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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Pintura Alegórica

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 29.04.2016
Reprodução fotográfica arquivo Pinacoteca do Estado

La Faiseuse D`Anges (Tríptico), 1908
Weingartner
Óleo sobre tela
Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo/Brasil

O termo alegoria designa uma figura de estilo utilizada nas artes visuais e na literatura para expressar idéias abstratas e/ou sentimentos. Trata-se de expressar um pensamento ou conceito por meio de uma ou várias imagens (ou metáforas), com as quais se passa de um sentido literal a um sentido figurado ou alegórico. Embora próxima do símbolo, mo...

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Definição
O termo alegoria designa uma figura de estilo utilizada nas artes visuais e na literatura para expressar idéias abstratas e/ou sentimentos. Trata-se de expressar um pensamento ou conceito por meio de uma ou várias imagens (ou metáforas), com as quais se passa de um sentido literal a um sentido figurado ou alegórico. Embora próxima do símbolo, mostram os estudiosos, a alegoria dele se distingue; enquanto na relação simbólica o elo entre a imagem e sua significação é direta e clara - por exemplo, a imagem da cruz e a imagem da morte de Cristo na cruz -, na alegoria, essa relação é arbitrária, fruto de uma construção intelectual por exemplo, a imagem da mulher com os olhos vendados segurando uma balança, representando a justiça. A alegoria fala de outra coisa que não de si mesma (allos, do grego "outro"; agorein, "falar", allegoreno, "falar de outro modo"), o símbolo aproxima dois aspectos da realidade em uma unidade bem-sucedida (sym, "conjunto"; ballein, "lançar", "colocar"). A diferença entre alegoria e símbolo é estabelecida no Romantismo, em especial nos escritos de Goethe (1749 - 1832) e Schlegel (1772 - 1829). A crítica de Goethe condena a alegoria, defendendo ser a verdadeira poesia a simbólica. Walter Benjamin (1892 - 1940) reabilita a alegoria na época moderna justamente por seu caráter "arbitrário e deficiente". Em As Origens do Drama Barroco Alemão, 1928, o pensador da Escola de Frankfurt aponta a importância da alegoria para a visão barroca do mundo, indicando, ao mesmo tempo o seu lugar fundamental para a arte moderna. Recusando qualquer idéia de totalidade e de plenitude de sentido (almejadas pelas representações simbólicas), a imagem alegórica, por sua incompletude, seria a única capaz de dar conta de mundo capitalista moderno, que anula o sujeito e desintegra os objetos. O ressurgimento da alegoria na época moderna, segundo Benjamin, pode ser percebido, por exemplo, na obra poética de Baudelaire, que vê o capitalismo moderno como um cenário erguido sob o signo da destruição.

Alegorias são amplamente utilizadas na literatura de todas as épocas e nações: nas escrituras dos hebreus, em que a história de Israel é comparada ao crescimento de uma vinha no salmo 80; nos textos religiosos (como os de Santo Agostinho, Santo Ambrósio e São Paulo); na literatura clássica - o mito da caverna de Platão, que representa a passagem da ignorância à verdade; nas Metamorfoses, de Ovídio (43 a.C. - 17 d.C.); na Divina Comédia, 1321, de Dante Alighieri (1265 - 1321), considerada uma das maiores alegorias literárias; nas obras Os Triunfos, de Petrarca (1304 - 1374), que especula sobre o amor, a morte, a castidade etc. - e Amorosa Visão, de Boccaccio (1313 - 1375), por exemplo. O século XVI assiste a uma profusão de alegorias, em representações de vício e virtude, de vida e morte, como no Auto da Alma, 1518, e no Auto da Barca do Inferno, 1517, ambas de Gil Vicente (ca.1465 - ca.1537). Nos séculos XVII (A Marcha do Peregrino, 1678/1684, de John Bunyan, alegoria da salvação de Cristo) e XVIII (As Viagens de Gulliver, 1725, de Jonathan Swift), continuam sendo muito utilizadas. Obras como O Processo, 1925, e O Castelo, 1926, de Kafka, são exemplos do uso da alegoria na literatura moderna.

Formas e personagens alegóricos acompanham a história das artes visuais, da Grécia clássica à arte contemporânea. Alguns exemplos parecem suficientes para dar uma idéia geral de seu uso e disseminação. Ao longo do Renascimento vamos encontrar composições alegóricas, seja em obras figurativas de Giotto (ca.1267 - 1337) - as imagens femininas que personificam os vícios e as virtudes, no afresco da Capela dos Scrovegni (ca.1305/1306) - seja no conjunto de afrescos atribuído a Francesco Traini no Campo Santo de Pisa, no qual figura O Triunfo da Morte, ca.1350. Na Alta Renascença, é possível mencionar, entre outras, composições como A Temperança, de Perugino (ca.1450 - 1523) - parte de um afresco no Colégio de Cambio, em Perúgia (1497) -, trabalhos de Giorgione (1477 - 1510), que subordina o tema de parte de suas pinturas à evocação de estados de espírito, ou desenhos como o de Niccolò dell'Abate (ca.1509 - 1571), A Abundância, século XVI. Entre as mais conhecidas pinturas alegóricas do período estão os afrescos de Rafael (1483 - 1520) para as salas papais do Vaticano, como a Stanza della Segnatura, em que compõe alegorias da teologia, da filosofia e da poesia.

Entre os alemães, o nome de Albrecht Dürer (1471- 1528) pode ser lembrado em função de célebres gravuras alegóricas (A Morte e o Demônio, 1513, e Melancolia I, 1514). Nos séculos XVII e XVIII encontram-se obras alegóricas em Peter Paul Rubens (1577 - 1640), Alegoria sobre as Bênçãos da Paz, ca.1630, e Triunfo da Igreja sobre a Fúria, a Discórdia e o Ódio, 1628; em Luca Giordano (1634 - 1705), Apoteose dos Médici, 1682; em Giovanni Battista Tiepolo (1696 - 1770), A Humildade e a Mansidão, 1743, no teto da Scuola Del Carmine, Veneza; em Anton Raphael Mengs (1728 - 1779), O Parnaso, 1761, e em esculturas de Antonio Canova (1757 - 1822), como Amor e Psique, 1787/1793. Em pleno romantismo francês, François Rude (1784 - 1855) e Eugène Delacroix (1798 - 1863) constroem alegorias com base na história política da época. No famoso alto-relevo feito para o Arco do Triunfo, Partida dos Voluntários em 1782, popularmente conhecida como A Marselhesa, Rude Glorifica Alegoricamente a Revolução Francesa. No célebre A Liberdade Guiando o Povo, 1850, quando registra a insurreição de 1830 contra o poder monárquico, Delacroix representa a liberdade pela figura feminina, que ergue a bandeira da França sobre as barricadas. Trata-se de uma das mais conhecidas alegorias históricas, no caso alegoria da liberdade nacional. Em fins do século XIX, a alegoria é reabilitada com força nas interpretações simbolistas da arte clássica, como as telas alegóricas, que lembram afrescos, de Pierre Puvis de Chavannes (1824 - 1898), como O Verão, 1891.

A reação à arte acadêmica do século XIX, assim como às expressões líricas dos românticos, não significa que a arte do século XX descarte a alegoria como forma de representação. Parte da obra do austríaco Gustav Klimt (1862- 1918), expoente do art nouveau vienense, por exemplo, está marcada por claro timbre alegórico: os estudos para o teto da universidade (A Medicina, 1901, e A Jurisprudência, 1903/1907) e As Três Idades da Mulher, 1908. Na pintura metafísica italiana, por sua vez, os ambientes enigmáticos de Giorgio de Chirico (1888 - 1978) valem-se freqüentemente do recurso alegórico (Melancolia de uma Bela Tarde, 1913). Estados de alma estão representados alegoricamente em obras futuristas de Umberto Boccioni (1882 - 1916) - Os Adeuses, 1911. As vanguardas figurativas do século XX fazem uso de alegorias históricas, como nas pinturas murais mexicanas - em especial em trabalhos de Diego Rivera (1886 - 1957), em que a arte narra, alegoricamente, a história do país e exalta o fervor revolucionário do povo. O universo onírico e fantástico de certos artistas do surrealismo revela-se também como alegorias, vistas em diversas obras de Salvador Dalí (1904 - 1989), como A Persistência da Memória, 1931.

Na arte colonial brasileira, a alegoria é empregada com alguma freqüência, podendo ser encontrada, entre outras, nas obras de José Joaquim da Rocha (1737 - 1807) - forro da nave da Igreja e Convento de Santo Antônio, em João Pessoa - e nos painéis realizados por Teófilo de Jesus (1758 - 1847) para o Museu de Arte da Bahia. O forro da Biblioteca da Catedral Basílica de Salvador, atribuído a Antonio Simões Ribeiro (s.d. - 1755), apresenta as alegorias da sabedoria, do tempo, da fortuna e da fama. Na arte acadêmica brasileira, parte dos artistas envolve-se na construção da memória da nação, de timbre romântico, com base na eleição de alguns emblemas: o índio é talvez um dos mais importantes deles. Nesse sentido, as representações de personagens indígenas nesse período tomam a forma de alegorias da nação e do povo, por exemplo, Moema, 1866, de Victor Meirelles (1832 - 1903), Iracema, 1881, de José Maria de Medeiros (1849 - 1925) e O Último Tamoio, 1883, de Rodolfo Amoedo (1857 - 1941). A produção insólita e inclassificável de Alvim Correa (1876 - 1910) deve ser mencionada no que diz respeito à composição de ambiências grotescas de forte tom alegórico, por exemplo a sua série A Guerra dos Mundos, 1903.

No bojo do modernismo, é possível localizar uma ênfase alegórica no curto período antropofágico (1927-1929) da obra de Tarsila do Amaral (1886 - 1973), que eclode com Abaporu, 1928. Alguns trabalhos de Flávio de Carvalho (1899 - 1973) podem também ser lidos em chave alegórica (A Inferioridade de Deus, 1931, e Retrato Ancestral, 1932). Do mesmo modo, alegorias rondam as telas dos anos 1920 e 1930 de Cicero Dias (1907 - 2003) por exemplo, Persistir, 1926, O Eterno, 1927, Aurora Mulher, 1928, Alegoria de uma Partida, 1928, e o painel Eu Vi o Mundo... Ele Começava no Recife, 1926/1929. Na produção contemporânea, é possível lembrar a produção de Gilvan Samico (1928), a maior parte dela marcada por forte conteúdo alegórico (O Barco do Destino e as Três Garças do Rio, 1965, O Rapto do Sol, 1984, Criação das Sereias - Alegoria Barroca, 2002).

Obras 1

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Fontes de pesquisa 9

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  • 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
  • ALEGORIA. In: CEIA, Carlos. Dicionário de termos literários, 2005. Disponível em: [http://www.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/A/alegoria.htm]. Acesso em: 02 jun. 2006.
  • CALDERÓN, Demetrio Estébanez. Diccionario de términos literarios. Madrid: Alianza Editorial, 1999, 1134 pp. [El libro universitario].
  • CHASTEL, André. Arte italiana. Tradução Antônio de Pádua Panesi. São Paulo: Martins Fontes, 1991. 738 p. Il. p&b.
  • CHILVERS, Ian (org.). Dicionário Oxford de arte. Tradução Marcelo Brandão Cipolla. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
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  • GAGNEBIN, Jeanne Marie. Walter Benjamin. Os cacos da história. 2.ed. Tradução Sônia Salzstein. São Paulo: Brasiliense, 1993. 78 p. (Coleção Tudo é História).
  • La nuova enciclopedia dell'arte Garzanti. Milano: Garzanti, 1986.
  • SAMICO, Gilvan. Do desenho à gravura. Curadoria Ronaldo Correia de Brito; texto Ivo Mesquita, Ronaldo Correia de Brito. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2004. 80 p., il. color.

Como citar

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