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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Margareth Menezes

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 07.11.2024
13.10.1962 Brasil / Bahia / Salvador
Margareth Menezes da Purificação (Salvador, Bahia, 1962). Cantora, compositora, atriz. Margareth Menezes é precursora do gênero samba-reggae, que emerge no fim dos anos 80. Entre os artistas expoentes do movimento, ela é uma das que mais se dedica a cantar letras que afirmam a autoestima do povo negro brasileiro. A voz grave é uma marca de sua m...

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Margareth Menezes da Purificação (Salvador, Bahia, 1962). Cantora, compositora, atriz. Margareth Menezes é precursora do gênero samba-reggae, que emerge no fim dos anos 80. Entre os artistas expoentes do movimento, ela é uma das que mais se dedica a cantar letras que afirmam a autoestima do povo negro brasileiro. A voz grave é uma marca de sua musicalidade, bem como a mistura de elementos do universo rítmico baiano (como a batida do ijexá1) com influência da música pop brasileira e mundial.
 
O interesse pela música surge no ambiente familiar. Cresce ouvindo tios e o avô materno tocando violão, acompanha a mãe em sambas de roda, se encanta pelas serestas e festas religiosas no bairro onde nasce e é criada (Boa Viagem) e se interessa pela música que o pai ouve na vitrola em casa, como Alcione (1947), Ângela Maria (1929-2018), Clara Nunes (1942-1983) e Jackson do Pandeiro (1919-1982).  Essa diversidade na formação é determinante na música que Margareth desenvolve depois, com referências que passam pelo samba, pelo baião, pela música romântica e pelos ritmos de matriz africana.
 
Pede o primeiro violão à mãe ainda aos três anos, mas só ganha o instrumento quando completa 15 anos. No mesmo ano, integra o Coral da Igreja Congregação Mariana de Boa Viagem. O trabalho com arte, no entanto, começa por intermédio do teatro que estuda na escola. Em 1980, estreia como atriz na peça Ser Ou Não Ser Gente. Paralelamente, canta em bares de Salvador de forma amadora. Em 1986, a música ganha protagonismo em sua carreira profissional e no ano seguinte integra o bloco de carnaval 20 Vê. Também em 1987, canta ao lado de Pepeu Gomes (1952) no VIII Festival de Música do Caribe, em Cartagena (Colômbia). De volta ao Brasil, grava a canção “Faraó (Divindade do Egito)”, música de Luciano Gomes, que se torna um grande sucesso e é reconhecida como a primeira no estilo samba-reggae, uma mistura de samba de roda com a influência do reggae jamaicano e o funk estadunidense.
 
Assina o primeiro contrato com uma grande gravadora e lança o primeiro álbum, homônimo, em 1988. O trabalho mostra a diversidade rítmica que caracteriza toda sua obra ao longo dos anos. “Mãe Lua”, por exemplo, é uma balada sem o acento percussivo e dançante pelo qual é mais conhecida. Essa marca está em “Uma História de Ifá (Ilejbô)”, a primeira música do disco. Os tambores apresentam a batida do samba-reggae na introdução, que logo ganha a companhia de um teclado eletrônico; os dois elementos pontuam todo o arranjo e são exemplares da combinação que Margareth usa em muitos de seus sucessos, com o ritmo associado à tradição baiano em fusão com referências da música pop mundial.
 
É essa mesma receita que embala, por exemplo, outros grandes sucessos como “Raça Negra” (lançado em 1993, no álbum Luz Dourada) e “Dandalunda” (do disco Afropopbrasileiro, de 2001). As três canções têm em comum também a ênfase na temática da negritude nas letras e, cada uma a seu modo, celebram a ancestralidade africana. “Uma História de Ifá (Ilejbô)” faz referência a uma cidade nigeriana, “Raça Negra” reverencia os orixás e espiritualidade negra e “Dandalunda” exalta uma divindade do candomblé.
 
Em 1989, o músico estadunidense David Byrne (1952) a convida para abrir os shows de sua banda Talking Heads. Margareth apresenta a turnê “Rei Momo” em 42 países e sua obra ganha visibilidade internacional. Assina um contrato com a gravadora Mango / Island Records, que lança seu segundo disco Um Canto Pra Subir nos Estados Unidos, Candadá e México. No ano seguinte, o álbum Elegibô é lançado na Europa, Estados Unidos e Japão com repertório que reúne faixas dos dois primeiros discos da artista.
 
Nos anos 1990, lança mais três discos: Kindala (1991), Luz Dourada (1994) e Gente de Festa (1995). No primeiro, destacam-se as versões para as canções “Fé Cega, Faca Amolada”, de Milton Nascimento (1942) e Ronaldo Bastos (1948), e “Mosca na Sopa”, de Raul  Seixas (1945-1989) – essa com participação de Elba Ramalho (1951) e flertes tanto com o rock como com o rap. Já “Me Abraça, Me Beija” traz participação do jamaicano Jimmy Cliff (1944) e é uma das muitas canções do repertório de Margareth que envereda para o reggae. Luz Dourada marca uma mudança na sonoridade, mais acústica, baseada em voz, violão e percussão. Gente de festa traz as participações de Maria Bethânia (1946) em “Libertar” e Caetano Veloso (1942) em “Vestido de Prata”.
 
Em 2001, depois de quatro anos sem contrato com gravadora, cria o selo Estrela do Mar e lança quatro discos de estúdio ao longo da década: Afropopbrasileiro (2001), Tete a Tete Margareth (2003), Pra Você (2006) e Naturalmente (2008). No álbum Autêntica (2019), grava “Mãe Preta”, da também baiana Luedji Luna (1987), uma das compositoras das gerações seguintes que se declara influenciada por Margareth. A letra exalta a ancestralidade da mulher negra – tema presente em outra canção do repertório, “Minha Diva, Minha Mãe”.

Para além da carreira musical, funda a Associação Fábrica Cultural, de combate ao trabalho infantil, exploração sexual e outras violações de direitos e dirige o Mercado Iaô, agência de produção cultural baiana. Em 2023,  Margareth Menezes assume o cargo de ministra da cultura no mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (1945).
 
Embora sem alcançar o mesmo êxito de artistas associadas à indústria da Axé Music, como Cláudia Leite, Daniela Mercury e Ivete Sangalo, Margareth Menezes pavimenta a estrada para o sucesso da batida do samba reggae que é a base para o movimento que embala o carnaval da Bahia desde os anos 90. É a artista mais empenhada em enfatizar as ancestralidades negras nesse contexto e destacar os ritmos de matriz africana na linguagem pop.

Nota

1. Ritmo musical de origem Iorubá, oriundo da Nigéria. Além de ser tocado nas cerimônias de Candomblé e ser um simbolo da resistência de negros e negras trazidos de África escravizados, dá origem ao ritmo conhecido como afoxé, presente na música popular baiana

 

 

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