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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Lorenzo Fernandez

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 31.01.2024
04.11.1897 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
27.08.1948 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Oscar Lorenzo Fernández (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro 1897 - idem 1948). Compositor, professor, regente. Filho de imigrantes espanhóis, convive com a música desde criança, ouvindo a mãe entoar canções flamencas e árias de zarzuela nos frequentes saraus organizados em casa. Aos 15 anos, começa a tocar piano “de ouvido”, recebendo de sua irmã Am...

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Biografia

Oscar Lorenzo Fernández (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro 1897 - idem 1948). Compositor, professor, regente. Filho de imigrantes espanhóis, convive com a música desde criança, ouvindo a mãe entoar canções flamencas e árias de zarzuela nos frequentes saraus organizados em casa. Aos 15 anos, começa a tocar piano “de ouvido”, recebendo de sua irmã Amália, aluna do compositor e pianista Henrique Oswald (1852-1931), algumas noções de teoria. Logo começa a tocar música popular em festas dançantes do Centro Galego, apenas por diversão, já que a profissão a que aspira é a medicina. Aos 18, porém, um grave distúrbio nervoso o impede de prestar as provas de ingresso na faculdade. Como recurso terapêutico, recebe aulas regulares de piano, que o levam a desistir da carreira de médico e a ingressar no Instituto Nacional de Música (INM), em 1917. Tem aulas de teoria e solfejo com J. Otaviano (1892 - 1962), contraponto, fuga e composição com Francisco Braga (1868 - 1945), piano com Henrique Oswald e harmonia com Frederico Nascimento (1852 - 1924). Quando este adoce, em 1923, Fernández o substitui na cadeira de harmonia, efetivando-se no cargo dois anos depois.

Embora suas primeiras composições datem de 1918, só obtém reconhecimento público em 1924, quando seu Trio Brasileiro, para piano, violino e violoncelo, ganha o primeiro lugar no Concurso Internacional de Música de Câmara da Sociedade de Cultura Musical, entidade que ajuda a fundar, em 1920. Seguem-se outras obras de relevo, como a Suíte Sinfônica sobre Três Temas Populares Brasileiros (1925), sua primeira obra orquestral, estreada com  regência de Nicolino Milano, ou a Suíte para Quinteto de Sopros (1926), primeira obra composta no Brasil para essa formação. Em 1929, estreia o poema sinfônico Imbapara, baseado em temas musicais dos índios parecis, gravados por Roquette-Pinto em excursão a Mato Grosso. No ano seguinte, compõe a suíte orquestral Reisado do Pastoreio, cuja dança final, intitulada Batuque, constitui o maior êxito de sua carreira, incluída no repertório de grandes regentes, como o italiano Arturo Toscanini (1867 - 1957), o norte-americano Leonard Bernstein (1918 - 1990) e o neerlando-americano Hans Kindler (1892 - 1949), que a grava com a Sinfônica Nacional de Washington.

Entre 1930 e 1931, publica a revista Ilustração Musical, que alcança oito números. Nessa época, estreita laços com escritores modernistas, o que resulta na composição de Malazarte (1933), ópera com libreto em italiano de Salvatore Ruberti sobre texto homônimo de Graça Aranha (1868 - 1931), cuja estreia só ocorre em 1941. Para ela, escreve outro Batuque, muitas vezes confundido com o do Reisado.

Como maestro e professor, ajuda a divulgar a música brasileira no exterior. Entre 1938 e 1941, viaja para diversos países da América do Sul e Central, e realiza conferências e concertos de música brasileira em que rege obras suas e de compositores como Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959), Alberto Nepomuceno (1864 - 1920) e Henrique Oswald. Participa da criação de importantes instituições, como o Conservatório Brasileiro de Música (CBM), que funda em 1936 e dirige até o fim da vida, e a Academia Brasileira de Música, fundada por Villa-Lobos em 1945, onde ocupa a cadeira n° 15. Ativo até o fim da vida, falece em casa logo após ter regido um concerto.

Análise

Ao lado de Francisco Mignone (1897 - 1986), Lorenzo Fernández é considerado o principal expoente da chamada “segunda geração nacionalista” da música brasileira, da qual também fazem parte Dinorah de Carvalho (1905 - 1980), Frutuoso Viana, João de Souza Lima (1898-1982), Heckel Tavares (1896 - 1969), entre outros compositores nascidos no limiar do século XIX para o XX. Embora influenciado por Villa-Lobos, expoente da geração anterior, é tido como seguidor de Alberto Nepomuceno, de quem recebe lições, na casa de seu mentor Frederico Nascimento, em função da verve lírica e das sugestões pictóricas de suas composições.

Apesar de pouco extensa, sua obra é relativamente variada, contemplando diferentes gêneros e formações, e caracterizada pelo apuro formal. Ao mesmo tempo, seu nacionalismo não é homogêneo, variando ao longo de sua trajetória artística, dividida pelo crítico Vasco Mariz1 em três fases distintas. Na primeira, entre 1918 e 1922, recebe grande influência do romantismo e do impressionismo francês, sem se preocupar com a construção de uma linguagem musical brasileira. Suas composições desse período, a exemplo de Miragem (1919), para piano, ou A Saudade (1921), para canto e piano, caracterizam-se pela politonalidade e por uma estrutura harmônica complexa, inspirada nas técnicas composicionais desenvolvidas por Claude Debussy (1862-1918). Evita as grandes formas musicais, como sonata, sinfonia e concerto, compondo peças breves com títulos descritivos.

A segunda fase, entre 1922 e 1938, caracteriza-se pela busca de uma brasilidade musical. Presente em São Paulo durante a Semana de Arte Moderna de 1922, Fernández trava contato com Mário de Andrade (1893 - 1945), cujas ideias nacionalistas o influenciam fortemente, levando-o a compor com base em materiais folclóricos. Raramente, porém, utiliza temas populares diretamente em suas composições, preferindo inspirar-se em suas constâncias melódicas, rítmicas e harmônicas, por meio das quais reconstrói certa “ambiência brasileira”. Dessa fase, destacam-se canções, grande parte delas escrita sobre textos de autores modernistas. Toada pra Você (1928), a mais famosa, com letra de Mário de Andrade, tem a primeira edição de mil exemplares esgotada na primeira semana, fato inédito na música impressa brasileira até então. Também merecem destaque Macumba (1926), com versos de Murilo Araújo, Tapera (1929), sobre poema de Cassiano Ricardo (1895 - 1974), Serenata (1930), com letra de Menotti del Picchia (1892 - 1988), Noite de Junho (1933), sobre texto de Ronald de Carvalho (1893 - 1935), Essa Nega Fulô (1934), com letra de Jorge de Lima (1893 - 1953). Como sugerem seus títulos, pintam verdadeiros quadros sonoros de paisagens brasileiras, evocando a rusticidade do sertão, os batuques de escravos e as serestas urbanas. Do ponto de vista musical, elas se inspiram na tradição modinheira, evocando muitas vezes o clima seresteiro do Rio de Janeiro. A influência da música urbana também se faz notar nos acompanhamentos de ritmo sincopado, típico dos gêneros afro-brasileiros. Outra característica marcante dessas canções diz respeito à relação entre melodia e letra. Muito preocupado com a fonética, Fernández procura respeitar à risca a metrificação do texto, aspecto elogiado por Mário de Andrade, que afirma ter a sensação de ser Fernández “o único dos nossos compositores que conhece metrificação poética e sabe que a fonética existe”.2

Também data dessa segunda fase a única ópera do compositor, Malasarte (1933), igualmente caracterizada pelo uso de formas populares – sendo, nesse quesito, pioneira no teatro lírico brasileiro. Ao longo da obra, é possível reconhecer trechos de canções de roda (como Terezinha de Jesus, citada literalmente), ritmos característicos (como o “batuque” e a “marcha-rancho”) e instrumentos típicos afro-brasileiros (como o pandeiro).

Na música instrumental, desenvolve importante obra pianística, igualmente marcada pelo cunho nacionalista. Nela também é perceptível a influência da música urbana carioca, como se nota em Velha Modinha, da Primeira Suíte Brasileira (1936), inspirada na tradição modinheira, ou em Valsa Suburbana (1932), cuja mão esquerda, mimetizando os baixos cantantes dos violões, evoca ambiência da música seresteira. O Jongo, da Terceira Suíte Brasileira (1938), é uma de suas peças de maior aceitação entre os pianistas, sendo incorporado ao repertório de muitos deles pela sua riqueza rítmica de grande efeito, baseada no gênero afro-brasileiro homônimo. Segundo sua filha Maria, o compositor costuma frequentar terreiros de candomblé a fim de conhecer a riqueza rítmica das manifestações afro-brasileiras e incorporá-las em suas composições.

Após quatro anos sem compor, Fernández inicia a terceira e última fase de sua obra, que se estende de 1942 a 1948 e se caracteriza pela busca de uma linguagem musical universal, em que os signos da brasilidade aparecem de forma mais sutil ou depurada, como nas suas duas Sinfonias (1945 e 1947) ou nas Variações Sinfônicas para Piano e Orquestra (1948). Desse período, destacam-se ainda o Segundo Quarteto (1946) e a Sonata Breve (1947), para piano, nos quais o nacionalismo praticamente desaparece. Nessa fase, dedica-se com mais afinco à música sinfônica, destacando-se pela maestria de suas orquestrações.

Além de compositor, Fernández tem grande importância como crítico e educador musical. Seus artigos Bases para a Organização da Música no Brasil (1930) e Canto Coral nas Escolas (1931), ambos publicados na revista Ilustração Musical, antecipam muitas das reformas sofridas na educação musical brasileira. Assessora Villa-Lobos no programa de educação musical do governo Vargas, participando das atividades da Superintendência de Educação Musical e Artística (Sema) da prefeitura do Distrito Federal e lecionando no Conservatório Nacional do Canto Orfeônico a partir de 1942. À frente do Conservatório Brasileiro de Música (CBM), inaugura cursos pioneiros no Brasil, como o de iniciação musical, ministrado por Francisco de Sá Pereira, o de técnica dodecafônica, por Hans-Joachim Koellreutter (1915 - 2005), e o de música eletroacústica. Suas preocupações de educador transparecem em sua obra, que se notam no grande número de peças infantis para piano, como O Cavaleiro Fantástico, O Barquinho de Vela, Marcha dos Soldadinhos Desafinados, e outras.

Notas

1 Em História da Música no Brasil,  de Vasco Mariz.

2 Ver Aspectos da Música Brasileira, de Mário de Andrade.

Obras 1

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Espetáculos de dança 1

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Fontes de pesquisa 6

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  • ANDRADE, Mario de. Aspectos da música brasileira. São Paulo: livraria Martins Editora, 1965.
  • AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa de. 150 Anos de Música no Brasil (1800-1950). Rio de Janeiro: José Olympio, 1956.
  • FRANÇA, Eurico Nogueira. Lorenzo Fernandez: compositor brasileiro. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1950.
  • KIEFER, Bruno. Oscar Lorenzo Fernandez: música para piano e canções. Latin American Music Review, vol. 7, n° 1 (Spring-Summer, 1986). p. 81-98
  • Mariz, Vasco. História da música no Brasil. 6.ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2005.
  • RODRIGUES, Lutero.Francisco Mignone e Lorenzo Fernandez. In: Revista Textos de Brasil: Música Clássica Brasileira. Brasília: Ministério de Relações Exteriores, 2006. p. 98-103

Como citar

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