Dionísio Azevedo
Texto
Taufik Jacob (Conceição da Aparecida, Minas Gerais, 1922 – São Paulo, São Paulo, 1994). Ator, roteirista e diretor. À frente de momentos definidores do rádio, do teatro, da TV e do cinema no Brasil, Dionísio Azevedo desempenha diversas funções na cadeia de criação. Atua em programas de rádio e de TV e, num período inicial da dramaturgia televisiva, com encenações ao vivo, adapta diversos clássicos literários, nacionais e internacionais.
Desde criança, Dionísio frequenta matinês de cinema e sonha em se tornar ator. De acordo com seu filho Dionísio Jacob: “Sua fascinação pela arte de representar foi tão urgente que ele pensou mesmo em fugir certa vez com um circo que havia passado pela cidade. Acabou sendo detido a tempo, enquanto perambulava pela pequena estação de trem, indeciso quanto ao seu ato de coragem”1.
Nos anos 1930, a família muda-se para São Paulo em busca de melhores oportunidades de trabalho. Na capital paulista, o adolescente de 16 anos frequenta o Instituto Brasileiro de Cinema (IBC), espaço de formação profissional. Conhece o cineasta Lima Barreto (1906-1982), que se torna seu tutor. No IBC, estuda atuação, roteiro, câmera, fotografia e figurino. O aprendizado o leva a trabalhar como radioator nos anos 1940 e a adotar o nome artístico de Dionísio Azevedo, considerado mais “audiogênico” (sonoro, expressivo) que o nome de batismo2.
A partir de 1950, Dionísio se torna um dos pioneiros da ascendente televisão ao adaptar textos literários para o programa ao vivo TV de Vanguarda (1952-1967) e atuar em algumas dessas produções. Entre elas, destaca-se o teleteatro A Hora e a Vez de Augusto Matraga, originado do conto homônimo do escritor João Guimarães Rosa (1908-1967). O trabalho vai ao ar em 1953, com o ator Lima Duarte (1930) no papel do personagem principal. Além de obras brasileiras, Dionísio adapta clássicos de William Shakespeare (1564-1616), Anton Tchekhov (1860-1904) e Luigi Pirandello (1867-1936).
Dionísio encontra na literatura de Guimarães Rosa um caminho para expressar inquietações éticas e estéticas que o mobilizam no período, em especial a busca pela representação de um tipo genuinamente brasileiro. Em depoimento em 1979, fala sobre a ocasião em que se reúne com outros atores e autores do TV de Vanguarda para discutir como dar corpo e voz aos personagens. “Um dia, na minha casa, por volta de 1957, com amigos da Tupi, pegamos o ‘Sagarana’, o ‘Corpo Fechado’ e começamos a estudar aquele jeito tão mineiro, tão brasileiro de falar, e a analisar, a fazer expressão corporal (...), numa ânsia de descobrir as verdades daqueles textos: de interpretação, cenográficas, de figurinos, de gestos, numa experiência muito criativa”3.
Pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), um de seus trabalhos mais notórios é A Morte do Caixeiro Viajante (1962), encenado em São Paulo, com direção de Flávio Rangel (1934-1988). Dionísio interpreta o protagonista, o vendedor Willy Loman. A adaptação do texto do dramaturgo norte-americano Arthur Miller (1915-2005) é bem recebida por parte da imprensa local. Conforme artigo do Diário da Noite, é considerada a “mais fiel à peça, mais completa e dentro do seu verdadeiro sentido”4.
Dionísio é saudado nesse mesmo artigo como ator que “corresponde inteiramente” ao papel de Loman. Juca de Oliveira (1935), que também integra o elenco, vê a “densidade humana e a angústia lancinante” na atuação do colega5. A angústia do personagem criado por Miller encontra em Dionísio Azevedo, então com 40 anos de idade, um intérprete que comove as plateias, por sua postura e impostação de voz, elementos que o caracterizam ao longo de toda a carreira.
No cinema, Dionísio atua em dezenas de filmes e dirige alguns. Em O Pagador de Promessas (1962), interpreta o padre Olavo, personagem marcante da peça de Dias Gomes (1922-1999), que o próprio ator representa antes no teatro. No filme, dirigido por Anselmo Duarte (1920-2009), impõe forte ambiguidade em sua versão do padre. Novamente usando da voz imponente e da postura austera, imprime complexidade ao personagem, por exemplo, quando o pároco se inquieta com o som de batuques (“nesse momento vemos um padre atormentado, com um forte sentimento de perda, numa grande crise existencial”6). O Pagador de Promessas alcança repercussão mundial ao ganhar o Palma de Ouro no Festival de Cannes e ser indicado ao Oscar de filme estrangeiro.
Nos últimos anos de sua trajetória, Dionísio Azevedo dedica-se a papéis em telenovelas e fixa a imagem de patriarca delicado e cordial. Seu pioneirismo influencia várias gerações e faz dele referência na dramaturgia brasileira.
Notas:
1. JACOB, Dionísio. Dionísio Azevedo e Flora Geni: uma vida na arte. São Paulo: Imprensa Oficial, 2010, p. 35. Disponível em: https://aplauso.imprensaoficial.com.br/edicoes/12.0.813.784/12.0.813.784.pdf. Acesso em: 17 abr. 2020.
2. JACOB, Dionísio. Dionísio Azevedo e Flora Geni: uma vida na arte. São Paulo: Imprensa Oficial, 2010, p. 24. Disponível em: https://aplauso.imprensaoficial.com.br/edicoes/12.0.813.784/12.0.813.784.pdf. Acesso em: 17 abr. 2020.
3. JACOB, Dionísio. Dionísio Azevedo e Flora Geni: uma vida na arte. São Paulo: Imprensa Oficial, 2010, p. 339. Disponível em: https://aplauso.imprensaoficial.com.br/edicoes/12.0.813.784/12.0.813.784.pdf. Acesso em: 17 abr. 2020.
4. PACHECO, Mattos. A morte do caixeiro viajante. Diário da Noite, São Paulo, p. 18, 20 mar. 1962. Disponível em: http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/. Acesso em: 14 abr. 2020.
5. JACOB, Dionísio. Dionísio Azevedo e Flora Geni: uma vida na arte. São Paulo: Imprensa Oficial, 2010, p. 192. Disponível em: https://aplauso.imprensaoficial.com.br/edicoes/12.0.813.784/12.0.813.784.pdf. Acesso em: 17 abr. 2020.
6. FRESSATO, Soleni Biscouto. Duas faces da religiosidade baiana: sincretismo e intolerância – Reflexões em 'O pagador de promessas'. 1985. 9 f. Artigo – Anais do XXVI Simpósio Nacional de História, São Paulo, 2011, p. 5. Disponível em:
http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1308073702_ARQUIVO_opagadordepromessas.pdf. Acesso em: 17 abr. 2020.
Espetáculos 11
Fontes de pesquisa 11
- Comédia no Paiol! Direita, Volver! De Lauro César Muniz. Palco e Platéia, São Paulo, ano 0, julho de 1985. Não catalogado
- Concerto nº 1 Piano e Orquestra. São Paulo: Teatro Brigadeiro, 1976. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Brigadeiro. Não catalogado
- DIONÍSIO AZEVEDO. Pró-TV – Associação dos Pioneiros, Profissionais e Incentivadores da Televisão Brasileira. São Paulo. Disponível em: http://www.museudatv.com.br/biografia/dionisio-azevedo. Acesso em: 17 abr. 2020.
- ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Edélcio Mostaço]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos. Não Catalogado
- FRESSATO, Soleni Biscouto. Duas faces da religiosidade baiana: sincretismo e intolerância – Reflexões em 'O pagador de promessas'. 1985. 9 f. Artigo – Anais do XXVI Simpósio Nacional de História, São Paulo, 2011. Disponível em: http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1308073702_ARQUIVO_opagadordepromessas.pdf. Acesso em: 17 abr. 2020.
- JACOB, Dionísio. Dionísio Azevedo e Flora Geni: uma vida na arte. São Paulo: Imprensa Oficial, 2010. 440 p. Disponível em: https://aplauso.imprensaoficial.com.br/edicoes/12.0.813.784/12.0.813.784.pdf. Acesso em: 17 abr. 2020.
- PACHECO, Mattos. A morte do caixeiro viajante. Diário da Noite, São Paulo, p. 18, 20 mar. 1962. Disponível em: http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/. Acesso em: 14 abr. 2020.
- Programa do Espetáculo - Boca Molhada de Paixão Calada - 1984. Não catalogado
- Programa do Espetáculo - Direita Volver - 1985. Não Catalogado
- Programa do Espetáculo - Gata em Teto de Zinco Quente - 1978. Não catalogado
- RAMOS, Fernão Pessoa; MIRANDA, Luiz Felipe (Orgs). Enciclopédia do cinema brasileiro. São Paulo: Senac, 2000. R791.430981 E56
Como citar
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DIONÍSIO Azevedo.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa400290/dionisio-azevedo. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7