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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Souza Lima

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 29.10.2023
21.03.1898 Brasil / São Paulo / São Paulo
21.11.1982 Brasil / São Paulo / São Paulo
João de Souza Lima (São Paulo, São Paulo, 1898 - Idem, 1982). Pianista, regente, compositor e professor. Começa os estudos de piano aos quatro anos, com o irmão, José Augusto, passando a ser orientado por Luigi Chiaffarelli (1856-1923). Estuda harmonia, contraponto e composição com Agostino Cantù (1878-1943), e violoncelo, como instrumento compl...

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Biografia

João de Souza Lima (São Paulo, São Paulo, 1898 - Idem, 1982). Pianista, regente, compositor e professor. Começa os estudos de piano aos quatro anos, com o irmão, José Augusto, passando a ser orientado por Luigi Chiaffarelli (1856-1923). Estuda harmonia, contraponto e composição com Agostino Cantù (1878-1943), e violoncelo, como instrumento complementar, com Saverio Simoncelli. Atua como acompanhador, tocando ao lado de instrumentistas como Guido Santorsola (1904-1994), violinista e compositor uruguaio, e Alferio Mignone, flautista, pai do compositor Francisco Mignone (1897-1986). Apresenta-se em bailes e em cinemas da capital paulista, como Cine Marconi, Cinema Central e Teatro Esperia. Como compositor, produz alguns tangos brasileiros de sucesso, entre os quais Amor Avacalhado1, incluído na obra orquestral Le Boeuf Sur le Toit (1920), do francês Darius Milhaud (1892-1974). Frequenta Vila Kyrial, mansão do mecenas Freitas Valle (1870-1958), membro da comissão do Patronato Artístico de São Paulo. Instigado pelo compositor francês Xavier Leroux (1863-1919), Valle concede a Souza Lima, em 1919, bolsa de estudos para aperfeiçoamento na Europa. Em Paris, é aluno de piano de Isidor Philipp (1863-1958), ingressando, em seguida, no Conservatório. Estuda na classe de Marguerite Long (1874-1966), e recebe o primeiro prêmio do concurso pianístico da instituição em 1922. Participa, ainda, de concerto com a soprano Bidu Sayão (1902-1999) e faz amizade com  Heitor Villa-Lobos (1887-1959). De volta ao Brasil, em 1931, atua com Villa-Lobos em excursões musicais pelo interior de São Paulo, patrocinadas pelo interventor de Getulio Vargas (1883 -1954) no estado, João Alberto (1897-1955). Com a criação, em 1935, do Departamento Municipal de Cultura da cidade de São Paulo, dirigido por Mario de Andrade (1893-1945), inicia suas atividades de regente, à frente da Orquestra Sinfônica Municipal. Atua como diretor artístico da Rádio Tupi e da Rádio Gazeta, e participa da fundação, em 1954, da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). Como professor, forma os pianistas Amaral Vieira (1952), Yara Ferraz e Eny da Rocha, dentre outros. É membro fundador da Academia Brasileira de Música (cadeira n. 38).

Análise

Em sua História da Música no Brasil, Vasco Mariz (1921) chama Souza Lima de “segunda personalidade do meio musical paulista”, depois de Camargo Guarnieri (1907-1993)2. Egresso da excelente escola de Luigi Chiaffarelli, obtém destaque ao piano. Ao ouvi-lo, no concurso do Conservatório de Paris, o virtuose ucraniano Alexandre Brailowsky (1896-1976) louva, no Le Courier Musical, a “facilidade de sua técnica, o fogo e a inteligência de sua interpretação”, julgando-o “claramente superior aos outros concorrentes”3.

Desenvolve especial afinidade com o repertório francês, aperfeiçoando-se nas obras de Claude Debussy (1862-1918) com Emma Bardac (1862-1934), e nas de Maurice Ravel (1875-1937) com o próprio Ravel. Defende a música brasileira em recitais solo, música de câmara e concertos com orquestra, em apresentações na Europa e na América do Sul. Francisco Mignone dedica-lhe suas quatro fantasias brasileiras para piano e orquestra.

De volta ao Brasil, atua por dez anos como pianista do Trio São Paulo, com Anselmo Zlatopolsky no violino, e Calixto Corazza no violoncelo. Inicia a carreira de regente no Teatro Municipal de São Paulo, à frente da Orquestra Sinfônica Municipal, com a qual colabora por 32 anos. A lista de artistas que se apresentam sob sua batuta inclui astros internacionais como o violonista espanhol Andrés Segovia (1893-1987) e os pianistas norte-americanos Mieczyslaw Horszowski (1892-1993), Rudolf Firkusny (1912-1994), o polonês Christoph Eschenbach (1940), e o austríaco Friedrich Gulda (1930-2000).

Como diretor artístico da Rádio Tupi, dota a emissora de uma orquestra sinfônica, dirigida por Torquato Amore, além de um conjunto jazzístico e um sertanejo. Nessa época, o elenco da emissora conta com nomes como o cantor Nelson Gonçalves (1919-1998) e o humorista Zé Fidélis (1910-1985). Na Rádio Gazeta, monta uma equipe integrada pelos regentes Armando Belardi (1898-1989) e Edoardo de Guarnieri, assim como pelo compositor Ascendino Theodoro Nogueira (1913-2002). Na música popular, acompanha a cantora norte-americana Josephine Baker (1906-1975), em uma apresentação no Rio de Janeiro.

Souza Lima é laureado na juventude nos concursos da Casa Levy (com uma valsa e um tango para piano solo) e do Centro Musical de São Paulo (com um minueto orquestral). Seu poema sinfônico “O Rei Mameluco” ganha o primeiro lugar em concurso promovido pelo Departamento Municipal de Cultura de São Paulo, em 1937. Obtém menção honrosa em 1942, em concurso sinfônico organizado nos EUA, por Henry Reichold, com o “Poema das Américas”.

Se até o final da década de 1940 é considerado por Vasco Mariz como compositor “menos que bissexto” pela escassez de suas obras, a partir daí sua produção cresce. O pesquisador francês Gerard Béhague (1937-2005) destaca que ele cultiva um estilo nacionalista em suas obras. Exemplos são a ópera Andrea del Sarto e os balés Lendas brasileiras (1941) e Brasil Moderno (1960). O nacionalismo também fica evidente em obras para piano como Valsa brasileira, Dança no Campo (1959),  Noturno (1968) ou em canções e obras corais como Lenda (1958), Divagação (1959), Canto do Matuto (1936 e Contos Infantis Brasileiros, (1973)4.

Notas

1 Esse tango não tem relação com a canção homônima, gravada em 1915, por Eduardo das Neves.

2 MARIZ, Vasco. História da Música no Brasil. 5. ed. rev. e ampliada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

3 LIMA, Souza. Moto perpetuo: a visão da vida através da música: autobiografia do maestro Souza Lima. São Paulo: Ibrasa, 1982.

4 SADIE, Stanley (ed.). The New Grove dictionary of music and musicians. London: Macmillan Publishers, 1995.

Fontes de pesquisa 5

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  • ANDRADE, Mário de. Música e jornalismo: Diário de São Paulo. São Paulo: Hucitec: Edusp, 1993.
  • LIMA, Souza. Moto perpetuo: a visão da vida através da música: autobiografia do maestro Souza Lima. São Paulo: Ibrasa, 1982.
  • MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998.
  • MARIZ, Vasco. História da Música no Brasil. 5. ed. rev. e ampliada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
  • SADIE, Stanley (Ed.). The New Grove dictionary of music and musicians. London: Macmillan Publishers, 1995.

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