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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Sinfonias 1 a 6

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 24.01.2017
1944
1985
Em 2001, o maestro John Neschling (1947) leva os engenheiros de som da gravadora Bis à Sala São Paulo, para gravar, com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), as sinfonias n. 2 e 3 e a Abertura Concertante, de Camargo Guarnieri (1907-1993). Em 2003, é a vez da Abertura Festiva e das sinfonias n. 1 e 4, do mesmo autor – um ciclo co...

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Histórico
Em 2001, o maestro John Neschling (1947) leva os engenheiros de som da gravadora Bis à Sala São Paulo, para gravar, com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), as sinfonias n. 2 e 3 e a Abertura Concertante, de Camargo Guarnieri (1907-1993). Em 2003, é a vez da Abertura Festiva e das sinfonias n. 1 e 4, do mesmo autor – um ciclo concluído no ano seguinte, com a Suíte Vila Rica e as sinfonias n. 5 e 6. Lançados separada e paulatinamente no mercado internacional, os discos são reunidos em um estojo único pela gravadora Biscoito Fino, em 2007 – ano que marca o centenário de nascimento do compositor.

Criada em 1973 por Robert von Bahr, a Bis Records está sediada na Suécia. Possui um catálogo de mais de 1700 itens, abrangendo de música medieval a contemporânea, destacando-se pela qualidade sonora de seus registros. A gravação da música orquestral de Guarnieri marca o início da associação da Osesp com a gravadora – parte da estratégia de Neschling para a inserção internacional da orquestra.

Membro da Academia Brasileira de Música (cadeira n. 12), Neschling cria uma política sistemática de encomenda e execução de obras de compositores nacionais pela Osesp, chegando a fundar, no âmbito da orquestra, a Editora Criadores do Brasil, para publicar a música dos autores brasileiros. Para dar a largada desse projeto, o maestro escolhe Mozart Camargo Guarnieri – não apenas o principal compositor paulista do século XX, como um dos mais importantes autores orquestrais brasileiros de todos os tempos.

O desenvolvimento de uma linguagem sinfônica no Brasil é bastante tardio. Devido à influência de Portugal, nossa música tem, por séculos, inflexão italianizante. Assim, durante o período de estabelecimento e consolidação da sinfonia na Europa, nos século XVIII e XIX, os compositores brasileiros se dedicam essencialmente à composição de música sacra e óperas.

Dessa forma, nossos principais autores sinfônicos surgem no século XX. Dentre eles, destaca-se Camargo Guarnieri, de um nacionalismo militante, moldado nos ensinamentos de Mário de Andrade (1893-1945) e transmitido aos diversos discípulos que com ele estudam.

Em entrevista concedida em 1970, o compositor reconhece seu débito para com o autor de Losango Cáqui, cuja casa constitui para ele uma verdadeira universidade: “quando o conheci, meus conhecimentos eram primários. Ele traçou um plano para desenvolver minha cultura geral e, além disso, me emprestava seus livros, pois naquela época eu não tinha meios para comprá-los" [3]. Tal presença se faz sentir em suas partituras sinfônicas, muito embora Andrade não tenha chegado a ouvir nenhuma obra do compositor no gênero: o escritor falece em 25 de fevereiro de 1945, e a primeira sinfonia de Guarnieri estreia em 9 de março do mesmo ano, em São Paulo.

Em célebre texto dos anos 1940, o compositor norte-americano Aaron Copland define o compositor como “o mais sensacional dos talentos ‘desconhecidos’ da América do Sul”, chamando sua inspiração de “mais ordenada que a de Villa-Lobos (1887-1959), mas não menos brasileira”.

Onde Copland fala de inspiração “ordenada”, pode-se ler apuro formal. O próprio Guarnieri, certa vez, afirma: “sou um brahmsiano: a forma é minha alucinação. Isso não quer dizer que ela me prende, ao contrário, uso-a a serviço de minha imaginação e de minha expressão. O que vale na forma é o seu aspecto geral, mas dentro dela recrio sempre novas propostas”. E complementa: “a forma clássica da sonata é muito elástica. O esqueleto é o que vale. Dentro dela podemos fazer o que quisermos"[2].

Não surpreende, assim, um músico “alucinado” pela forma ter se dedicado com tamanho afinco a uma forma clássica como a sinfonia. Ao todo, o compositor deixa sete obras no gênero, que se espalham ao longo de quatro décadas de sua trajetória: a primeira sinfonia de Guarnieri é de 1944, enquanto a derradeira data de 1985. Algumas obtém destaque internacional, como a Sinfonia n. 2 (1945), laureada com o segundo lugar no Concurso Internacional Sinfonia das Américas, em Detroit, em 1948, com prêmio de US$ 5 mil para o compositor. Lorenzo Fernandez e Villa-Lobos também participam do certame, mas sem obter classificação.

Neschling faz a primeira gravação mundial das sinfonias n. 1 (1944, dedicada a Serguei Koussevitzky), n. 4 (1963, intitulada “Brasília”, e dedicada a Leonard Bernstein), n. 5 (1977, com coro, e texto de seu irmão, o poeta Rossine Guarnieri) e n. 6 (1981). Não chega a gravar a sétima sinfonia do compositor, preferindo se concentrar em outras obras orquestrais importantes, como a Suíte Vila Rica (1958), a partir da trilha sonora para o filme Rebelião em Vila Rica, dos irmãos Geraldo e Renato Santos Pereira.

Os discos revelam uma rítmica vigorosa, a veia melódica lírica e o contraponto elaborado que conferem às peças orquestrais do compositor um colorido que as fazem, simplesmente, gostosas de ouvir. A interpretação feita pela OSESP, registrada com técnicas de gravação moderna, é mais afinada que as bem-intencionadas, mas precárias, gravações anteriores. Com repercussão internacional, as sinfonias n. 1 a 4 são destacadas em artigo na revista francesa Diapason com o grau máximo, o Diapason d'Or, enquanto o crítico Andrew Clements do jornal britânico The Guardian destaca a vitalidade rítmica [3] da obra.

Notas
[1] VERHAALEN, Marion – Camargo Guarnieri: Expressões de Uma Vida: São Paulo, Edusp, Imprensa Oficial de São Paulo, 2001.
[2] GUARNIERI, Camargo apud TACUCHIAN, Ricardo in SILVA, Flávio (org.) – Camargo Guarnieri: o tempo e a música: Rio de Janeiro, Funarte: São Paulo, Imprensa Oficial de São Paulo, 2001.
[3]  Clements, Andrew. Guarnieri: Symphonies Nos 1 & 4; Abertera Festiva, Sao Paulo Symphony/ Neschling. Disponível em: http://www.guardian.co.uk/music/2003/nov/28/classicalmusicandopera.shopping8  Acesso em: 15 maio 2013.

Fontes de pesquisa 3

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  • LACERDA, Osvaldo. Meu professor Camargo Guarnieri. In: SILVA, Flávio (Org.). Camargo Guarnieri: o tempo e a música. São Paulo: Imprensa Oficial; Rio de Janeiro: Funarte, 2001. p. 57-67.
  • PERPETUO, Irineu Franco. Com Osesp, composições de Guarnieri ganham CD triplo: São Paulo:1997. Folha de S. Paulo, Ilustrada, São Paulo, 8 de junho de 1997.
  • VERHAALEN, Marion. Camargo Guarnieri - expressões de uma vida. EDUSP, São Paulo, 2001.

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