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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Escola Fluminense de Pintura

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 02.03.2021
Escola fluminense de pintura é o nome que se dá aos pintores em atividade na cidade do Rio de Janeiro no século XVIII. O termo surge em 1841, em artigo do pintor, caricaturista, crítico, historiador de arte e professor Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879). Ele aceita a sugestão de seu mestre Jean-Baptiste Debret (1768-1848) para se dedicar ...

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Escola fluminense de pintura é o nome que se dá aos pintores em atividade na cidade do Rio de Janeiro no século XVIII. O termo surge em 1841, em artigo do pintor, caricaturista, crítico, historiador de arte e professor Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879). Ele aceita a sugestão de seu mestre Jean-Baptiste Debret (1768-1848) para se dedicar à história das artes no Brasil1 e inventar uma tradição para um país recentemente emancipado2 com Memória sobre a Antiga Escola de Pintura Fluminense.3 Este é o primeiro ensaio sobre história das belas artes brasileiras que se conhece.4 Para comprovar a existência de uma “nação brasileira”, anterior à criação do país propriamente dito, Porto-Alegre mostra que existe uma unidade entre os pintores do Rio de Janeiro do século XVIII.

Com esse artigo, a escola fluminense de pintura é considerada fato consumado na história da arte brasileira. Para os estudiosos Gonzaga Duque (1863-1911), Antônio da Cunha Barbosa e Argeu Guimarães, Porto-Alegre é a principal fonte. As críticas à falta de documentação só aparecem mais tarde.5

Os autores que tratam da escola fluminense costumam louvar a espontaneidade e bravura6 dos pintores e deplorar a baixa qualidade do desenho e da formação geral dos artistas7. Essas apreciações condizem com a ideia de progresso8 que perpassa esses textos, salvo os mais recentes. Os primeiros pintores são qualificados de “primitivos”, vistos como a “infância” da arte brasileira. A evolução acontece com a vinda da Missão Francesa e a criação da Academia Imperial de Belas Artes (Aiba). A crítica à formação dos artistas anteriores é um elogio à Aiba.

Junto com a ideia de progresso, encontra-se nos textos forte influência do pensamento do crítico e historiador francês Hippolyte Taine (1828-1893). Segundo ele, o meio, em seus aspectos geográficos, socioculturais e políticos, determina a arte produzida. Argeu Guimarães, por exemplo, diz, a respeito de Manuel da Cunha (1737-1829), que “tinha talento, e só não se arrojou a emprezas mais altas porque o nosso acanhado meio colonial não as permitia”.9

Hoje, a historiografia ainda não consegue preencher as lacunas referentes a essa escola. Continua difícil dar detalhes biográficos e estabelecer ligações entre os pintores. Assim, a composição do grupo varia de autor para autor. No artigo de Porto-Alegre, os membros são oito: Frei Ricardo do Pilar (ca. 1635-1700), José de Oliveira Rosa (ca.1690-1769), João Francisco Muzzi (17-- - 1802), João de Sousa (17--? - 17--?), Manuel da Cunha, Leandro Joaquim (ca. 1738- ca.1798), Raimundo da Costa e Silva (17-- - 18--) e José Leandro  de Carvalho (ca.1770-1834). Nos textos de Antônio da Cunha Barbosa e Argeu Guimarães, encontram-se também Manuel Dias de Oliveira (1763-1837), Antônio Alves, Francisco Pedro do Amaral (1790-1830), Frei Solano (ca.1743-1818), Domiciano Pereira Barreto e José Vidal. Os artistas seguem linha cronológica que se estende até o início do século XIX, quando da chegada da Missão Francesa e início da Aiba. Sabe-se que Manuel da Cunha, Leandro Joaquim, Raimundo da Costa e Silva, Manuel Dias de Oliveira e Francisco Pedro do Amaral eram mestiços.

Quanto à relação entre eles, costuma-se dizer que Frei Ricardo é mestre de José de Oliveira, que tem como discípulos Francisco Muzzi e João de Sousa. Este último, por sua vez, é mestre de Manuel da Cunha e Leandro Joaquim. Já Raimundo da Costa e Silva aprende com seu próprio pai. Manuel Dias de Oliveira viaja para a Europa e, na volta, tem José Leandro como aluno. Entretanto, poucas dessas ligações são comprovadas.10

Muitos comentadores identificam traços comuns nesses pintores. Porto-Alegre tem uma leitura evolutiva, que começa com Frei Ricardo, o “mais antigo”; passando por José de Oliveira, o “chefe da Escola Fluminense”; Francisco Muzzi, que faz cenografia; João de Sousa, da “classe dos coloristas”; Manuel da Cunha e Leandro Joaquim, “de pincel suave”; Raimundo da Costa e Silva, que prima “nas duas artes, da escultura e da pintura”; para, por fim, chegar a José Leandro, “o melhor pintor histórico e o mais fiel retratista de sua época”.11 Gonzaga Duque vê neles espontaneidade, devida à relação religiosa com os temas, o que não interfere na unidade de vista e semelhança no desenho e no sentimento de cor.12

Argeu Guimarães considera que há aperfeiçoamento, principalmente no desenho. Diz que a pintura de devoção perde espaço, e o retrato prospera; que o modelo vivo educa, e a concepção fica mais livre nas decorações reais, nos muros dos solares e na cenografia teatral.13

A historiadora Hannah Levy (1912-1984) vê como aspecto geral o distanciamento do estilo barroco, que se mostra no caráter estático e sóbrio das pinturas e se explica pela formação técnica deficiente.

Notas

1. SQUEFF, Letícia Coelho. Quando a história (re)inventa a arte: a escola de pintura fluminense. In: Rotunda, Campinas, n. 1, 2003, p.19. Disponível em: http://www.iar.unicamp.br/rotunda/rotunda01.pdf. Acesso em: 23 set.  2010.

2. Idem, p. 30.

3. PORTO-ALEGRE, Manuel de Araújo. Memória sobre a antiga escola fluminense de pintura. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro,  t. 3, p. 547-557, 1841. Disponível em: https://ihgb.org.br/publicacoes/revista-ihgb/item/107697-revista-ihgb-tomo-terceiro.html. Acesso em: 15 set 2010.

4. SQUEFF, op. cit., p. 20.

5. LEVY, Hannah. A pintura colonial no Rio de Janeiro. In: LEVY, Hannah; JARDIM, Luiz. Pintura e escultura I.  São Paulo: FAU/USP: MEC-Iphan, 1978. p. 70 e SQUEFF, op. cit., p. 31.

6. PORTO-ALEGRE, op. cit., p. 549 e BARBOSA, Antônio da Cunha. Aspecto da arte brasileira colonial. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro,  t. LXII, parte II, p. 108, 1894. Disponível em: https://ihgb.org.br/publicacoes/revista-ihgb/item/107795-revista-ihgb-tomo-lxiii-parte-ii.html.

7. BARBOSA, op. cit., p. 93; LEVY, op. cit., p. 89.

8. SQUEFF, op. cit., p. 27.

9. GUIMARÃES, op. cit., p.137.

10. LEVY, op. cit., p. 41

11. PORTO-ALEGRE, op. cit., p. 550 - 555.

12. Gonzaga Duque citado por BARBOSA, op. cit., p. 108.

13. GUIMARÃES, op. cit., p. 149.

Fontes de pesquisa 11

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  • ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
  • BARBOSA, Antônio da Cunha. Aspecto da arte brasileira colonial. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, 1898, t. LXI, parte I, p. 95 - 154. Disponível em: https://ihgb.org.br/publicacoes/revista-ihgb/item/107790-revista-ihgb-tomo-lxi-parte-i.html. Acesso em: 15 set. 2010.
  • BATISTA, Nair. Pintores do Rio de Janeiro colonial: notas bibliográficas. In: Pintura e escultura II. Compilacao Carlos Ott; compilação Joaquim Cardozo, Nair Batista. São Paulo: MEC/IPHAN : FAU/USP, 1978. 157 p., il. p&b. (Textos escolhidos da Revista do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 8). p.23-38.
  • GUIMARÃES, Argeu. História das artes plásticas no Brasil. Rio de Janeiro: Jornal do Commercio, 1918.
  • GUIMARÃES, Argeu. História das artes plásticas no Brasil. Rio de Janeiro: Jornal do Commercio, 1918.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. Negros, pardos e mulatos na pintura e na escultura brasileira do século XVIII. In: ARAÚJO, Emanoel (org.). A Mão afro-brasileira: significado da contribuição artística e histórica. São Paulo: Tenenge, 1988.
  • LEVY, Hannah. A pintura colonial no Rio de Janeiro. In: Pintura e escultura I. Compilação Hannah Levy, Luís Jardim. São Paulo: MEC/IPHAN : FAU/USP, 1978. 230 p., il. p&b. ( Textos escolhidos da Revista do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 7). p.35-96.
  • PORTO-ALEGRE, Manuel de Araújo. Memória sobre a antiga Escola fluminense de pintura. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, t. 3, p. 549-557, 1841. Disponível em: https://ihgb.org.br/publicacoes/revista-ihgb/item/107697-revista-ihgb-tomo-terceiro.html. Acesso em: 15 set. 2010.
  • REIS JÚNIOR, José Maria dos. História da pintura no Brasil. Prefácio Oswaldo Teixeira. São Paulo: Leia, 1944.
  • SILVA, Áurea Pereira da. Pintura colonial no Rio de Janeiro e em são Paulo. In: Pintura Colonial. Apresentação Ernest Robert de Carvalho Mange; texto Frederico Morais, Lélia Coelho Frota, José Roberto Teixeira Leite. São Paulo: Instituto Cultural Itaú, 1994. 51 p. , il. color. (Cadernos história da pintura no Brasil, 7).
  • SQUEFF, Letícia Coelho. Quando a história (re)inventa a arte: a Escola de pintura fluminense. In: Rotunda, nº 1, Campinas: Centro de Pesquisas em História das Artes no Brasil (CEPAB), Instituto de Artes, Unicamp 2003, p.19 - 31. Disponível em: http://www.iar.unicamp.br/rotunda/rotunda01.pdf. Acesso em 23 set. 2010.

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