Exposições Gerais de Belas Artes
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Histórico
As Exposições Gerais de Belas Artes são implantadas em 1840, no interior da Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), como mostras anuais permanentes, abertas a todos os interessados. As primeiras exposições de artes plásticas realizadas no país ocorrem em 1829 e 1830, e devem-se à iniciativa do pintor Debret (1768-1848), integrante da Missão Artística Francesa de 1816 e professor da Aiba. São mostras restritas aos alunos e aos professores da Aiba e se interrompem quando Debret volta à Europa, em 1831. Nesse momento, são substituídas por exposições exclusivas dos alunos. Em ofício de 31 de março de 1840, Félix Taunay (1795-1881) institui as Exposições Gerais de Belas Artes: "[...] a exposição pública de fim de ano, que até hoje tem sido particular e privativa daquele estabelecimento (da academia), se torna geral daqui em diante para todos os artistas dessa corte, que foram julgados dignos de serem admitidos". Um júri escolhe os participantes das exposições, concede premiações e promove a aquisição de obras para a pinacoteca da academia. É ele também o responsável pela concessão de bolsas de estudos, prêmios de viagem no país e ao exterior. As exposições iniciais são montadas nas salas de arquitetura, desenho, pintura etc., enquanto as demais dependências da escola exibem, de modo permanente, as obras pertencentes à pinacoteca. A partir de 1889, as Exposições Gerais de Belas Artes continuam a se realizar na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), nome que a Aiba recebe após a proclamação da República. Em 1934, a mostra passa a ser designada Salão Nacional de Belas Artes, interrompida em 1990.
A relação de artistas e obras presentes nas Exposições Gerais é divulgada, até 1862, por uma publicação de caráter mais amplo intitulada A Notícia do Palácio e da Academia Imperial de Belas Artes. A partir de 1864, uma edição independente registra as mostras. Em 1884, é publicado pela primeira vez, um catálogo ilustrado. A falta de padronização das publicações (que alternam informações de um ano ao outro), as lacunas e erros tipográficos dificultam o conhecimento exato de cada uma das exposições. No entanto, o material disponível permite esboçar o perfil mais geral das mostras, representativas do feitio que a arte acadêmica toma entre nós. Até 1884, última exposição ocorrida no período monárquico, chama a atenção a predominância do retrato como gênero, ao lado da presença significativa de paisagens. O predomínio dos retratos - do imperador, de sua família, da corte e dos eclesiásticos, a despeito da hierarquia de gêneros vigente nas academias européias que colocava a pintura histórica no topo do panteão, demonstra como a arte acadêmica no país corresponde, em linhas gerais, a um modelo aclimatado, que tem que enfrentar as condições da natureza e da sociedade locais. A presença precoce da fotografia (os primeiros daguerreótipos são apresentados já em 1842) é mais um dado significativo e, sem dúvida, relacionado à influência do imperador Dom Pedro II (1825-1891), um aficcionado pela arte fotográfica. Além disso, chama a atenção a profusão de desenhos exibidos.
Os trabalhos que integram as Exposições Gerais de Belas Artes, quando ainda realizadas na Aiba, permitem acompanhar a rotina do trabalho artístico no período. Os pintores brasileiros, alunos dos mestres estrangeiros da escola, vão aos poucos sendo nomeados nos registros das Exposições, em geral quando já auxiliares nas funções de ensino: Victor Meirelles (1832-1903), Pedro Américo (1843-1905), Rodolfo Amoedo (1857-1941), entre outros. Os dois primeiros destacam-se na pintura histórica, com obras célebres como Batalha do Avaí (1872/1877), de Pedro Américo, apresentada ao lado da Batalha dos Guararapes (1875/1879), de Victor Meirelles, na Exposição de 1879. No que diz respeito à pintura histórica, vale lembrar o papel da arte acadêmica nacional na construção de uma iconografia do Império. Parte dos artistas envolve-se na construção de uma memória da nação, em moldes românticos, a partir da eleição de alguns emblemas: o índio é um dos mais importantes (por exemplo, Moema, 1886, de Victor Meirelles e O Último Tamoio, 1883, de Rodolfo Amoedo). O material relativo às Exposições Gerais de Belas Artes, além de fornecer elementos para a compreensão da institucionalização do universo artístico no Brasil, ensina como a arte acadêmica no país combina de modo sistemático as dicções neoclássicas e românticas.
Fontes de pesquisa 4
- 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
- BARATA, Mário. As artes plásticas de 1808 a 1889. In: HOLANDA, Sérgio B. (Org). História Geral da Civilização Brasileira, Volume II, Tomo III, O Brasil Monárquico - reações e transações. São Paulo, Difel, 1982.
- LEVY, Carlos Roberto Maciel. Exposições gerais da Academia Imperial e da Escola Nacional de Belas Artes: período monárquico, catálogo de artistas e obras entre 1840 e 1884. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1990. v.1.
- SCHWARCZ, Lilia Moritz. As Barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 630 p., il. p&b color.
Como citar
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EXPOSIÇÕES Gerais de Belas Artes.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/termo869/exposicoes-gerais-de-belas-artes. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7