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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Vereda da Salvação

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 14.08.2019
08.07.1964 Brasil / São Paulo / São Paulo
Registro fotográfico Fredi Kleemann No centro, em primeiro plano, Ruth de Souza (Germana); em segundo plano, à esquerda, à frente do grupo de atores, Anita Sbano (Conceição); no grupo de atores, à direita, atrás de Ruth de Souza, Lélia Abramo (Durvalina) e Stênio Garcia (Geraldo); à direita do palco, Renato Restier (Manoel) e, sobre a rampa, Raul Côrtez (Joaquim)

Vereda da Salvação, 1964
Fredi Kleemann
Acervo Idart/Centro Cultural São Paulo

Montagem de impacto do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) em sua fase nacionalista, dirigida por Antunes Filho (1929), com base em intenso trabalho de preparação dos atores, com exercícios específicos e laboratórios que visam a uma recriação naturalista de um ambiente rural tomado pela histeria religiosa.

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Montagem de impacto do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) em sua fase nacionalista, dirigida por Antunes Filho (1929), com base em intenso trabalho de preparação dos atores, com exercícios específicos e laboratórios que visam a uma recriação naturalista de um ambiente rural tomado pela histeria religiosa.

É a quarta peça de autoria de Jorge Andrade (1922-1984) montada pela companhia e tem como temas o messianismo, a crença e a fé. O seu ponto de partida é um fato real, ocorrido em abril de 1955: a repressão policial e a morte de fanáticos religiosos da comunidade de Catulé, em Minas Gerais. O episódio é dramatizado pelo autor em estilo épico e de fundo trágico.

Os ensaios consomem árduos meses de trabalho de Antunes Filho junto ao elenco. Interessado num novo realismo, num estilo brasileiro de interpretação, o encenador elabora uma série de exercícios calcados sobre Stanislavski, enfatizando as contradições íntimas e as vivências pessoais dos intérpretes. Como ele mesmo explica "pela primeira vez no teatro brasileiro os atores se arrastam no chão. Foi um escândalo isso. Os atores cuspiam, se arrastavam [...]. Eu parti da seguinte proposta: tudo o que é romântico não interessa; vamos fazer a realidade, como se nós estivéssemos vendo alguém trabalhando, fazendo alguma coisa [...]".1

Esse método integra-se à grande pesquisa que o diretor vem empreendendo com os atores (que, nos anos 1990, culminará num sistema inteiramente completo), mas as inovações muitas vezes parecem demasiadas. Diversas reportagens da época falam em "perda da auto-estima" e "condição animal" para descreverem esse processo, que almeja um supernaturalismo, desarmando os intérpretes de qualquer estereótipo expressivo.

Figuram no elenco grandes intérpretes tais como Raul Cortez (1931-2006), Cleyde Yáconis (1923-2013), Aracy Balabanian (1942), Stênio Garcia (1932); Lélia Abramo (1911-2004) e Ruth de Souza (1930).

Antunes Filho considera a encenação um divisor de águas, por propor uma nova linguagem teatral, mas observa que na passagem da sala de ensaios para o palco, a cenografia "doura a pílula" e prejudica o efeito pretendido. O resultado final, divide público e crítica, arrebanhando tanto elogios quanto reparos inflamados. O espetáculo fracassa e fica pouco tempo em cartaz. O crítico Sebastião Milaré (1945-2014), autor do livro Antunes Filho e A Dimensão Utópica, assim equaciona o projeto: "A sondagem temática através de exercícios físicos levava a um tipo de representação completamente novo e, conseqüentemente, a uma nova forma estética. De maneira que Vereda da Salvação levantou-se contra um pano de fundo de um teatro conformado com o Realismo, assumindo ares de 'coisa extravagante'. (...) E no bojo dos significados intrínsecos e extrínsecos da obra, é impossível desconhecer sua vinculação à história do teatro brasileiro pelo lado de uma linha 'maldita', que tímida e valentemente progrediu na contracorrente da nossa tradição dramática".2

O crítico Décio de Almeida Prado (1917-2000) ressalta, na encenação, suas virtudes e exageros: "A rusticidade, para o encenador atual, parece trazer consigo algumas conotações artísticas quase obrigatórias e a que Antunes Filho não escapou: o monumentalismo e patriarcalismo bíblicos, o aspecto 'pátio de milagres' etc. Ora, esta carga expressionista, que fazia a representação assemelhar-se por momentos a um ballet grotesco, abafa o texto, não o deixando falar por si, dissolvendo as palavras por entre a incessante movimentação cênica. Pior ainda, aumenta a distância já considerável que nos separava das personagens. [...] Somente no segundo ato a peça e a encenação articulam-se com perfeição, aprofundando progressivamente o caminho interior, preparando-se para atacar de frente essas terríveis provas que são as cenas de histeria individual e coletiva. Aí a direção de Antunes Filho afirma-se em grande vigor".3

Notas

1. ANTUNES FILHO. Entrevista. Dionysos, Brasília, n. 25, p. 135-147, set. 1980. Entrevista concedida a Maria Lúcia Pereira no dia 28 de abril de 1979.
2. MILARÉ, Sebastião. Antunes Filho e a dimensão utópica. São Paulo: Perspectiva, 1996. p. 156.
3. PRADO, Décio de Almeida. Vereda da Salvação. In: ______. Teatro em progresso. São Paulo: Martins, 1964. p. 296.

Ficha Técnica

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Autoria
Jorge Andrade (Prêmio APCT - melhor autor.)

Direção
Antunes Filho (Prêmio Associação Paulista de Críticos Teatrais - APCT - melhor diretor.)

Direção (assistente)
Stênio Garcia

Cenografia
Norman Westwater

Figurino
Norman Westwater

Direção musical
Damiano Cozzella

Elenco
Anita Sbano / Vereda da Salvação
Aracy Balabanian / Ana
Carmem Pascal / Vereda da Salvação
Cleyde Yáconis / Vereda da Salvação
Esther Mellinger / Vereda da Salvação (Prêmio APCT - atriz revelação.)
Eugênio do Nascimento / Vereda da Salvação
Fiorella / Vereda da Salvação
José Antônio Sbano / Vereda da Salvação
José Pereira / Vereda da Salvação
Leilah Assumpção / Vereda da Salvação
Lélia Abramo / Durvalina
Martha Helena Araújo Ferreira / Vereda da Salvação
Nair Araújo / Vereda da Salvação
Potyguar Lopes / Vereda da Salvação
Raul Cortez / Joaquim
Regina Célia Rodrigues / Vereda da Salvação
Renato Restier / Vereda da Salvação
Roberto Azevedo / Vereda da Salvação
Ruth de Souza / Germana
Stênio Garcia / Geraldo
Sylvio Rocha / Vereda da Salvação
Therezinha de Mello / Vereda da Salvação
Yola Maia / Vereda da Salvação

Obras 2

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Registro fotográfico Fredi Kleemann No centro, em primeiro plano, Ruth de Souza (Germana); em segundo plano, à esquerda, à frente do grupo de atores, Anita Sbano (Conceição); no grupo de atores, à direita, atrás de Ruth de Souza, Lélia Abramo (Durvalina) e Stênio Garcia (Geraldo); à direita do palco, Renato Restier (Manoel) e, sobre a rampa, Raul Côrtez (Joaquim)

Espetáculos 1

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Fontes de pesquisa 4

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  • ANTUNES FILHO. Entrevista. Dionysos, Brasília, n. 25, p. 135-147, set. 1980. Entrevista concedida a Maria Lúcia Pereira no dia 28 de abril de 1979.
  • MILARÉ, Sebastião. Antunes Filho e a dimensão utópica. São Paulo: Perspectiva, 1996. p.156.
  • PRADO, Décio de Almeida. Vereda da Salvação. In:______. Teatro em progresso: crítica teatral, 1955-1964. São Paulo: Martins, 1964.
  • VEREDA DA SALVAÇÃO. Direção Antunes Filho. São Paulo, 1964. 1 folder. Programa do espetáculo, apresentado no Teatro Brasileiro de Comédia em julho de 1964.

Como citar

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