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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

John Neschling

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 31.01.2024
1947 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
John Luciano Neschling (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1947). Maestro e compositor. Sua avó, Malvine Bodanzky, é prima-irmã do compositor Arnold Schönberg (1874-1951), e casada com o maestro Arthur Bodanzky. Neschling é descendente de austríacos, e começa na música pelo piano, instrumento que estuda com Georg Geszti. Ingressa nos seminários da ...

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Biografia

John Luciano Neschling (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1947). Maestro e compositor. Sua avó, Malvine Bodanzky, é prima-irmã do compositor Arnold Schönberg (1874-1951), e casada com o maestro Arthur Bodanzky. Neschling é descendente de austríacos, e começa na música pelo piano, instrumento que estuda com Georg Geszti. Ingressa nos seminários da Pro-Arte, onde é aluno de Homero de Magalhães (piano), Esther Scliar (teoria e solfejo), Georg Wassermann (harmonia e contraponto) e Heitor Alimonda, que descobre sua vocação para a regência. Em 1965, entra na Academia de Música de Viena, onde é aluno de regência de Hans Swarowsky. Aperfeiçoa-se nessa área em 1972, em Tanglewood, Estados Unidos, com Leonard Bernstein e Stanislaw Skrowaczewski. Prêmios em concursos internacionais de regência em Florença (1969), Londres (1972) e Scala de Milão (1976) dão início à sua trajetória profissional. No Brasil, atua como diretor artístico do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (1982-1983) e do Theatro Municipal de São Paulo (1989-1990); na Europa, desempenha função análoga no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa (1983-1988) e, na década de 1990, no Stadttheater St. Gallen, na Suíça, e no Teatro Massimo de Palermo, Itália. De 1991 a 1993, é maestro residente da Ópera Estatal de Viena e, de 1995 a 1997, regente titular da Orquestra Nacional Bordeaux-Aquitaine, França. A grande inflexão em sua carreira ocorre ao assumir a direção artística da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), que dirige de 1997 a 2009, levando a cabo um vigoroso programa de reformulação que estabelece a Osesp como principal orquestra do país. Demitido da sinfônica em 2009, cria, no mesmo ano, a Companhia Brasileira de Ópera, com a qual realiza dezenas de apresentações de O Barbeiro de Sevilha, de Rossini, por todo o território nacional. Em 2012, é o principal regente convidado da Orquestra Sinfônica do Paraná. Em 2013, assume a direção artística do Theatro Municipal de São Paulo. Além de regente, é autor de trilhas sonoras para cinema e teatro, com destaque para os filmes Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1977), Pixote - A Lei do Mais Fraco (1980), O Beijo da Mulher Aranha (1985), de Hector Babenco (1946-2016), Gaijin - Os Caminhos da Liberdade (1980), de Tizuka Yamasaki (1949), Os Condenados (1973), de Zelito Viana (1938) e Desmundo (2003), de Alain Fresnot (1951), além da minissérie televisiva Os Maias (2001) e da telenovela Esperança (2002-2003).

Análise

A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo é o grande divisor de águas na carreira de John Neschling. Nos anos em que está à frente da Osesp, o regente estabelece o principal paradigma de qualidade em termos de organização e nível de performance de música sinfônica no país. Desde então, todas as orquestras brasileiras desejosas de elevar seu nível artístico seguem, em maior e menor grau, o modelo da Osesp.

Antes de chegar ao comando da orquestra, Neschling tem uma carreira essencialmente marcada pela atividade operística. Em breves períodos, dirige o Theatro Municipal do Rio de Janeiro e o de São Paulo, ocupando ainda cargos de chefia em casas europeias.

Em Bonn, em 1994, rege uma produção da ópera Il Guarany, de Carlos Gomes, dirigida pelo cineasta alemão Werner Herzog (1942), e protagonizada por Plácido Domingo. Um dos maiores tenores da segunda metade do século XX, com mais de uma centena de papéis no currículo, Domingo encontra-se, então, no auge da fama, devido aos seus concertos internacionais dos Três Tenores, ao lado dos colegas Luciano Pavarotti e José Carreras.

A gravação da performance é lançada internacionalmente em CD pela multinacional Sony e, dois anos mais tarde, a montagem é levada à Ópera Nacional de Washington (Estados Unidos). O ano é 1996: Neschling se encontra, assim, em momento de projeção quando a secretaria de Estado da Cultura de São Paulo começa a procurar um sucessor para o maestro Eleazar de Carvalho, falecido em setembro deste mesmo ano, depois de comandar a Osesp por mais de duas décadas.

Os músicos da orquestra votam e produzem uma lista tríplice, com os nomes de Fabio Mechetti, Roberto Tibiriçá e John Neschling. A escolha da secretaria recai sobre este último, que declara não ter tempo ou interesse para reger a orquestra na situação em que ela se encontra naquela época, e começa a empreender um ambicioso projeto de reestruturação1.

Nos anos finais da gestão de Carvalho, a Osesp se encontra em estado descrito pela imprensa como de penúria2. A programação é irregular, o nível salarial, baixo, o local de ensaios (colégio Caetano de Campos) inadequado e os concertos são realizados na acústica deficiente do Memorial da América Latina.

Neschling assume o cargo em 1997. Realiza provas de reavaliação dos integrantes da orquestra, contrata novos músicos, eleva os salários e estabelece uma programação regular com solistas e regentes convidados de renome internacional. O padrão de excelência técnica escolhido é o germânico, o que se reflete tanto na escolha dos músicos, quanto no repertório executado pela orquestra. A Osesp de Neschling privilegia a diversidade, tocando obras do século XVIII ao XXI, com especial carinho pela música brasileira e contemporânea, mas sem perder de vista o cerne do repertório austro-germânico, visto como essencial para a construção da sonoridade da orquestra.

Paralelamente, trabalha pela criação de uma estrutura profissional de apoio à orquestra, empreendendo projetos como a Academia de Música da Osesp, para a formação de jovens instrumentistas; o Centro de Documentação Musical Eleazar de Carvalho; e a Editora Criadores do Brasil, dedicada à publicação de partituras de compositores brasileiros.

O regente prioriza, ainda, a busca de uma nova sede para a orquestra. Em 1998, a Osesp reinaugura e ocupa provisoriamente o Teatro São Pedro, construído em 1917. E, no ano seguinte, muda-se definitivamente para a Sala São Paulo, edifício originalmente construído em 1938 para a Estrada de Ferro Sorocabana e reformado para se tornar uma sala de concertos.

Instalado na Sala São Paulo, Neschling coloca a Osesp para gravar com regularidade: os discos de repertório internacional (sinfonias de Beethoven, Brahms, Schumann e Tchaikvoski) saem pelo selo brasileiro Biscoito Clássico, enquanto que as obras de autores nacionais são lançadas pela gravadora escandinava Bis.

Neschling e a Osesp gravam obras orquestrais de compositores como Camargo Guarnieri, Cláudio Santoro, Francisco Mignone e Villa-Lobos, entre outros. Elogiados pela crítica especializada nacional e internacional, os álbuns recebem cinco prêmios Diapason d'Or e um Grammy Latino.

A orquestra faz turnês pelo Brasil e pelo mundo. A primeira excursão internacional, na América Latina, ocorre em 2000; Neschling comanda a Osesp ainda em viagens aos EUA (2002 e 2006) e Europa (2003 e 2007), com apresentações no Avery Fisher Hall, em Nova York, e Musikverein, em Viena.

Tido como um homem de temperamento difícil e irascível, Neschling também acumula crises e enfrentamentos ao longo de sua gestão na orquestra. Em 2001, demite sumariamente sete músicos da Osesp, depois de desentendimentos em um ensaio3. No ano seguinte, a revelação de ganhos de US$ 400 mil ao ano causa questionamentos4.

Os atritos se agravam com a posse de José Serra como governador do Estado de São Paulo, em 2007. No ano seguinte, Neschling anuncia que não pretende renovar seu contrato, que vence em 2010, com a Fundação Osesp, que gere a orquestra. No final de 2008, dá uma entrevista criticando a ingerência governamental nos assuntos da Osesp e a condução de sua sucessão5. Em função da repercussão da entrevista, é demitido em janeiro de 2009 pelo presidente da Fundação Osesp, Fernando Henrique Cardoso, encerrando seu ciclo à frente da orquestra.

Como regente, Neschling se destaca antes pelo arrebatamento do que pela precisão. Identifica-se especialmente com o repertório austro-germânico da virada do século XIX para o XX - compositores como Gustav Mahler, Richard Strauss, Alexander von Zemlinsky e Arnold Schönberg, entre outros, cujo padrão de escrita orquestral luxuriante de certa forma se reflete na estética de Neschling como compositor de trilhas sonoras.

Notas

1 NESCHLING, John. Neschling deve suceder Eleazar na Osesp. São Paulo:1996. Folha de S. Paulo, Ilustrada, São Paulo, 14 de outubro de 1996. Entrevista concecida a Irineu Franco Perpetuo

2 GIRON, Luis Antônio. Jazz Sinfônica trabalha menos e gasta mais. São Paulo: 1994. Folha de S. Paulo, Ilustrada, 12 de setembro de 1994.

3 PERPETUO, Irineu Franco. Osesp despede sete músicos sem dizer o motivo. São Paulo: 2001. Folha de S.Paulo, Ilustrada,  27 de agosto de 2001.

4 CARVALHO, Mario Cesar. Secretaria da Cultura paga contrato sigiloso. São Paulo: 2002. Folha de S. Paulo, Ilustrada, 21 de maio de 2002.

5 NESCHLING, John. Minha sucessão está sendo feita de maneira irresponsável. São Paulo: 2008. O Estado de São Paulo, Caderno 2, 9 de dezembro de 2008. Entrevista concedida a João Luiz Sampaio.

Obras 3

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Espetáculos 15

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Fontes de pesquisa 12

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  • CARVALHO, Mario Cesar. Secretaria da Cultura paga contrato sigiloso. São Paulo: 2002. Folha de S. Paulo, Ilustrada, 21 de maio de 2002.
  • CARVALHO, Tania. Ney Latorraca: uma celebração. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004. (Aplauso Especial). 792.092 L358c
  • EICHBAUER, Hélio. [Currículo]. Enviado pelo artista em: 24 abr. 2011. Não catalogado
  • GIRON, Luis Antônio. Jazz Sinfônica trabalha menos e gasta mais. São Paulo: 1994. Folha de S. Paulo, Ilustrada, 12 de setembro de 1994.
  • GUIADASEMANA. Rio de Janeiro. Disponível em: < http://www.guiadasemana.com.br/Rio_de_Janeiro/Artes_e_Teatro/Evento/Entre_Quatro_Paredes.aspx?id=80931 >. Acesso em :03 de agosto de 2011. Não catalogado
  • MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998.
  • NESCHLING, John. Minha sucessão está sendo feita de maneira irresponsável. São Paulo: 2008. O Estado de São Paulo, Caderno 2, 9 de dezembro de 2008. Entrevista concedida a João Luiz Sampaio.
  • NESCHLING, John. Música Mundana. Rio de Janeiro: Rocco, 2009.
  • NESCHLING, John. Neschling deve suceder Eleazar na Osesp. São Paulo:1996. Folha de S. Paulo, Ilustrada, São Paulo, 14 de outubro de 1996. Entrevista concecida a Irineu Franco Perpetuo.
  • NESTROVSKI, Arthur (org.) - Em branco e preto: artes brasileiras na Folha, 1990-2003. São Paulo: Publifolha, 2004.
  • PERPETUO, Irineu Franco. Osesp despede sete músicos sem dizer o motivo. São Paulo: 2001. Folha de S.Paulo, Ilustrada, 27 de agosto de 2001.
  • Programa do Espetáculo - Rasga Coração - 1980. Não catalogado

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