Construção” [Chico Buarque (1944)], entre outras.
A partir de 1988, com o disco Um Homem Chamado Cavalo, Eduardo Araújo sedimenta seu estilo country rock. No momento em que a música caipira se moderniza ao som de duplas como Chitãozinho & Xororó e Leandro & Leonardo, o ex-ídolo iê-iê-iê também investe na temática do campo, compondo as canções “Mangalarga Marchador”, “O Homem da Terra e Rodeio”, entre outras. Desde então, sua carreira divide-se entre celebrar seu passado de jovem guarda e a paixão pelo rock de sotaque rural.
Fontes de pesquisa 8
- ARAÚJO, Paulo César de. Eu não sou cachorro não. Rio de Janeiro: Record, 2007.
- ARAÚJO, Paulo César de. Roberto Carlos: em detalhes. São Paulo, 2006.
- FAOUR, Rodrigo. História sexual da MPB. Rio de Janeiro: Record, 2006.
- FRÓES, Marcelo. Jovem Guarda: em ritmo de aventura. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2004.
- INSTITUTO MEMÓRIA MUSICAL BRASILEIRA. Disponível em: < http://www.memoriamusical.com.br >. Acesso em: 7 ago. 2015.
- PUGIALLI, Ricardo. Almanaque da Jovem Guarda. São Paulo: Ediouro, 2006.
- SANCHES, Pedro Alexandre. Como dois e dois são cinco: Roberto Carlos & Erasmo Carlos & Wanderléa. São Paulo: Boitempo, 2003.
- SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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EDUARDO Araújo.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa523669/eduardo-araujo. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7