Antônio Madureira

Antônio Madureira, 2023
Texto
Antônio José Madureira (Macau, Rio Grande do Norte, 1949). Violonista, compositor, maestro, desenhista. Antônio Madureira é um dos personagens centrais do Movimento Armorial na música. Lidera o Quinteto Armorial na década de 1970 e é um dos principais compositores do conjunto, além de ser responsável por adaptar peças do folclore nordestino ao repertório do grupo. Sua obra preza pela combinação de elementos tradicionais brasileiros com a música erudita europeia.
Neto do compositor Tonheca Dantas (1871–1940), começa a estudar violão estimulado pelo pai, que compra um instrumento para ele. Estuda com vários professores, entre eles Fidja Siqueira. Aos 17 anos, muda-se para Recife, Pernambuco, onde estuda violão por três anos na Escola de Belas Artes com o espanhol radicado no Brasil José Carrion (1924-1987). Nesse período, desenvolve conhecimento sobre teoria musical. Depois do fim do curso, estuda por mais dois anos com o mesmo professor, com aulas particulares. Paralelamente, estuda composição de forma autodidata e sob orientação do padre Jaime Diniz (1924-1989).
Inspirado na obra Ensaio Sobre a Música Brasileira (1928), de Mário de Andrade (1893-1945), se aprofunda no estudo da música tradicional do Nordeste e nas manifestações de cultura popular. Quando conhece Ariano Suassuna (1927-2014), em 1969, os dois articulam a criação do Quinteto Armorial com a proposta de criar uma estética erudita a partir dos elementos do folclore brasileiro e da influência ibérica. Suassuna burila a ideia desde os anos 1940, imbuído da convicção de que é necessária a afirmação de uma cultura essencialmente nacional. O Movimento Armorial se manifesta em diversas formas de arte (pintura, teatro, poesia, gravura, desenho, cinema, arquitetura, escultura) e tem no Quinteto Armorial o principal representante na música.
Além de Madureira, integram a formação: Edilson Eulálio (1948) no violão, Fernando Torres Barbosa (1945) no marimbau, Egildo Vieira (1947) no pífano e na flauta e Antônio Nóbrega (1952) na rabeca. A proposta tinha como principais pilares criar música instrumental com inspiração nos ritmos populares do sertão nordestino e sob influência da estética renascentista, que também mesclava o erudito com o popular. O primeiro álbum do grupo, Do Romance ao Galope Nordestino, é lançado em 1974. A capa traz uma gravura de Gilvan Samico (1928-2013) e o texto de contracapa é assinado por Ariano Suassuna, enfatizando, assim, o compromisso do grupo com a proposta do Movimento Armorial.
Nessa obra, Madureira toca viola sertaneja. Ele é compositor de cinco das doze faixas do disco, além de ser o responsável pela adaptação de dois temas de domínio popular: Romance da Bela Infanta (romance ibérico do século XVI, propagado por violeiros e poetas populares nordestinos) e “Excelência” (canto fúnebre nordestino).
“Toré”, também de sua autoria, se inspira na dança indígena de mesmo nome. No Nordeste, a tradição é perpetuada por intermédio da manifestação popular denominada caboclinho, que é executada durante o carnaval pernambucano. Madureira cria uma melodia dinâmica inspirada na dança, executada ora pela rabeca, ora pela flauta, ora pela viola. A percussão por intermédio do instrumento acentua o ritmo, parecido com o do galope de um cavalo. Nota-se que os instrumentos de corda (rabeca, violão e viola), em determinados pontos do arranjo, assumem uma sonoridade percussiva e reproduzem a batida do chamado “toque de guerra”, comum nos cortejos de caboclinho.
O repertório traz também composições de dois autores que exercem forte influência sobre o trabalho do grupo: “Mourão”, do compositor erudito César Guerra-Peixe (1914-1993), e “Toada e Desafio”, de Capiba (1904-1997), reconhecido como um dos principais compositores de frevo.
Com o álbum Do Romance ao Galope Nordestino o grupo é premiado, em 1970, pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), como “melhor conjunto instrumental do ano”. O Quinteto Armorial lança outros três álbuns: Aralume (1976), Quinteto Armorial (1978) e Sete Flechas (1980). Em 1980, o conjunto encerra as atividades.
Nos anos 1980, o compositor lança dois álbuns em carreira solo: Violão (1982) e Composições Para Violão de Antônio José Madureira (1986). Em ambos os trabalhos, o músico apresenta peças que aprofundam o estudo de ritmos nordestinos para sintetizar gêneros como maracatu, frevo e baião, que tradicionalmente são tocados por outros instrumentos, à estética do violão.
Em 1996, Madureira forma o Quarteto Romançal, grupo com o qual lança dois álbuns: Ancestral (1998) e No Reino das Aves dos Três Punhais (2000). A proposta é similar ao do Quinteto Armorial, com uma abordagem instrumental e com elementos da música erudita sobre os ritmos nordestinos. O repertório mescla polcas, valsas, repentes e cantigas e destacam as contribuições indígena e africana para a cultura popular brasileira.
O intelectual e multiartista Ariano Suassuna, idealizador do Movimento Armorial, diz que a música de Madureira tem a mesma importância que a gravura de Gilvan Samico (1928-2013), o romance de Guimarães Rosa (1908–1967) e a poesia de João Cabral de Melo Neto (1920-1999).
Além de ser um dos arquitetos da estética armorial na música, com composições que evocam o folclore nordestino sob influência da estética erudita europeia, Antônio Madureira contribui decisivamente para os estudos e a prática de violão solo. Sua obra em carreira solo é fundamental para a compreensão do instrumento no contexto de ritmos com tradição percussiva (como o maracatu), com harmonias baseadas na sanfona (o baião) ou na pontuação dos instrumentos de sopro (frevo).
Obras 2
Espetáculos 2
Mídias (1)
Cada voz
A série “Cada voz” é um projeto da "Enciclopédia Itaú Cultural" com registros de depoimentos de artistas de diferentes áreas de expressão, como literatura, música, teatro e artes visuais. Conduzidos pelo fotógrafo Marcus Leoni, os vídeos capturam o pensamento dos artistas sobre seu processo de criação e sua visão sobre a própria trajetória. Os registros aproximam o público do artista, que permite a entrada no camarim, no ateliê ou na sala de escrita.
FUNDAÇÃO ITAÚ
Conselho Curador
Presidência Alfredo Setubal
Presidência da Fundação
Eduardo Saron
COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL E ESTRATÉGICA
Gerência: Ana de Fátima Sousa
Coordenação de Estratégias Digitais e Gestão de Marca: Renato Corch
Redes sociais: Jullyanna Salles e Victória Pimentel
ITAÚ CULTURAL
Superintendência do Itaú Cultural Jader Rosa
INFORMAÇÃO E DIFUSÃO DIGITAL Gerente: Tânia Rodrigues
Coordenadora de Enciclopédia: Luciana Rocha
Produção de conteúdo: Pedro Guimarães
CRIAÇÃO E PLATAFORMAS Gerente: André Furtado
Coordenação de Audiovisual: Kety Fernandes Nassar
Produção audiovisual: Amanda Lopes da Silva
Edição de conteúdo acessível: Richner Allan
Interpretação em Libras: Ponte Acessibilidade (terceirizada)
Transcrição, revisão e sincronização de legendas: Alume Comunicação e Acessibilidade (terceirizada)
Direção, edição e fotografia: Marcus Leoni
Produção: Carol Silva
Montagem: Renata Willig
Assistência: Rafael Macedo
Fontes de pesquisa 4
- ANTUNES, Gilson Uehara Gimenes; BOLIS, Stephen Coffey; SILVA, Esdras Rodrigues. Antônio Madureira e violão no nordeste: contribuições para uma historiografia musical brasileira. 2017. Artigo publicado no XVII Congresso Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2017. Disponível em https://anppom.org.br/anais/anaiscongresso_anppom_2017/4839/public/4839-16487-1-PB.pdf. Acesso em: 10 jul. 2023.
- MUSICAL Especial. São Paulo, TV Cultura. (1 hora). Exibição em 26 ago. 1979.
- NÓBREGA, Ariana Perazzo da. A música no movimento armorial. 2000. Dissertação (mestrado em musicologia) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 2000. Disponível em https://antigo.anppom.com.br/anais/anaiscongresso_anppom_2007/musicologia/musicol_APNobrega.pdf. Acesso em: 10 jul. 2023.
- WOITOWICZ, Karina Janz. O som popular e erudito do Quarteto Romançal. Revista Internacional de Folkcomunicação, 7 dez. 2008, disponível em https://revistas.uepg.br/index.php/folkcom/article/view/18672. Acesso em: 10 jul. 2023.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
ANTÔNIO Madureira.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa214814/antonio-madureira. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7