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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Baile do Menino Deus

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 28.01.2016
12.11.1983 Brasil / Pernambuco / Recife – Teatro Valdemar de Oliveira
Baile do Menino Deus, auto de Natal escrito por Ronaldo Correia de Brito e Francisco Assis Lima, com músicas de Antônio Madureira, é criado em oposição à maciça difusão, no Brasil, do imaginário natalino de inspiração europeia. Em vez de papais-noéis, renas e trenós, esse alegre musical leva ao palco figuras típicas da cultura popular nordestina...

Texto

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Histórico

Baile do Menino Deus, auto de Natal escrito por Ronaldo Correia de Brito e Francisco Assis Lima, com músicas de Antônio Madureira, é criado em oposição à maciça difusão, no Brasil, do imaginário natalino de inspiração europeia. Em vez de papais-noéis, renas e trenós, esse alegre musical leva ao palco figuras típicas da cultura popular nordestina, como o Mateus1, o Jaraguá2, o bumba meu boi, ou os caboclinhos,3 todos embalados por canções originais, inspiradas nos ritmos e nas tradições da região.

Produzida pela Companhia Praxis Dramática (CPD), em parceria com Alberto Vinícius e Maria Áurea Santa Cruz, a peça estreia em 1983, com a direção de um dos seus autores, Ronaldo Correia de Brito, e obtém, desde o início, expressiva aprovação, tanto da crítica especializada quanto do público em geral. Com enredo simples, em que um Mateus, acompanhado de algumas crianças, percorre as ruas do Recife à procura da casa onde nascerá o menino, a fim de fazer, lá, um baile em comemoração àquele divino acontecimento, o espetáculo encanta tanto pela poesia do texto como pela beleza das canções - lançadas em LP dias antes da estreia no teatro, pelo selo Estúdio Eldorado.

Distante de qualquer traço realista-naturalista, a cena é marcada pela utilização poética dos elementos tradicionais dos folguedos nordestinos. Como no reisado4 ou no bumba meu boi, cenários, figurinos e adereços, em vez de pretenderem transportar o público para o tempo-espaço da fábula apresentada, desejam reforçar, com seu colorido e com sua inventividade, o caráter festivo da representação. No Diario de Pernambuco, o sociólogo e compositor Sebastião Vila Nova, parceiro de Hermilo Borba Filho (1917-1976) no Teatro Popular do Nordeste, saúda a originalidade da montagem: "Há muito, não via no Recife espetáculo mais identificado com a cultura do nosso povo quanto a peça desses jovens dramaturgos [...]. Não se trata, contudo, de um espetáculo nordestinoso a mais, desses dos quais a sobrecarga de folclore nos faz exóticos até para nós mesmos. [...] E que ninguém pense em descabidas analogias com outro famoso poema dramático a respeito do mesmo tema, o de João Cabral de Melo Neto, pois o tratamento é novo, original, através de ótica bastante diversa da assumida pelo autor de Morte e Vida Severina".5

Essa primeira encenação do Baile do Menino Deus permanece em cartaz, com breves intervalos, por mais de seis anos. Logo, porém, diversas montagens do texto, profissionais ou amadoras, começam a surgir, não somente em Pernambuco, mas também em muitas outras partes do Brasil. Algumas das canções compostas originalmente para a peça são aproveitadas pelo Grupo Galpão, de Minas Gerais, no premiado espetáculo A Rua da Amargura,6 em 1994. Um ano depois, a editora Bagaço lança, no Recife, uma versão em prosa da obra, tendo como alvo prioritário o leitor infanto-juvenil. Em 2003, o texto original do espetáculo é publicado, com grande tiragem, pela Editora Objetiva, do Rio de Janeiro, dentro da coleção Literatura em Minha Casa, patrocinada pelo Ministério da Educação.

Em dezembro de 2004, portanto 21 anos depois de sua criação, uma nova versão do Baile do Menino Deus é apresentada, ao ar livre, na Praça do Marco Zero, no centro do Recife. Ligeiramente adaptada, enfatizando o aspecto de cantata natalina, mas sem perder a dinâmica de representação teatral, a peça, novamente dirigida por Ronaldo Correia de Brito, ganha agora tratamento de superprodução, com cenários grandiosos e sofisticados recursos técnicos. A trilha sonora é executada, ao vivo, por uma orquestra de câmara e por dois coros, um infantil e um adulto. Além disso, cantores profissionais, famosos na região, aparecem como solistas. Com a coordenação geral de Carla Valença, da Relicário Produções Artísticas, o evento recebe patrocínio federal, estadual e municipal. A resposta do público supera qualquer expectativa de sucesso: a cada apresentação, dezenas de milhares de pessoas assistem à montagem. Com o êxito, o espetáculo se incorpora ao calendário cultural da cidade, tornando-se uma das mais aguardadas atrações das festas de fim de ano na capital pernambucana. Em 2008, a Rede Globo Nordeste filma o espetáculo e o exibe como especial de Natal para todo o estado de Pernambuco.

Refletindo sobre o extraordinário poder de comunicação do Baile do Menino Deus, a escritora Ruth Rocha diz: "É uma peça de Natal que faz adultos e crianças rir e se emocionar, com sua estrutura simples, sem rodeios, capaz de falar ao coração de qualquer pessoa. Uma peça de Natal que não valoriza as compras nem a comilança da festa, mas elege, como foco principal, o Menino Deus e o que ele representa, como símbolo do renascimento e da esperança".7


Notas
1. Mateus é um personagem de destaque no cavalo-marinho/bumba meu boi. Negro, pobre e esperto, casado com Catirina.

2. Jaraguá é uma das várias figuras fantásticas presentes no bumba meu boi. É um fantasma de cavalo, que assusta os personagens e os espectadores.

3. Caboclinhos são os brincantes do caboclinho, manifestação de origem indígena que simboliza, por meio de música e dança, batalhas, caçadas e colheitas.

4. Reisado é uma manifestação de inspiração religiosa. Os participantes cantam, dançam e tocam instrumentos a fim de contar a história do nascimento do menino Jesus.

5. VILA NOVA, Sebastião. Fui ao baile. Diário de Pernambuco, [s.d.], dez. 1983. [Arquivo pessoal Ronaldo Correia de Brito]

6. Cf. BRITO, Ronaldo Correia de. Apud: DOURADO, Rodrigo. Ópera Popular. Revista Continente, Recife, Cepe, ano 8, n. 96, p. 61, dez. 2008.

7. ROCHA, Ruth. Um clássico infantil que vem do Nordeste. In: BRITO, Ronaldo Correia de; LIMA, Francisco Assis. Baile do Menino Deus. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003. p. 5-6.

Ficha Técnica

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Autoria
Francisco de Assis de Sousa Lima
Ronaldo Correia de Brito

Direção
Ronaldo Correia de Brito

Direção (assistente)
José Mário Austregésilo

Cenografia
Walter Holmes

Cenotécnica
Cristovan Maurício Sovagem da Silva

Figurino
Walter Holmes

Costureira
Américo Barreto
Fábio Costa

Iluminação
Gesiel Lacerda

Trilha sonora
Antônio Madureira

Coreografia
Célia Meira

Elenco
Alexandre Macedo / Baile do Menino Deus
Ana Araújo / Baile do Menino Deus
Ana Gabriela / Baile do Menino Deus
Célia Meira / Baile do Menino Deus
Eduardo Gomes / Baile do Menino Deus
Givaldo Tenório / Baile do Menino Deus
Ilona Brandão / Baile do Menino Deus
Leila Bastos / Baile do Menino Deus
Mirinha / Baile do Menino Deus
Romero Andrade / Baile do Menino Deus
Sumaia Austregésilo / Baile do Menino Deus
Taciana Miranda e Silva / Baile do Menino Deus
Walmir Chagas / Baile do Menino Deus

Produção
Alberto Vinícius
Maria Áurea Santa Cruz

Fotografia
Nerivânia Bezerra

Contrarregra
Nice Vasconcelos

Fontes de pesquisa 9

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  • BORBA FILHO, Hermilo. 1966. Espetáculos populares do Nordeste. São Paulo: São Paulo editora S.A.
  • BRITO, Ronaldo Correia de; LIMA, Francisco Assis. Baile do Menino Deus. Apresentação de Ruth Rocha. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003.
  • BRITO, Ronaldo Correia de; LIMA, Francisco Assis. O Baile do Menino Deus. Recife: Bagaço, 1995.
  • COSTA, Evaldo. Baile do Menino Deus: no disco, o registro brasileiro das músicas de Natal. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 28 nov. 1983. p. 21.
  • COUTINHO, Valdi. Estreia de hoje. Diario de Pernambuco, Recife, [s. p.], 12 nov. 1983.
  • DOURADO, Rodrigo. Ópera Popular. Revista Continente, Recife, Cepe, ano 8, n. 96, p. 61, dez. 2008.
  • KUBRUSLY, Maurício. Finalmente, uma ótima brincadeira de Natal. Folha de S.Paulo, São Paulo, 18 dez. 1983. Ilustrada, p. 64.
  • SOARES, Karina de Melo; ISHIGAMI, Sandra de Deus; MOREIRA, Alba Cristina de Albuquerque. Espetáculos populares de Pernambuco. Recife: Cepe: Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco, 1996.
  • VILA NOVA, Sebastião. Fui ao Baile. Diario de Pernambuco, [s.d.], dez. 1983. [Arquivo pessoal Ronaldo Correia de Brito].

Como citar

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