Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro
![Vale da Cascatinha em Petrópolis, 1925 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/000319002013.jpg)
Vale da Cascatinha em Petrópolis, 1925
Baptista da Costa
Óleo sobre tela, c.i.d.
114,00 cm x 145,00 cm
Texto
O Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro é criado pela Sociedade Propagadora das Belas Artes em 1856, por iniciativa do arquiteto Francisco Joaquim Bethencourt da Silva (1831-1911), com o objetivo de difundir o ensino das belas-artes aplicadas aos ofícios e indústrias, que ele julga primordial para o desenvolvimento de uma sociedade industrial. Tal concepção encontra apoio em John Ruskin (1819-1900) e William Morris (1834-1896), líderes do Arts and Crafts, que defendem a íntima articulação entre indústria e criação artística. A filosofia norteadora do Liceu está amparada na idéia de que a arte é uma via fundamental para o aprimoramento das cidades. Os edifícios - desde os monumentais e os governamentais até os pequenos estabelecimentos comerciais e residências - devem ser construídos de acordo com padrões estéticos e artísticos.
O Liceu - escola noturna, gratuita e filantrópica - é mantido pela Sociedade Propagadora das Belas Artes, fundada em 1856, no Rio de Janeiro, que tem como finalidade garantir a educação fundamental e o ensino profissionalizante para a população operária, num contexto de ampla campanha de educação de adultos, no qual Bethencourt da Silva é figura de destaque. Segundo a ata oficial de criação da Sociedade, o Liceu é destinado aos homens livres nacionais e estrangeiros, visando à formação de trabalhadores para a construção civil e de operários em geral, e deve ainda editar uma revista, organizar uma biblioteca e realizar sessões públicas, com exposições de trabalhos dos alunos.
Arquiteto de obras públicas, além de professor, escritor e jornalista, Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, aluno de Grandjean de Montigny (1776 - 1850) na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, é responsável por várias obras na cidade do Rio de Janeiro, entre as quais os pórticos da Santa Casa de Misericórdia e do cemitério São João Batista; o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista e o antigo edifício da Bolsa de Comércio, na rua Primeiro de Março (hoje sede do Centro Cultural do Banco do Brasil - CCBB). Catedrático de desenho na Escola Central, depois Politécnica, ele institui o desenho como a espinha dorsal do ensino do Liceu de Artes e Ofícios. Aos cursos de desenho de figuras e de ornatos, somam-se os de arquitetura naval, português, aritmética, álgebra, geometria, francês, inglês, música, geografia, estatuária e escultura. Completam a grade curricular aulas de caligrafia, história das artes e ofícios, estética, mecânica aplicada, física, química mineral e orgânica.
O corpo docente, inicialmente de 28 professores, não recebe remuneração e é composto de pessoas importantes da época e beneméritos que contribuem para a manutenção do ensino. As fontes registram 279.130 alunos matriculados entre 1858 e 1954. As atividades do Liceu são inauguradas em salas cedidas no Consistório da Irmandade do Santíssimo Sacramento da antiga Sé, em 9 de janeiro de 1858. Em fins desse ano a Irmandade requisita o espaço, e as aulas passam à antiga Igreja São Joaquim (de 1859 a 1877). Os cursos desenvolvem-se regularmente entre 1860 e 1863, quando as atividades são interrompidas e retomadas em fins de 1865, por escassez de recursos. Além de auxílios públicos, o Liceu conta com doações de beneméritos, em forma de dinheiro, obras de artes, livros, materiais e maquinário. Em 1878 a escola é transferida para o edifício onde funcionava até então a Secretaria do império, na rua da Guarda Velha (depois avenida 13 de Maio). A insuficiência de recursos retarda a abertura de oficinas, o que só acontece em 1889.
As mulheres, por sua vez, têm acesso aos cursos do Liceu em 11 de outubro de 1881. No ano seguinte, é inaugurado o curso comercial, que funciona gratuitamente até 1958, o único curso regular na área até a criação da Academia de Comércio do Rio de Janeiro, em 1902. Passam pelo Liceu de Artes e Ofícios alunos como Rodolfo Amoedo (1857 - 1941), Eliseu Visconti (1866 - 1944), Adalberto Matos, e professores como Francisco Antonio Néri (s.d. - 1866), Victor Meirelles (1832 - 1903), José Maria de Medeiros (1849 - 1925), Oscar Pereira da Silva (1867 - 1939) e Carlos Oswald (1882 - 1971) - este responsável pelo ateliê de gravura a partir de 1914 - entre muitos outros.
Além das aulas regulares, o Liceu realiza várias exposições com trabalhos de alunos. A primeira delas é aberta ao público em 18 de março de 1882, com a presença do imperador dom Pedro II (1825 - 1891), que não apenas comparece às diversas solenidades do Liceu como condecora parte dos professores. A Exposição de Belas Artes no Liceu é a maior exposição realizada fora da Aiba. Entre os expositores estão Victor Meirelles, Angelo Agostini (1843 - 1910), Belmiro de Almeida (1858 - 1935), Decio Villares (1851 - 1931), José Maria Medeiros e Georg Grimm (1846 - 1887). O Liceu realiza, em 1916, o 1º Salão dos Humoristas. Em 1919, Carlos Oswald promove a primeira exposição com seus alunos, que é também a primeira mostra de gravura em metal no Rio de Janeiro.
Com a morte do fundador, em 1911, assume o Liceu o doutor Bethencourt Filho, até 1928, ano de seu falecimento. Nessa gestão são criadas as oficinas gráficas, de douração, encadernação e o ateliê de água-forte. Funcionam, a partir de então, oficinas de gravura, cerâmica e xilogravura (os ateliês do Liceu de Artes e Ofícios criam diversos trabalhos para os Palácios do Catete e do Itamaraty). Progressivamente, a escola incorpora novos terrenos por meio de doações e passa a ocupar área de cinco mil metros na avenida Central (hoje Rio Branco), em quadrilátero formado pela avenida e pelas ruas Santo Antonio, 13 de Maio e Barão de São Gonçalo. A ala do edifício na avenida Rio Branco, 174, é inaugurada em 1916.
O Liceu de Artes e Ofícios continua em funcionamento hoje na rua Frederico Silva, 86, praça Onze. No mesmo local, é criada a Faculdade Bethencourt da Silva - Fabes, com os cursos de licenciatura em técnicas de comércio e serviços, em 1981, também mantida pela Sociedade Propagadora de Belas Artes.
Obras 1
Vale da Cascatinha em Petrópolis
Exposições 15
Links relacionados 4
Fontes de pesquisa 5
- AMARAL, Cláudio. John Ruskin e o desenho no Brasil. In: Vitruvius. Arquitextos - Periódico mensal de textos de arquitetura. Disponível em: [http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp314.asp]. Acesso em: jul. 2006.
- BARROS, Álvaro Paes de. O Liceu de Artes e Ofícios e seu fundador. Depoimento histórico no Primeiro Centenário da Grande Instituição. Rio de Janeiro, LAO, 1956, 394 pp, il p&b.
- BIELINSKI, Alba Carneiro. Educação profissional no século XIX. Curso Comercial do Liceu de Artes e Ofícios: um estudo de caso. Disponível em: [http://www.senac.br/informativo/BTS/263/boltec263e.htm]. Acesso em: jul. 2006.
- CUNHA, Luiz Antonio. O ensino industrial- manufatureiro no Brasil: origem e desenvolvimento. Disponível em: [http://www.flacso.org/data/biblioteca/392pdf]. Acesso em: jul. 2006.
- MORAIS, Frederico. Cronologia das artes plásticas no Rio de Janeiro: da Missão Artística Francesa à Geração 90: 1816-1994. Rio de Janeiro: Topbooks, 1995.
Como citar
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LICEU de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/instituicao115540/liceu-de-artes-e-oficios-do-rio-de-janeiro. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7