Lula Cardoso Ayres
![Pássaro Vermelho, 1952 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/001639017013.jpg)
Pássaro Vermelho, 1952
Lula Cardoso Ayres
Têmpera
69,00 cm x 50,00 cm
Texto
Luiz Gonzaga Cardoso Ayres (Recife, Pernambuco, 1910 – Idem, 1987). Pintor, fotógrafo, desenhista, ilustrador, muralista, cenógrafo. A obra de Lula Cardoso Ayres é marcada pela versatilidade pictórica e de linguagens. Tem destaque nessa produção a preocupação com os temas sociais e populares.
Sua formação artística se inicia aos 12 anos, quando trabalha como ajudante do artista alemão Heinrich Moser (1886-1947), no Recife, com quem adquire, entre 1922 e 1924, os primeiros conhecimentos das técnicas artísticas.
Em 1925, viaja a Paris, onde visita a 1ª Exposição Internacional de Arte Decorativa, frequenta museus e ateliês de pintores como Maurice Denis (1870-1943) e entra em contato com os movimentos artísticos modernos da Europa. De volta ao Brasil, em 1926, se estabelece no Rio de Janeiro. Frequenta informalmente a Escola Nacional de Belas Artes (Enba) e tem aulas de modelo vivo com Rodolfo Amoedo (1857-1941). Aprimora a formação artística com Carlos Chambelland (1884-1950) e, dessa experiência, se recorda dos exercícios de desenho com modelos de gesso, que lhe conferem domínio dos meios-tons na representação dos volumes.
A inserção profissional no meio das artes se dá por meio da ilustração, atividade que exerce com intensidade nos anos 1930 no Rio de Janeiro. Nessa época, a produção gráfica do artista retrata com frequência a figura feminina e as novas conquistas da modernidade, com notada influência da art déco.
Em 1931, assume a criação dos painéis e a escolha de móveis e decoração para o espetáculo O espelho de Próspero. O cunho não realista e subjetivo da cenografia, uma ousadia para os padrões da época, desperta o interesse de teatrólogos como Paschoal Carlos Magno (1906-1980) e Renato Vianna (1894-1953), que publicam comentários elogiosos a respeito do artista na imprensa.
No fim de 1932, volta a Pernambuco para ajudar a administrar a usina de açúcar da família, e reside em Cucaú, interior do estado, até 1944. Realiza incursões por pequenos povoados da região e, da observação de costumes, festas e manifestações artísticas populares, resultam diversos trabalhos.
Durante o processo de pesquisa artística, registra fotografias sobre diversos aspectos da vida das populações rurais. No decorrer dos anos 1930 e 1940, intensifica o interesse antropológico por modos de vida e rituais, em parte estimulado pela convivência com o poeta Ascenso Ferreira (1895-1965) e o sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987), que conhece em 1934, no 1º Congresso Afro-Brasileiro do Recife e de quem se torna amigo. Produz grande quantidade de fotografias e diversos desenhos de manifestações culturais, como o bumba meu boi, o maracatu, o Carnaval, os rituais de candomblé e de populações indígenas. Parte desses registros integra o acervo do Museu do Homem do Nordeste, na capital pernambucana.
Da vivência no interior de Pernambuco, se interessa sobretudo pela cerâmica popular. Ao tomar contato com essa produção, procura transferir para o desenho e a pintura as cores e formas das esculturas de barro. No início da década de 1940, realiza seus primeiros desenhos, que retratam a forma e constituição dos bonecos. Para o crítico Clarival do Prado Valladares (1918-1983), a descoberta da cerâmica popular orienta grandemente a produção de Ayres e é o caminho pelo qual o artista se aproxima do cubismo sintético. Tal referência à cerâmica pode ser notada nas formas maciças da figura humana, nos volumes arredondados da vegetação e na estaticidade dos bichos em trabalhos como Representação do bumba meu boi e Noivado no copiar e Passeio a cavalo, todos de 1943. Em um conjunto de trabalhos produzidos entre 1945 e 1946, Ayres explora as fantasmagorias e as assombrações. Tal universo, que remete às narrativas e crenças populares do Recife, aparece em obras como Capela mal-assombrada, Sofá mal-assombrado, Vestindo a noiva e Enterro, entre outros trabalhos.
Ainda em 1945, retorna ao Recife, compelido pela crise econômica familiar. Retoma trabalhos como ilustrador e produz capas para os livros dos poetas como Manuel Bandeira (1886-1968) e Ascenso Ferreira. Sua produção pictórica desse período é marcada por telas com temática social, representando figuras e paisagens regionais, como Retirantes, Meninas pedindo esmola, Cego violeiro, todas de 1947, presentes na retrospectiva do artista realizada pelo Itamaraty na década de 1970, ressaltando essa faceta do artista. Figuras do carnaval recifense, do frevo, do maracatu, do bumba meu boi e de cortadores de cana são frequentemente retratadas em suas pinturas.
No início da década de 1950, sua produção caminha para o abstracionismo, mas sem renunciar à figuração. Tal mudança de linguagem se explica em parte pelo impacto, reconhecido pelo artista, provocado pelas primeiras Bienais de São Paulo, entre 1951 e 1955, das quais participa. As telas Ex-votos e Três ex-votos, elaboradas em 1951, são exemplos da solução particular explorada pelo artista nessa fase, que trabalha sobre a figura, pretendendo chegar a sua síntese. Em trabalhos em têmpera, como Dançarinas ou Pássaro vermelho, ambos de 1952, as cores ganham relevância sobre o desenho. Em telas como Rei e rainha do maracatu, de 1959, o artista alcança a síntese das figuras por meio da esquematização geométrica. Em 1960, realiza exposição retrospectiva no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), organizada por Pietro Maria Bardi (1900-1999), com destaque para os trabalhos mais recentes do artista.
No decorrer da década seguinte, Ayres pinta novamente figuras femininas misteriosas, em telas como Vulto na porta e Mulheres com manto, produzidas em 1964. Nos anos 1970, dedica-se principalmente a pintar a figura feminina da mulata e da morena, em telas como Cabeça de mulata, de 1970, na qual a mulher é retratada com olhos vazados e volumosos cabelos compridos.
A partir de meados dos anos 1970, produz com tinta acrílica diversas pinturas em que surgem bichos imaginários. Nesses trabalhos, emprega cores fortes e contrastantes e largos contornos em preto que dão forma a bichos, como pássaros, emas, bois e outros seres inventados.
A maioria dos trabalhos do pintor pode ser vista no Instituto Cultural Lula Cardoso Ayres, em Jaboatão de Guararapes, Pernambuco, criado em 1993 por iniciativa da família.
Lula Cardoso Ayres retrata as manifestações populares em Pernambuco e contribui não apenas para as artes plásticas, mas também para o registro da memória da cultura desse estado.
Obras 21
Espetáculos 4
Exposições 73
Fontes de pesquisa 19
- 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
- AYRES, Lula Cardoso. Gilberto Freyre e a Arte Brasileira do Mural, in Livro Comemorativo do 25º Aniversário da Publicação de Casa Grande & Senzala, 1962.
- AYRES, Lula Cardoso. Reviver. Curadoria Regina M. A. N. Romero Cardoso Ayres, Luiz Cardoso Ayres Filho; texto Luiz Cardoso Ayres Filho, Fernando de Mello Freyre. Recife: FUNDAJ, 1991. 36 p., il. p&b.
- AYRES, Lula Cardoso. Reviver. Recife: FUNDAJ, 1991. 36 p., il. p&b.
- COLEÇÃO Gilberto Chateaubriand: retrato e auto-retrato da Arte Brasileira. São Paulo: MAM, 1984. SPmam 1984/r
- Diário de Pernambuco. Recife, 05/08/1989. Não catalogado
- Diário de Pernambuco. Recife, 09/03/1990. Não catalogado
- Diário de Pernambuco. Recife, 12/06/1991. Pág.1 Seção Viver. Não catalogado
- FREYRE, Gilberto. A síntese Lula Cardoso Ayres: arte, região, tempo [Introdução]. In: Lula Cardoso Ayres. São Paulo: Museu de Arte de São Paulo, 1960. Não catalogado
- GUSTAVO, Paulo. Lula Cardoso Ayres, impregnado de povo e de Nordeste. Lula Cardoso Ayres no acervo da Fundação Joaquim Nabuco. Disponível em: http://www.gov.br/fundaj/pt-br/composicao/dimeca-1/biblioteca/acervos/inventarios-documentais-e-indices/lula_cardoso.pdf. Acesso em: 19 junho 2022.
- LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
- MUSEU DE ARTE MODERNA (SÃO PAULO, SP) (org.). Do modernismo à Bienal. São Paulo: MAM, 1982.
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- MUSEU da Caixa Econômica Federal. Tradução Derrick G. Phillips Cruz; apresentação Antonio Bento, Gil Gouvea Macieira. Rio de Janeiro: Spala, 1981. 197 p., il. color.
- PONTUAL, Roberto. Arte/ Brasil/ hoje: 50 anos depois. São Paulo: Collectio, 1973.
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- ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.
Como citar
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LULA Cardoso Ayres.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa10279/lula-cardoso-ayres. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7