Tizuka Yamasaki
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Biografia
Tizuka Akiyoshi Yamasaki (Porto Alegre, RS, 1949). Cineasta, produtora e roteirista. Nasce em uma fazenda no interior do Rio Grande do Sul, mas é criada em Atibaia, São Paulo. Aos 15 anos muda-se para a capital paulista para terminar os estudos do ensino médio. Em 1970, vai para Brasília cursar arquitetura na Universidade de Brasília (UnB). Dois anos depois, transfere-se para a Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, no curso de cinema.
Seu primeiro filme é o curta-metragem em 16 mm Mouros e Cristãos (1972), coordenado pelo diretor Nelson Pereira dos Santos (1928). Com ele, trabalha como assistente de direção em O Amuleto de Ogum (1974) e Tenda dos Milagres (1977). É assistente do cineasta Glauber Rocha (1939-1981) em A Idade da Terra (1978-1980), além de colaborar com outros diretores, como Lael Rodrigues (1951-1989). Em 1978, abre sua própria produtora, a Centro de Produção e Comunicação (CPC). Dirige seu primeiro longa-metragem, Gaijin - Caminhos da Liberdade, em 1980, que traz história baseada em experiências de sua família, composta de imigrantes japoneses. Conquista vários prêmios, incluindo o de melhor filme no Festival de Gramado e uma menção especial do júri no Festival de Cannes daquele ano.
Três anos depois, lança seu segundo longa, Parahyba Mulher Macho (1983) - baseado no livro Anayde Beiriz, Paixão e Morte na Revolução de 30, de José Joffily (1945). Recebe por ele alguns prêmios, entre os quais o de melhor filme no júri popular do Festival de Brasília (1983) e também o de melhor direção no Festival de Cartagena, na Colômbia. Realiza o filme Patriamada (1988), que trata sobre o movimento Diretas Já!, nos anos 1980. Passa um longo período fazendo trabalhos de direção para a televisão, como a minissérie O Pagador de Promessas (1987), para a Rede Globo, e a novela Kananga do Japão (1989), na TV Manchete.
Volta à direção cinematográfica, em 1990, com Lua de Cristal, direcionado para o público infantojuvenil, protagonizado por Xuxa Meneghel (1963) e Sérgio Malandro (1955). Seis anos depois, faz o longa Fica Comigo (1996) - um drama que aborda o tema da adoção. Realiza mais uma sequência de filmes dirigidos ao público infantil: O Noviço Rebelde (1997), com o humorista Renato Aragão (1935); Xuxa Requebra (1999); e Xuxa Pop Star (2000). Retorna ao tema da imigração japonesa com Gaijin: Ama-me como Sou (2005), conquistando os prêmios kikito de melhor filme e direção no Festival de Gramado do mesmo ano. Em 2009, dirige outro filme infantil, Xuxa em o Mistério de Feiurinha. Também dirige Aparecida, o Milagre (2010), sobre a vida do filho de um casal devoto da santa Nossa Senhora da Aparecida, vivido pelo ator Murilo Rosa (1970).
Análise de trajetória
Tizuka Yamasaki inicia sua obra cinematográfica baseada, em grande parte, em sua história de vida e de sua família. Apesar de ter iniciado sua carreira no cinema trabalhando com diretores do cinema novo, como Nelson Pereira dos Santos e Glauber Rocha, Tizuka opta por um caminho que não se limita a nenhum movimento estético, buscando imprimir um olhar biográfico em seus filmes.
Seu primeiro longa-metragem, Gaijin, Caminhos da Liberdade, inspirado na história de sua avó, trata da imigração japonesa. Acompanhamos a chegada os primeiros imigrantes ao Brasil em 1908 e seu trabalho nas fazendas de café do estado de São Paulo. No filme, essas fazendas são utilizadas como cenário para mostrar, através de uma linguagem realista, o drama dos personagens que sofrem com as atividades na colheita e a exploração do trabalho pelos fazendeiros. Também são abordadas as diferenças culturais e a difícil comunicação, não só entre brasileiros e japoneses, mas entre todos os imigrantes que haviam se mudado para o país, como os italianos. Há uma cena emblemática em que o personagem de um nordestino (José Dumont, 1950) precisa fazer mímica para explicar aos japoneses como se faz para colher o café.
Outros dois filmes, Parahyba Mulher Macho e Fica Comigo, confirmam seu interesse pela figura feminina. O primeiro evoca o período da história da Revolução de 301 baseando-se no caso entre o jornalista João Dantas (1888-1930) e a poetiza Anayde Beiriz (1905-1930). Em Fica Comigo, a partir da personagem Dora (Luciana Rigueira, 1977), Tizuca expõe a temática da adoção, tendo como objetivo fugir de uma visão paternalista e dominadora.
Já Pátriamada mescla ficção e realidade partindo de uma história que ocorre durante as Diretas Já! - movimento em prol de eleições diretas para presidente que mobilizou milhares de brasileiros nos anos de 1980, depois de duas décadas de ditadura militar.2 Com caráter documental, o filme insere personagens ficcionais dentro da realidade vivida naquele momento, mostrando a luta pelo direito de voto por um grupo de amigos. Sem um roteiro preestabelecido e com uma equipe reduzida, o longa é filmado nas ruas, durante os comícios reais pelas diretas, apresentando diálogos improvisados pelos atores. Esteticamente, Pátriamada é seu trabalho mais ousado como linguagem cinematográfica.
Tizuka também realiza filmes de entretenimento paralelamente aos dramas. Retorna à temática da imigração já discutida no longa Gaijin: Ama-me como Sou. Desta vez, aborda a migração inversa em Gaijin - Caminhos da Liberdade: a entrada de trabalhadores nipo-brasileiros no Japão, a partir da visão dos emigrantes. Filmado tanto no Japão quanto em Londrina - no Paraná, fundada por grupos de imigrantes de diferentes países, incluindo japoneses - a trama tem como fio condutor narrativo a vida de quatro gerações de imigrantes: a de Titoe (Kyoko Tsukamoto) e suas descendentes, Shinobu, Maria e Yoko. Com o recurso de flashbacks,são caracterizadas épocas diferentes em aproximadamente cem anos de história.
Notas
1 Em meio à crise econômica mundial e às disputas internas pelo poder político e econômico, o presidente eleito, Júlio Prestes, é deposto. Getúlio Vargas assume a presidência do Brasil através de um golpe de estado.
2 A ditadura militar se instaura em 1º de abril de 1964 e permanece até 15 de março de 1985. Os direitos políticos dos cidadãos são cassados e os dissidentes perseguidos.
Obras 1
Espetáculos 3
Fontes de pesquisa 5
- BILHARINHO, Guido. O cinema brasileiro nos anos 80. Uberaba: Instituto Triângulo da Cultura, 2002. p. 41-43.
- NAGIB, Lúcia. O cinema da retomada: depoimentos de 90 cineastas dos anos 90. São Paulo: Editora 34, 2002. p. 509-515.
- RAMOS, Fernão; MIRANDA, Luis Felipe. Enciclopédia de cinema brasileiro. São Paulo: Editora SENAC, 2ª Edição, 2004.
- SIMÕES, Inamá. Tizuka Yamasaki, a vida invade o cinema. Brasília: M. Farani Editora, 2004.
- SOARES, Mariza de Carvalho; FERREIRA, Jorge (orgs.). A História vai ao cinema: vinte filmes brasileiros comentados por historiadores. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 101-109.
Como citar
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TIZUKA Yamasaki.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa14499/tizuka-yamasaki. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7