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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Muralismo

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 26.12.2016
O termo refere-se à pintura mexicana da primeira metade do século XX, de feitio realista e caráter monumental. A adesão dos pintores aos murais de grandes dimensões está diretamente ligada ao contexto social e político do país, marcado pela Revolução Mexicana de 1910-1920. Após 30 anos de ditadura militar, o movimento revolucionário - ancorado n...

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Definição
O termo refere-se à pintura mexicana da primeira metade do século XX, de feitio realista e caráter monumental. A adesão dos pintores aos murais de grandes dimensões está diretamente ligada ao contexto social e político do país, marcado pela Revolução Mexicana de 1910-1920. Após 30 anos de ditadura militar, o movimento revolucionário - ancorado na aliança entre camponeses e setores urbanos, entre eles, intelectuais e artistas - projeta uma nação moderna e democrática, cujos alicerces repousam no legado das antigas civilizações pré-colombianas e na instituição de um Ministério da Cultura, dirigido pelo escritor José Vasconcelos. A política cultural do novo ministério tem como eixo o combate ao analfabetismo e a renovação cultural. O programa de pinturas de murais, narrando a história do país e exaltando o fervor revolucionário do povo, adquire lugar destacado no projeto educativo e cultural do período. Nos termos de Diego Rivera (1886-1957), um dos principais expoentes do muralismo mexicano, a arte "é uma arma", um instrumento revolucionário de luta contra a opressão. Os muralistas retomam produção gráfica de José Guadalupe Posada (1852-1913), engajada na crítica à ditadura militar de Porfírio Días (1876-1911).

O movimento da pintura mural no México se apóia em alguns pontos centrais. Antes de mais nada, a arte deve ter alcance social, isto é, deve ser acessível ao povo. Daí o descarte da pintura de cavalete e a opção pelos murais, de caráter decorativo e/ou comemorativo, que ocupam os lugares públicos, rompendo os círculos restritos de galerias, museus e coleções particulares. Do ponto de vista da elaboração de um repertório original, os artistas mobilizam fontes díspares: as antigas culturas maia e asteca, a arte popular e o folclore mexicano do período colonial, aliados às contribuições das modernas correntes artísticas européias, sobretudo o expressionismo alemão e as vanguardas russas. Os artistas visam romper com a arte acadêmica, tal como é praticada no século XIX, e criar uma arte original, ao mesmo tempo moderna - tributária das conquistas das vanguardas do começo do século XX - e autenticamente mexicana. Essas preocupações comuns são trabalhadas de modos diversos pelos pintores do grupo. Rivera, o mais célebre deles, reedita a pintura em afresco nos murais que realiza. Seus painéis - de forte cunho didático, comprometidos com uma crítica vigorosa ao capitalismo e com a projeção de ideais revolucionários e socialistas - estão repletos de figuras e acontecimentos, em que se combinam temas modernos e motivos tradicionais. Os 27 painéis pintados como afrescos do Instituto de Artes de Detroit, entre 1932 e 1933 (A Fábrica de Detroit), sintetizam suas preocupações centrais. Aí, elementos nacionais e das antigas culturas mexicanas convivem com o mundo da indústria e do trabalho fabril. As grandes figuras nuas recostadas no topo - tipos físicos nacionais representados como divindades antigas - pairam sobre o universo da indústria, das máquinas e engrenagens, representados na parte inferior. Nos murais realizados para diversos edifícios públicos na Cidade do México, observa-se o compromisso em construir narrativas históricas e alegóricas sobre o país por exemplo, A Execução do Imperador Maximiliano, do Ciclo da História do México (1930-1932), no Palácio Nacional.

Enquanto o aprendizado artístico de Rivera passa por uma estada na Europa - o cubismo de Juan Gris (1887-1927) e Pablo Picasso (1881-1973), os contatos com Fernand Léger (1881-1955), com o fauvismo e com Amedeo Modigliani (1884-1920) -, o de José Clemente Orozco (1883-1949) relaciona-se à permanência nos Estados Unidos, entre 1917 e 1919. Imediatamente após a Revolução de 1910, Orozco realiza os desenhos intitulados O México em Revolução, com vistas a fornecer às massas elementos para a compreensão da guerra. O estilo direto e caricatural das primeiras obras como por exemplo -  Maternidade e Os Ricos Banqueteiam-se Enquanto os Trabalhadores Lutam, realizados para a Escola Preparatória Nacional entre 1923 e 1924 -  dá lugar a uma dicção mais monumental e de tom simbolista nos afrescos de 1926 para a Casa dos Azulejos e para a Escola Industrial de Orizaba. David Alfaro Siqueiros (1896-1974) encontra no surrealismo uma de suas principais inspirações. Nos seus murais  a Morte ao Invasor (1941-1942), observa-se o uso de cores vibrantes e a combinação de realismo e fantasia. Rufino Tamayo (1899-1991), embora tenha realizado murais, afasta-se das orientações político-ideológicas mais diretas, preferindo naturezas-mortas, retratos e animais. Frida Kahlo (1907-1954) não pode ser classificada como muralista, mas aproxima-se do grupo em 1928, sobretudo em função de seu casamento com Rivera. O muralismo mexicano repercute nos Estados Unidos - na Arte do New Deal, dos anos de 1930 e em toda a América Latina.

No Brasil, influências do muralismo mexicano podem ser sentidas na obra de Di Cavalcanti (1897-1976), Candido Portinari (1903-1962). Portinari associa a pesquisa de temas nacionais, com forte acento social e político em trabalhos como Mestiço, de 1934, Mulher com Criança (1938) e O Lavrador de Café, em 1939. Nas décadas de 1940 e 1950, o artista realiza diversos projetos para painéis: Catequese dos Índios (1941), para a Library of Congress [Biblioteca do Congresso] em Washington D.C., Jangada do Nordeste (1953) e Seringueiro (1954), encomendados pelos Diários Associados.

Fontes de pesquisa 5

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  • ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do iluminismo aos movimentos contemporâneos. Tradução Denise Bottmann, Frederico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
  • CHILVERS, Ian (org.). Dicionário Oxford de arte. Tradução Marcelo Brandão Cipolla. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
  • KETTENMANN, Andrea. Frida Kahlo. Dolor y pasión. Madrid: Taschen, 2003. 96 p. il. p&b.color.
  • MALPAS, James. Realismo. Tradução Cristina Fino. São Paulo: Cosac & Naify, 2000. 80 p., il. color. (Movimentos da arte moderna).
  • PORTINARI, Candido. 25 anos sem Portinari. 1962-1987. São Paulo: Ralph Camargo, 1987, 151 pp. il. p&b.

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