Jorge Durán

A Cor do Seu Destino, 1987
Jorge Durán
Texto
Jorge Fernando Durán Parra (Santiago, Chile, 1942). Diretor de cinema, roteirista, produtor. Nasce no Chile, onde vive até 1973. Em 1963, ingressa na Academia Municipal de Teatro, de Santiago e, dois anos depois, na Universidade do Chile, onde se forma como ator e diretor teatral. Nas duas escolas, participa de diversas montagens e festivais antes de fundar a Companhia de Teatro Vértice, que se apresenta em diversos países da América Latina.
Sua estreia no cinema ocorre na Europa, em 1969, como cenógrafo e diretor assistente do filme Voto + Fuzil, de seu conterrâneo Helvio Soto. De volta à terra natal, ingressa na Televisão Nacional do Chile, na qual produz programas culturais e teledramas. Porém não abandona o cinema, atuando como roteirista e assistente de direção. Dentre os trabalhos da época, destaca-se Estado de Sítio, de Costa Gavras (1972).
Com o golpe militar, Durán, então militante do Partido Socialista, é detido. Ao sair da prisão, vem para o Brasil. Seu primeiro trabalho no cinema brasileiro é a assistência de direção em Nem os Bruxos Escapam, de Valdir Ercolani (1974), e em dois grandes sucessos: O Rei da Noite (1975), de Hector Babenco (1946-2016), e Dona Flor e seus Dois Maridos (1976), de Bruno Barreto (1955). Em seguida, escreve o roteiro de Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1977), também de Babenco.
Assina sua primeira direção em O Escolhido de Iemanjá (1978), piloto para uma série televisiva. Seguem-se outros roteiros, entre os quais Gaijin, Caminhos da Liberdade (1979), de Tizuka Yamasaki (1949), Nunca Fomos tão Felizes (1984), de Murilo Salles (1950), e dois filmes de Babenco: Pixote, a Lei do mais Fraco (1980) e O Beijo da Mulher-Aranha (1985).
Sua estreia em longa-metragem ocorre em grande estilo, com o premiado A Cor de seu Destino. Lançado em 1986, o filme vence o Festival de Brasília nas categorias Filme, Direção e Roteiro (para Duran), além de melhor ator para Chico Diaz e atriz coadjuvante para Júlia Lemmertz (1963). Também é laureado com o prêmio Margarida de Prata e em diversos festivais internacionais, como os de Havana e de Cartagena.
Sem deixar a elaboração de roteiros - para o cinema e a televisão, tanto no Brasil quanto no Chile - , volta à direção em Proibido proibir (2007), que recebe prêmios nos festivais de Biarritz, Cartagena e Havana, entre outros.
Seu filme mais recente, "Não se pode viver sem amor" (2010), mantém a tradição de conquistar prêmios: em Gramado, obtém o de Roteiro, Fotografia e Atriz (para Simone Spoladore, 1979), e, em Recife, Rogério Fróes leva o prêmio de melhor ator.
Paralelamente, desenvolve, há anos, o ofício de professor em universidades e cursos livres de cinema.
Análise
Embora seja mais (re)conhecido como roterista do que como diretor, em ambas as funções Jorge Durán revela capacidade de transitar entre o olhar mais realista, pungente, e momentos de grande lirismo, poesia e humor.
Sua vivência como estrangeiro (ou, mais especificamente, como emigrante e exilado) foi fundamental para a elaboração de roteiros como os de "Gaijin" - que aborda a questão da exploração do trabalhador estrangeiro - e "A cor do seu destino" - que tematiza a resistência e as alternativas a um regime opressor.
Nos dois filmes, assim como no mais recente "Proibido proibir", ganha relevo a questão da identidade - seja em termos de nação, classe ou geração. O tema da juventude é permanente na filmografia de Durán: desde "Pixote, a lei do mais fraco" e seu desdobramento "Quem matou Pixote?", passando pelas crianças de "Como nascem os anjos", até chegar aos adolescentes de "A cor do seu destino" e aos jovens adultos de "Proibido proibir".
Em "A cor do seu destino", Durán obtém um retrato multifacetado da década de 1980, com seu deslumbre pelo pop-rock, a moda colorida, os apelos da indústria cultural, mas ao mesmo tempo examina questões complexas como a perseguição política, a família dilacerada e, no centro de tudo, a busca de um jovem pela expressão, pela voz própria. Neste filme, Durán obtém interpretações memoráveis de Guilherme Fontes, Chico Diaz e Júlia Lemmertz.
"Proibido proibir" descreve atentamente um microcosmo ainda pouco explorado pelo cinema brasileiro: as salas de aula e corredores da universidade. Além de se apoiar em sua experiência como professor, Durán conta com a contribuição de diversos alunos e ex-alunos, tanto no roteiro quanto na atuação. Como resultado, uma narrativa de intensa atualidade, que mergulha no cotidiano suburbano daqueles jovens, seus dilemas e conflitos, com belas passagens dramáticas e românticas, mas sem abrir mão da sátira e da comédia de situação. O crítico Ruy Gardnier, embora apontando o alongamento excessivo de certas passagens e certos problemas na montagem de alguns trechos, tece grandes elogios: "são pecados pequenos diante de um filme que, por sua tamanha entrega ao contraste entre duas realidades e à experiência de aprendizagem que daí nasce, por seu doce e carinhoso registro de pessoas de carne e osso como aquelas que vemos na rua, pelo intenso fascínio em fazer a ficção surgir a partir da atenção ao cotidiano e às rusgas do real que dele brotam, encanta e faz figura de exceção dentro de nosso cenário audiovisual."
Seu longa mais recente, "Não Se Pode Viver sem Amor", faz uma aposta inesperada - tendo em vista o tom realista predominante em seus roteiros - no sobrenatural, mas com uma intrigante ambiguidade, que jamais escancara seus mistérios e possíveis implicações. O filme explora um universo pouco conhecido até mesmo para muitos moradores do Rio de Janeiro, onde as várias histórias se passam e se cruzam, menos ou mais arbitrariamente. O talento de Durán como roteirista se impõe nessa obra, que parece entrar na onda do "filme coral", mas na realidade foi escrito mais de dez anos antes do lançamento do filme e obtém sucesso em envolver e perturbar o espectador com as reviravoltas da trama.
Obras 1
Fontes de pesquisa 7
- BILHARINHO, Guido. Cem anos de cinema brasileiro. Uberaba: Instituto Triangulino de Cultura, 1997.
- GARDNIER, Ruy. "Os verdadeiros sonhadores". In: Contracampo - revista de cinema. Disponível em http://www.contracampo.com.br/83/mostraproibidoproibir.htm.
- MIRANDA, Luiz Felipe. Dicionário de cineastas brasileiros. Apresentação Fernão Ramos. São Paulo: Art Editora, 1990, 408 p.
- NÃO se pode viver sem amor. Site oficial do filme. Disponível em http://www.naosepodeviversemamor.com.br.
- RAMOS, Fernão Pessoa; MIRANDA, Luiz Felipe (Orgs). Enciclopédia do cinema brasileiro. São Paulo: Senac, 2000.
- RAMOS, Fernão Pessoa; MIRANDA, Luiz Felipe (Orgs). Enciclopédia do cinema brasileiro. São Paulo: Senac, 2000. p.206-207.
- STAM, Robert. Multiculturalismo tropical - uma história comparativa da raça na cultura e no cinema brasileiros. São Paulo: Edusp, 2007.
Como citar
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JORGE Durán.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa213742/jorge-duran. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7