Roberta Sá
Texto
Roberta Varella de Sá (Natal, Rio Grande do Norte, 1980). Cantora e compositora. Com um repertório que combina clássicos do samba, bossa nova, MPB e composições inéditas de artistas de diferentes gerações, é uma das novas intérpretes da música brasileira mais prestigiadas a partir dos anos 2000.
Durante a infância, tem contato com a música por intermédio dos pais. Conhece nessa época as primeiras referências de rock internacional, jovem guarda, MPB e música regional. Muda-se de Natal para o Rio de Janeiro aos nove anos. Aos 18, faz intercâmbio no Missouri, Estados Unidos, e participa de um coral. De volta ao Rio, mantém os estudos em canto. Sua voz se acomoda nas regiões graves, mas alcança com delicadeza os timbres agudos, um dos trunfos de sua interpretação.
Por recomendação da professora Vera Canto e Mello, participa em 2002 do programa Fama, da TV Globo, reality show de jovens talentos. Lá, conhece Felipe Abreu, que a incentiva a preparar um show e lhe apresenta seu futuro produtor musical, o violonista e guitarrista Rodrigo Campello (1960). Ele produz uma demo para a cantora. O autor de telenovelas Gilberto Braga (1945) ouve o trabalho e a convida para gravar a canção “A Vizinha do Lado”, de Dorival Caymmi (1914-2008). A gravação integra a trilha sonora da novela Celebridade, que vai ao ar em 2003.
Ao longo da carreira, Roberta tem colaborações de importantes nomes da MPB, como Gilberto Gil (1942), Ney Matogrosso (1941) e Chico Buarque (1944). As parcerias ocorrem na composição e/ou na interpretação das canções. Sua discografia tem início com o álbum Braseiro (2005), considerado por ela uma homenagem à música popular brasileira. Canções como "Eu sambo mesmo", de Janet de Almeida (1919-1945), “Pelas Tabelas”, de Chico Buarque, e “Valsa da solidão”, de Paulinho da Viola (1942), integram a obra como memórias afetivas da cantora, representando elementos de sua formação profissional. Além de Ney Matogrosso (em “Lavoura”), fazem participações especiais o grupo MPB-4 (em “Cicatrizes”) e o compositor e cantor Pedro Luís (em “No Braseiro”). O trabalho apresenta o potencial da artista e as características que a diferenciam de outras cantoras de sua geração: a doçura e a técnica vocal que lhe permite ir, com naturalidade, do samba animado às canções introspectivas.
A estreia de Roberta como compositora ocorre em 2007, quando produz, em parceria com Pedro Luís, “Janeiros”, que integra o álbum Que belo estranho dia pra se ter alegria. Nesse disco, opta por regravar composições menos conhecidas, como “Alô Fevereiro”, de Sidney Miller (1945-1980), e “Cansei de Esperar Você”, de Dona Ivone Lara (1922-2018) e Delcio Carvalho (1939-2013). A faixa “Fogo e Gasolina”, de Pedro Luís e Carlos Rennó (1956), traz participação do compositor e cantor Lenine (1959) e flerta com uma estética mais pop. O trabalho reúne músicos consagrados no cenário da música instrumental, como o flautista Carlos Malta (1960), o bandolinista Hamilton de Holanda (1976), o trombonista Zé da Velha (1942) e o trompetista Silvério Pontes (1960).
Quando o Canto é Reza (2010) é o primeiro trabalho em que a artista se dedica exclusivamente a um único compositor. As 13 faixas são de autoria do baiano Roque Ferreira (1947), oito delas inéditas. Na instrumentação, Roberta também escolhe um caminho até então inédito: canta acompanhada do Trio Madeira Brasil. Essas escolhas resultam em um trabalho mais próximo do choro e do samba baiano.
Segunda Pele (2012) retoma o caminho dos dois primeiros trabalhos, com sonoridade e repertório mais abrangentes (referências ao samba, à MPB, ao frevo e à música pop). A regravação de “Deixa Sangrar”, de Caetano Veloso (1942), se mistura a canções inéditas, como “Altos e Baixos”, de Lula Queiroga (1960) e Yuri Queiroga, e “Bem a Sós”, de Rubinho Jacobina. Ela canta pela primeira vez em outra língua que não o português em “Esquirlas”, do compositor uruguaio Jorge Drexler (1964).
Giro (2018) é um mergulho na obra de Gilberto Gil, com 11 músicas inéditas do baiano. Ele desafia a intérprete com melodias que não se encaixam em seu tom padrão e a estimula a alcançar regiões agudas não muito exploradas nos discos anteriores.
O valor da produção artística de Roberta é reconhecido em prêmios como o da Associação Paulista de Críticos de Arte – APCA 2007 (concedido na categoria de melhor cantora de música popular) e o Prêmio da Música Brasileira de 2017 (entregue a ela como melhor cantora de samba).
A obra de Roberta Sá lhe garante um lugar de destaque entre as melhores intérpretes brasileiras da virada do milênio. O ecletismo na escolha do repertório (com reinvenções de músicas consagradas e personalidade na interpretação de canções inéditas) e o esmero da interpretação a colocam em uma linha evolutiva em que Gal Costa e Marisa Monte ocupavam espaço cativo nas décadas anteriores.
Mídias (1)
Aquecimento vocal, parcerias musicais e preparação corporal são elementos que integram a trajetória de Roberta Sá, que surpreende mostrando o bordado como técnica que a auxilia em seu processo de relaxamento.
A próxima surpresa revelada é a definição de seu contato com a música como recurso de cura. Ela recorda ter superado uma desilusão amorosa na adolescência por meio de uma aula de canto e, anos mais tarde, é incentivada a desistir da faculdade pelo pai para seguir a carreira musical.
A Enciclopédia Itaú Cultural apresenta a série Encontra, produzida pelo canal Arte 1. Em um bate-papo com Gisele Kato, o público é convidado a entrar nas casas e ateliês dos artistas, conhecendo um pouco mais sobre os bastidores de sua produção.
Créditos
Presidente: Milú Villela
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Superintendente administrativo: Sérgio Miyazaki
Núcleo de Enciclopédia
Gerente: Tânia Rodrigues
Coordenação: Glaucy Tudda
Núcleo de Audiovisual e Literatura
Gerente: Claudiney Ferreira
Coordenação: Kety Nassar
Arte 1
Direção: Gisele Kato/ Ricardo Sêco
Produção: Yuri Teixeira
Edição: Patrícia Sato
Fontes de pesquisa 3
- MARIA, Julio. Roberta Sá navega nas superfícies de um canto técnico em novo disco. O Estado de São Paulo, São Paulo, 12 out. 2015. Disponível em: https://cultura.estadao.com.br/noticias/musica,roberta-sa-navega-na-superficie-de-um-canto-tecnico--,1777967. Acesso em: 11 jul. 2019.
- MARIA, Julio. Roberta Sá: alguém tinha de levantar a bandeira do afeto. O Estado de São Paulo, São Paulo, 28 abr. 2019. Disponível em: https://cultura.estadao.com.br/noticias/musica,roberta-sa-alguem-tinha-de-levantar-a-bandeira-do-afeto,70002806162. Acesso em: 11 jul. 2019.
- PENNAFORT, Roberta. Roque Ferreira por Roberta Sá. O Estado de São Paulo, Rio de Janeiro, 2 ago. 2010.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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ROBERTA Sá.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa640171/roberta-sa. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7