Criolo
Texto
Kleber Cavalcante Gomes (São Paulo, São Paulo, 1975). Cantor, compositor. Tendo o rap como ponto de partida, mas dialogando com ritmos diversos e com diferentes referências musicais brasileiras, destaca-se por composições que retratam o dia a dia na periferia.
Filho de pais cearenses, reside, até a vida adulta, no bairro paulistano do Grajaú, onde a família se estabelece em 1981. Cresce ouvindo artistas como Clara Nunes (1942-1983), Martinho da Vila (1938), Nara Leão (1942-1989) e Altemar Dutra (1940-1983). Escreve seu primeiro rap em 1989. É influenciado por grupos como Racionais MC’s, Facção Central e RZO.
Lança seu primeiro disco, Ainda há tempo (2006), com o nome artístico Criolo Doido, inspirado na expressão “samba do criolo doido”. Cinco anos depois, reduz a alcunha para Criolo, preocupado com a interpretação pejorativa em relação ao adjetivo e, também, com a confusão com o sambista de mesmo nome. O carisma demonstrado em suas performances de palco determina um reconhecimento sólido, porém restrito ao público de rap em um primeiro momento.
Cria, no mesmo ano, a Rinha dos MC’s em parceria com DJ Dandan (1976), evento que promove batalhas de improviso entre rappers no centro de São Paulo. Em 2009, atua como protagonista no filme Profissão MC, de Alessandro Buzo (1972) e Toni Nogueira, e também como figurante em Luz nas trevas: a volta do bandido da luz vermelha (2010), de Helena Ignez (1939).
Seu segundo disco, Nó na orelha, é lançado em 2011 com produção de Daniel Ganjaman (1978) e Marcelo Cabral (1974). Ao rap de faixas como “Grajauex” e “Sucrilhos”, o disco mescla diferentes ritmos como afrobeat na faixa “Bogotá”, reggae em "Samba-sambei" e bolero em “Freguês da meia-noite”. A participação de músicos como o violonista Kiko Dinucci (1977) e o saxofonista Thiago França (1980) – ambos da banda Metá Metá –, combinada aos elementos essenciais do rap (DJ, MC, samples), também se destaca como um diferencial do álbum, que, disponibilizado gratuitamente na internet, contabiliza 25 mil downloads em três dias e aumenta sua popularidade.
A faixa “Grajauex” exemplifica uma das marcas de seu estilo: composições que refletem o cotidiano de sua comunidade. O refrão sintetiza com poucas palavras a situação precária de moradia na região: “the grajauex, duas laje é triplex”. As letras e a interpretação fazem uso da ironia. Esse recurso é nítido, por exemplo, em “Freguês da meia-noite”, referência a Nelson Ned (1947-2014), uma de suas influências. Em “Subirusdoistiozin”, ele canta como um personagem que antevê uma tragédia na periferia.
A boa repercussão desse trabalho o aproxima de grandes nomes da Música Popular Brasileira (MPB): divide o palco com Ney Matogrosso (1941); apresenta-se com Caetano Veloso (1942) na cerimônia de premiação do Video Music Brasil 2011 e é citado em shows por Chico Buarque (1944). Assim como Emicida (1985), Marcelo D2 (1967) e Rappin Hood (1971), Criolo amplia a estética do rap no Brasil, abrindo caminho para possibilidades como a incursão de Mano Brown (1970), dos Racionais MC’s, em repertório mais romântico, no projeto Boogie Naipe.
Em 2013, lança um DVD junto com Emicida, Criolo e Emicida ao vivo. No ano seguinte, lança seu terceiro disco, Convoque seu Buda, que traz influências de samba, em “Fermento pra massa”, do reggae, em “Pé de breque”, e do afrobeat, na faixa “Pegue pra ela”. Dessa vez, o discurso rítmico característico do rap se faz mais presente do que as melodias.
Sua versatilidade se demonstra em outras parcerias e ritmos, como no álbum Viva Tim Maia, lançado em 2015, ao lado da cantora Ivete Sangalo (1972) com repertório de Tim Maia (1942-1998). No ano seguinte, relança Ainda há tempo, com versões do antigo repertório assinadas por diferentes produtores e concepção feita totalmente por processo eletrônico. Algumas versões são revistas e as letras passam por modificações para eliminar trechos com conteúdos problemáticos e preconceituosos. Avança pelo samba no disco totalmente dedicado ao ritmo, Espiral de ilusão, lançado em 2017.
Ao mesmo tempo que tende a retornar ao modelo tradicional do rap, Criolo se abre para parcerias diversas na música brasileira, tendo como resultado a expansão de seu público, o que colabora para o prestígio do ritmo em torno do qual inicia e centraliza sua carreira.
Fontes de pesquisa 5
- CALABRIA, Lorena. Criolo no Cinema: Com Ney Matogrosso, Alessandro Buzo e Spike Lee. Portal Terra, Blog da Lorena Calabria. Disponível em: < http://musica.terra.com.br/lorenacalabria/blog/2012/04/26/criolo-no-cinema-com-ney-matogrosso-alessandro-buzo-e-spike-lee/ >. Acesso em: 26 abr. 2013.
- TV CULTURA. Programa Ensaio. TV Cultura, São Paulo, 2011.
- VELOSO, Bruna. Criolo. Rolling Stone Brasil, São Paulo, out. 2013.
- VERGUEIRO, Marina. Arte sempre existiu na periferia, mas o preconceito cegou as pessoas, diz o Rapper Criolo. Folha de S.Paulo, São Paulo, 1 jun. 2011. Ilustrada.
- WHITEMAN, Vivian. Criolo coração de leão. Serafina, São Paulo, 28 set. 2011. Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/fsp/serafina/sr2808201109.htm >. Acesso em: 04 mar. 2017.
Como citar
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CRIOLO.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa429387/criolo. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7