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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Camargo Guarnieri

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 27.10.2022
01.02.1907 Brasil / São Paulo / Tietê
13.01.1993 Brasil / São Paulo / São Paulo
Mozart Camargo Guarnieri (Tietê SP 1907 - São Paulo SP 1993). Compositor, regente, pianista. Filho de Miguel Guarnieri, barbeiro e flautista, e de Géssia Arruda Camargo Penteado, pianista. Dos pais recebe as primeiras lições de música. Aos 10 anos, tem aulas com o clarinetista Benedito Flora e mais tarde com Virgínio Dias, a quem dedica sua prim...

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Biografia

Mozart Camargo Guarnieri (Tietê SP 1907 - São Paulo SP 1993). Compositor, regente, pianista. Filho de Miguel Guarnieri, barbeiro e flautista, e de Géssia Arruda Camargo Penteado, pianista. Dos pais recebe as primeiras lições de música. Aos 10 anos, tem aulas com o clarinetista Benedito Flora e mais tarde com Virgínio Dias, a quem dedica sua primeira composição,Sonho de Artista (ca.1920). Em 1922, muda-se com a família para São Paulo e, dois anos mais tarde, começa a ter aulas de piano com Ernani Braga. Paralelamente, trabalha tocando piano na loja de instrumentos Casa Di Franco e no Cine Bijou.

Após três anos de estudos com Ernani Braga, passa a ter aulas com Antônio Sá Pereira e, de 1926 a 1930, com o regente italiano Lamberto Baldi (1895 - 1979). Com Baldi estuda harmonia, contraponto, fuga e orquestração simultaneamente e logo é convocado a fazer parte da orquestra, em que toca instrumentos de teclado: piano, xilofone e celesta.

Por intermédio do pianista Antônio Munhoz, conhece o escritor Mário de Andrade, em 1928. Suas composições Dança Brasileira e a 1ª Sonatina para Piano impressionam o escritor, que identifica a música de Guarnieri com seu modo de pensar, ou seja, traz critérios nacionalistas na construção de uma brasilidade na arte musical erudita, e passa a apoiá-lo com críticas construtivas encorajando e estimulando-o em seu trabalho. O ano de 1928 marca também o início de sua carreira como professor de piano e acompanhamento no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, no qual permanece até 1933.

Em 1930, Camargo Guarnieri escreve a canção O Impossível Carinho sobre poesia de Manuel Bandeira, um marco no canto de câmara no Brasil, do qual é um dos mais populares. Um ano depois, mostra o Choro nº 3, para flauta, oboé, fagote, clarinete e trompa, no Instituto Nacional de Música (INM), que enfatiza seu interesse pelas formas nacionais de música popular.

Assume, em 1935, a direção e regência do Coral Paulistano, cujo enfoque é apresentar obras de compositores brasileiros que utilizam textos em português, muito raros nessa época. Recebe um prêmio de viagem à Europa do Conselho de Orientação Artística do Estado de São Paulo, em 1938. Em Paris estuda contraponto, fuga e composição com Charles Koechlin (1867-1950), regência de orquestra e de coro com François Rühlmann (1868-1948), regente da Orquestra da Ópera de Paris. Camargo Guarnieri apresenta suas canções em recitais e dirige alguns concertos em Paris. Retorna ao Brasil em novembro de 1939, em decorrência da Segunda Guerra Mundial.

Em outubro de 1942, após aceitar convite da Pan-American Union, como hóspede do Departamento de Estado Norte-Americano,viaja pela primeira vez para os Estados Unidos. Permanece nesse país por um período de seis meses, e recebe o prêmio pelo 1º Concerto, para violino e orquestra, que se classifica em primeiro lugar no Concurso Internacional Fleischer Music Collection. Faz duas apresentações como regente da Orquestra Sinfônica de Boston na abertura concertante. Assume, em 1945, o cargo de regente supervisor da Orquestra Municipal de São Paulo.

No período de 1956 a 1960 atua como assessor musical de Clovis Salgado (1906-1978), ministro de Educação e Cultura do governo Juscelino Kubitschek (1902-1976), e elabora um plano para o ensino de música no Brasil. Em 1960, escreve a ópera de um ato Um Homem Só, com libreto do teatrólogo e ator ítalo-brasileiro Gianfrancesco Guarnieri.

Em 1975 ocupa o cargo de regente e diretor artístico da Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo e permanece nessa função até 1992. Recebe no mesmo ano o Prêmio Gabriela Mistral, da Organização dos Estados Americanos (OEA), que lhe confere o título de Maior Músico das Três Américas.


 
Comentário crítico

A vida musical de Camargo Guarnieri é diversificada, ele desempenha tripla função em sua carreira profissional: de compositor, professor e regente. Como compositor representa a concretização musical do nacionalismo modernista. Suas relações com as ideias modernistas, e particularmente com Mário de Andrade, têm características muito especiais. Mário de Andrade e Lamberto Baldi tornam-se os responsáveis pela sua formação: Baldi desenvolve os aspectos técnicos enquanto Mário de Andrade o orienta em estética e cultura geral. Inicia-se outro período na vida de Camargo Guarnieri, que tem, na época, somente os dois primeiros anos da escola primária concluídos, na cidade de Tietê. Nesse sentido é possível compreender seu eterno reconhecimento por esses dois homens, aos quais atribui toda a sua educação.

Uma das primeiras coisas que Baldi faz é colocá-lo na orquestra. Estuda o dia todo, toca na orquestra e à noite após o jantar tem aula com o professor e outros sete alunos. A experiência como músico na orquestra é fundamental para o seu desenvolvimento, pois, além de regente, Baldi é um inovador que apresenta pela primeira vez vários trabalhos contemporâneos nos teatros brasileiros. Muitas peças do compositor russo Igor Stravinsky (1882 - 1971), por exemplo, têm as primeiras audições latino-americanas sob sua regência, em São Paulo. Essa experiência possibilita que escreva as primeiras composições para orquestra, começando pela Suíte Infantil, em 1929.

O nacionalismo de Camargo Guarnieri não consiste em citar melodias folclóricas nem empregar elementos folclóricos não modificados. Em toda a sua obra existem poucos exemplos de utilização direta desses temas, entre eles estão as Variações sobre um Tema Nordestino (1953), para piano e orquestra, e a melodia que faz parte do quinto movimento da Suíte Vila Rica para Orquestra (1958). Quer ser reconhecido como compositor nacional e não como compositor folclórico, mas acredita que a música brasileira nacionalista pressupõe a inspiração no material folclórico.

Passa os primeiros 15 anos de sua vida na cidade de Tietê, no interior paulista e tem como referência as canções e danças dos grupos musicais da região. As terças paulistas encontradas em sua obra nascem da lembrança das escutas musicais da infância. Dança Brasileira, composição de 1928, escrita inicialmente para piano e mais tarde para orquestra, surge da memória que o compositor tem das comemorações da abolição da escravatura em sua cidade, no dia 13 de maio, quando o ritmo das danças dos negros é contínuo durante os festejos.

Em sua música aparecem com frequência os ritmos fortes dos cocos e emboladas, as suaves sincopadas das toadas e modinhas e as rodas. Todos esses aspectos são encontrados principalmente nos Cinquenta Ponteios para Piano e também nas composições sinfônicas. Utiliza com regularidade a forma de composição ABA (primeira parte, segunda parte e repetição da primeira), em que a parte B nem sempre recebe material novo, mas é um desenvolvimento de A e frequentemente ao retornar ao A, harmoniza de forma diferente, dando uma nova cor ao tema. O modo mixolídio (sétimo grau da escala meio tom abaixo) e o modo do nordeste (além do sétimo grau meio tom abaixo, apresenta o quarto grau meio tom acima) estão bastante presentes em suas composições.

Em 1932 passa grande parte de seu tempo analisando partituras dos compositores Arnold Schoenberg (1874 - 1951), Alois Haba (1893 - 1973), Alban Berg (1885 - 1935) e Paul Hindemith (1895-1963). Por esse motivo suas composições dessa época começam a apresentar referências do atonalismo. No entanto, a partir de 1934, escreve obras que define como livres de um sentido tonal, não tonais em vez de atonais.

Nos anos 1950, Camargo Guarnieri se manifesta contra o método serial de composição da forma como é utilizado pelo compositor Hans-Joachim Koellreutter em Salvador, Bahia. Em carta aberta aos músicos e críticos do Brasil, chama a atenção dos jovens de talento que procuram a composição dirigida por fórmulas antes de desenvolver uma verdadeira técnica e ter orientação estética segura. Essa carta o coloca na liderança dos compositores que utilizam as formas tradicionais em suas composições.

Suas declarações tornam difíceis as explicações do próprio estilo de compor que naturalmente se desenvolve. Muitas pessoas se perguntam se ele muda o modo de pensar quando utiliza a técnica serial em seu Concerto nº 5 ,para piano e orquestra, de 1970. Ele declara: "Não estou mudando de ideia. Vivo no presente e minha música é atual. Você pode reconhecer que a música é minha, mas a personalidade de minha música está sempre ligada ao presente".

Como professor de composição desenvolve a formação de centenas de alunos e é um dos poucos músicos a formar uma escola. Entre os jovens compositores que passam pelo seu estúdio estão Osvaldo Lacerda, Sérgio de Vasconcellos Correa, Aylton Escobar, Almeida Prado e Marlos Nobre.

Apresenta um grande interesse pelo ensino de música no país e elabora um plano para o ensino de música, no período em que é assessor musical de Clovis Salgado, ministro de Educação e Cultura do governo do presidente Juscelino Kubitschek. Propõe que os alunos frequentem o conservatório das 7 horas da manhã às 6 da tarde, estudando música e todas as outras matérias do currículo escolar, como ocorre na época em países como os Estados Unidos. Nomeia uma comissão de músicos para, junto com ele, estudar e melhorar o projeto e envia cópias para todas as escolas de música do Brasil pedindo opiniões e sugestões. Recebe apenas duas respostas negativas e o projeto não é concretizado.

Obras 1

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Espetáculos 2

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Exposições 3

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Fontes de pesquisa 4

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  • ANDRADE, Mario. Aspectos da música brasileira. Livraria Martins Editora, São Paulo, 1965.KATZ, Leonel; ALBIN, Ricardo Cravo; MAXIMO, João; SOUZA, Tárik de; HORTA, Luis Paulo. Brasil, rito e ritmo. Aprazível Edições, Rio de Janeiro, 2003/2004.
  • MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998.
  • OSUSP - Orquestra Sinfònica da USP disponível em: http://www.usp.br/osusp/maestro_camargo.html.
  • VERHAALEN, Marion. Camargo Guarnieri - expressões de uma vida. EDUSP, São Paulo, 2001.

Como citar

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