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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Raul Bopp

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 01.08.2024
04.08.1898 Brasil / Rio Grande do Sul / Santa Maria
02.06.1984 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Reprodução Fotográfica Romulo Fialdini

Cobra Norato, 1931
Raul Bopp

Raul Bopp (Santa Maria, Rio Grande do Sul, 1898 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1984). Poeta, cronista e jornalista. Nascido numa pequena vila de Santa Maria, muda-se para Tupanciretã, Rio Grande do Sul, com um ano de idade. Aos 16 anos, inicia a primeira das viagens que inspiram suas obras. Ela termina em 1918, depois de percorrer Argentina, ...

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Biografia

Raul Bopp (Santa Maria, Rio Grande do Sul, 1898 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1984). Poeta, cronista e jornalista. Nascido numa pequena vila de Santa Maria, muda-se para Tupanciretã, Rio Grande do Sul, com um ano de idade. Aos 16 anos, inicia a primeira das viagens que inspiram suas obras. Ela termina em 1918, depois de percorrer Argentina, Paraguai e o Centro e o Sudoeste do Brasil. De volta a Tupanciretã, conclui o ginásio. Forma-se em direito em 1922, e tem passagens pelos estados do Rio Grande do Sul, de Pernambuco, do Pará e do Rio de Janeiro. 

É nesse período que conhece e estreita amizade com escritores importantes como José Lins do Rego (1901-1957) e Aníbal Machado (1894-1964), além de contribuir com poemas e artigos para jornais e revistas. Em 1926 vai para São Paulo, onde integra o movimento antropofágico e, com incentivo da pintora Tarsila do Amaral (1883-1973) e do escritor Oswald de Andrade (1890-1954), publica trechos de seu livro mais famoso, o poema narrativo Cobra Norato, na revista Paratodos

Em seguida, uma viagem o inspira a escrever Como se Vai de São Paulo a Curitiba. Com o fim do movimento antropofágico, em 1929, vai para o Oriente. Dois anos depois, é publicado integralmente Cobra Norato. Edita os poemas de Urucungo, em 1932, momento em que ingressa na carreira diplomática, voltando-se também à redação de artigos e memórias. 

Análise

A produção literária de Raul Bopp caracteriza-se, de modo generalista, pelo tom satírico, a recorrência de cenários naturais brasileiros, a oralidade, a presença de diálogos e o uso de aliterações. Em compasso com outros modernistas, Bopp busca incorporar em sua poesia elementos e mitos da cultura indígena.

Cobra Norato, sua obra-prima, é definida por mais de um intérprete como o paralelo em verso de Macunaíma (1928), a rapsódia em prosa de Mário de Andrade (1893-1945). O crítico Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) aproxima ainda as duas obras “no timbre por assim dizer épico em nossa moderna literatura”. Ambas são igualmente concebidas sob o impacto das ideias da psicanálise e da antropologia, que repercutem à época, bem como das experimentações das vanguardas europeias, que estimulam os modernistas brasileiros a incorporarem à “pesquisa formal tanto o material folclórico das narrativas indígenas quanto os elementos da cultura negra, realizando uma fusão perfeita entre o erudito e o popular”, segundo o crítico Augusto Massi (1959).

Em sua concepção, o poema vincula-se ao movimento primitivista, mergulhado nas matrizes arcaicas do imaginário brasileiro. Em termos temáticos, busca seu repertório no repositório de lendas e mitos populares, sobretudo da região Norte do país, como bem indica o subtítulo do poema: Nheengatu da Margem Esquerda do Amazonas - baseando-se nas Lendas em Nheengatu e Português, de Antonio Brandão Amorim (1865-1926). 

Partindo desse material folclórico, que manipula livremente, o poeta se veste na pele da Cobra Norato para sair em busca da princesa, filha da rainha Luzia, caminhando na beira do rio e da mata e vendo o mundo criar-se no alagado, onde pululam germes de animais e plantas na lama. Trata-se de um universo larvar em que os três reinos (vegetal, mineral e animal) se fundem indistintamente. No plano formal, os 33 episódios em que se estrutura o poema são baseados na técnica da bricolage, da montagem de materiais heterogêneos. A sequência das imagens justapostas lembra “uma sucessão de caráter cinematográfico”, diz a crítica Lígia Averbuck. 

Bopp opera, ainda, a fusão de formas e gêneros literários para acolher adequadamente a matéria poética fabulosa, pré-lógica, do romanceiro amazônico. Na forma elástica desse poema narrativo, alternam-se “polimorficamente momentos líricos, narrativos e dramáticos. No plano interno, ela harmoniza os elementos através de uma prosificação das células rítmicas, do erotismo visual de suas metáforas e da estrutura dialógica”, que não é encontrado apenas em Cobra Norato, mas também em outros momentos da obra de Bopp. No plano da linguagem, forja um léxico diversificado, fundindo vozes indígenas e africanas e alterando a sintaxe, como nota Murilo Mendes (1901-1975). Destaque-se, ainda, a recorrência de uma figura de linguagem como a onomatopeia, dando voz a animais, objetos e formas elementares. 

Vinculado à fase heróica do modernismo, Cobra Norato é publicado em 1931, quando o país, adentra em um novo momento histórico no qual o primitivismo estético não é um instrumento crítico eficaz para embasar os embates ideológicos da década de 1930, pois  “(...) não se tratava mais de descobrir o Brasil, porém submetê-lo ao crivo analítico e ensaiar uma interpretação. Tal descompasso não impediu o reconhecimento posterior, mas, sem dúvida, contribuiu no sentido de reduzir o impacto de sua obra, roubando-lhe aquele caráter militante de quem atua no calor da hora”.

No confronto entre a primeira edição de Cobra Norato e a luxuosa edição publicada em Zurique, em 1947, na qual o poeta reelabora ou suprime palavras, expressões ou versos inteiros, entre outras modificações, o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) vai saudar essa remanipulação do poema como prova de precisão e consciência artística. Anos depois, entretanto, o crítico José Paulo Paes (1926-1998) lamenta essas supressões e mudanças formais que expurgam o poema de elementos interessantes. 

A visão que predomina durante algum tempo de Raul Bopp ser autor de um único livro (um clássico do modernismo) é um equívoco só reparado muito tempo depois. Dentre as outras obras que produz, costuma-se destacar Urucungo (1932) que, em relação a Cobra Norato, marca a passagem do mito para a história. Como define o crítico Antônio Hohlfeldt (1948), os poemas “oferecem uma espécie de roteiro da condição negra no Brasil, desde a sua caça e escravidão ainda em terras da África (...) até aqueles que fixam a miscigenação e a atribuição de atividades sociais aos negros”. Há, portanto “(...), prioridade, por parte do poeta, à observação e à reinterpretação dos aspectos culturais da miscigenação, que resultaram nas festividades e lendário tão variado que marcam hoje todo o país”. Assim, pelo tema, Urucungo se aproxima dos Poemas Negros, de Jorge de Lima (1893-1953), e mesmo dos Poemas da Negra (1929), de Mário de Andrade.

Obras 2

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Coleção Brasiliana Itaú Reprodução Fotográfica Horst Merkel

Espetáculos 2

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Espetáculos de dança 1

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Exposições 7

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Fontes de pesquisa 2

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  • AVERBUCK, Lígia. Cobra Norato e a revolução caraíba. Rio de Janeiro: José Olympio: INL, 1985.
  • BOPP, Raul. Poesia completa de… MASSI, Augusto (org.). Rio de Janeiro: São Paulo: José Olympio: Edusp, 1998.

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