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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Chico Botelho

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 17.06.2016
1948 Brasil / São Paulo / Santos
08.11.1991 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Francisco Cassiano Botelho Júnior (Santos, SP, 1948 - Rio de Janeiro, RJ, 1991). Fotógrafo, roteirista, cineasta e professor universitário. Nasce em Santos, onde vive até os 16 anos, quando se muda com a família para São Paulo. Em 1966, inicia curso de engenharia mecânica, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e, paralelame...

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Biografia
Francisco Cassiano Botelho Júnior (Santos, SP, 1948 - Rio de Janeiro, RJ, 1991). Fotógrafo, roteirista, cineasta e professor universitário. Nasce em Santos, onde vive até os 16 anos, quando se muda com a família para São Paulo. Em 1966, inicia curso de engenharia mecânica, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e, paralelamente, dá aulas particulares de matemática. Conclui apenas o primeiro ano da graduação e, em 1969, ingressa no curso de cinema, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), formando-se em 1973. No ano seguinte, torna-se professor de fotografia no setor de cinema da ECA e prossegue com a carreira acadêmica, defendendo dissertação de mestrado e tese de doutorado na mesma universidade. 

No final dos anos de 1960, atua em peças de teatro de diretores como Zbigniew Ziembinski (1908-1978) e Antonio Pedro Borges (1940), mas é na realização de trabalhos para a televisão que Botelho se profissionaliza. Na Rádio e Televisão Cultura (RTC) é assistente de direção, cinegrafista, produtor, diretor de fotografia e diretor em séries e programas especiais. Nos anos de 1980, é diretor de fotografia de documentários para a Rede Globo, para a rede de televisão inglesa BBC e para alemã ZDF.

O trabalho como diretor cinematográfico tem início com os curtas-metragens produzidos pela ECA/USP: Gare do Infinito (1972), Os Cinco Patamares (1972), Exposição - Henrique Alvim Correa (1974) e Corpo de Baile (1974), todos codirigidos por Ella Dürst (1951). Nos anos seguintes, assina a direção de fotografia de longas-metragens, com destaque para As Três Mortes de Solano (1976), de Roberto Santos (1928-1987); Daniel, o Capanga de Deus (1977), de João Baptista Reimão (1940), ao lado do fotógrafo Dib Luft (1936); e Estrada da Vida (1980), de Nelson Pereira dos Santos (1928).

Em 1981, em parceria com seis cineastas, funda a produtora Tatu Filmes que, com outras produtoras instaladas no bairro paulistano da Vila Madalena, compõem o chamado cinema da Vila. Na mesma época, preside a Associação Paulista de Cineastas (Apaci), voltada à reflexão e à articulação de políticas para o campo cinematográfico paulista.

Com recursos da Embrafilme, roteiriza e dirige seu primeiro longa, Janete (1982), premiado em festivais nacionais. Em 1984, com financiamento da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, filma o curta A Longa Viagem, documentário sobre a geração hippie. Em 1985, desliga-se da Tatu Filmes e, com Maria Ionescu (1958), funda a Orion Cinema e Vídeo. No ano seguinte, dirige seu segundo longa, Cidade Oculta (1986), filme mais premiado de sua carreira, alcançando sucesso de público e de crítica.

Realiza videoclipes para a gravadora Polygram e colabora como assistente de fotografia e roteirista em produções de cineastas, sobretudo paulistas. De 1989 a 1990, é representante dos realizadores cinematográficos no Conselho Nacional de Cinema (Concine). Em 1991, graças ao prêmio recebido da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, filma o documentário A Cidade e o Corpo. Falece no mesmo ano, na cidade do Rio de Janeiro, onde realizaria a direção de fotografia da série Paisagens Urbanas, de Nelson Brissac Peixoto (1951), coproduzida pela TV Cultura.

Comentário crítico
Chico Botelho integra uma geração de profissionais de cinema egressos da ECA/USP que marca a década de 1980 em São Paulo. Realiza filmes, mas também desenvolve projetos para televisão e publicidade. Participa de ações coletivas na criação de suas produtoras e reivindica espaço nas políticas de financiamento dos órgãos públicos, como a Embrafilme e a Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo. O cinema produzido por esses jovens fica conhecido como cinema da Vila ou jovem cinema paulista, termos questionados pela crítica e pelos próprios realizadores. Em 1985, Jean-Claude Bernardet (1936), um dos primeiros críticos a escrever sobre o grupo, assinala algumas das características de suas obras: duplicidade estrutural (linearidade e fragmentação), oscilação entre cinema de autor e cinema industrial, exploração da sensibilidade urbana, citacionismo e caráter acrítico.

O apuro técnico é um elemento que se destaca nos filmes do grupo. A fotografia passa a fazer parte da narrativa, a imagem é construída, rompendo relações com o real. No caso de Botelho, essa preocupação com a primazia da imagem é reforçada pela sua experiência na área de fotografia cinematográfica, cultivada desde a graduação. A preferência pela temática urbana é outro elemento relevante nessa produção e aumenta seu distanciamento em relação à tradição cinematográfica dos anos de 1960 e 1970. Nesses filmes a cidade, personagem fundamental da trama, é onipresente, contemplada em suas nuances.

O primeiro longa-metragem de Chico Botelho, Janete aborda as aventuras de uma jovem marginalizada que percorre o mundo da prostituição, dos presídios e do circo. A escolha de uma história simples demonstra uma preocupação do diretor em alcançar o grande público, e a qualidade técnica do acabamento reforça a ideia de que estilo passa pela técnica.

Cidade Oculta, protagonizado por Arrigo Barnabé (1951) (Anjo) e Carla Camurati (1960) (Shirley Sombra), duas personalidades em ascensão no meio artístico, é o principal filme de Chico Botelho e um dos mais emblemáticos do novo cinema paulista. Narra a história do marginal Anjo, que é solto  após alguns anos na prisão. A volta à sociedade é marcada por perseguições e acertos de contas. As referências aos quadrinhos, ao filme noir, aos velhos seriados e ao cinema japonês são explícitas na narrativa e na construção das imagens. O filme compõe a chamada "trilogia paulistana da noite", junto com Anjos da Noite (1987), de Wilson Barros (1948-1992), e A Dama do Cine Shangai (1988), de Guilherme de Almeida Prado (1954), obras que consolidam as características apontadas por Bernardet.

O longa-metragem desperta críticas positivas e negativas. Se, por um lado, a fotografia de José Roberto Eliezer (1954) é reverenciada, pois forja beleza à concretude de São Paulo, por outro, as referências à cultura pop servem de argumento para tratar o filme como internacionalizante e artificial, e a influência do cinema clássico é vista como um traço de conservadorismo. O pesquisador Renato Luiz Pucci Júnior enquadra o filme no pós-modernismo do cinema brasileiro, destacando, entre outros aspectos, a paródia lúdica; a coexistência da linearidade com a fragmentação; e a apropriação de elementos de outros filmes, extrapolando a mera citação.

Além de ser um dos cineastas mais atuantes de sua geração, Botelho demonstra uma preocupação em conciliar sua prática cinematográfica com a reflexão teórica. Em 1981, sob orientação de Eduardo Peñuela Cañizal, defende a dissertação de mestrado A Imagem Fotográfica e o Real e, em 1991, com orientação de Ismail Xavier (1947), torna-se doutor com a tese Técnica e Estética do Novo Cinema de São Paulo. Este último trabalho se constitui em uma importante reflexão sobre a experiência cinematográfica em São Paulo nos anos de 1980, momento de transição técnica e estética do cinema brasileiro, do qual o diretor é um dos protagonistas.

Obras 1

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Fontes de pesquisa 9

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  • AVELLAR, Marcello Castilho. Janete: a verdadeira inocência. Disponível no Anuário do Cinema Brasileiro (P. 853/3), da Cinemateca Brasileira, (s.d.).
  • BARBOSA, Andréa Claudia Miguel Marques. São Paulo: cidade azul. Imagens da cidade construídas pelo cinema paulista dos anos 80. 2002. 198 f. Tese (Doutorado) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo - FFLCH/USP, São Paulo, 2002.
  • BERNARDET, Jean-Claude. Os Jovens Paulistas. In. XAVIER, Ismail.; BERNARDET, Jean-Claude.; PEREIRA, Miguel. O desafio do cinema: a política do Estado e a política dos autores. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.
  • BOTELHO JÚNIOR, Francisco Cassiano. Memorial. São Paulo: ECA/USP, 1991. 62 p.
  • BOTELHO JÚNIOR, Francisco Cassiano. Técnica e estética na imagem do novo cinema de São Paulo. 1991. 292 p. Tese (Doutorado) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo.
  • BUENO, Zuleika de Paula. As harmonias padronizadas da juventude: a produção de um cinema juvenil brasileiro. Comunicação, Mídia & Consumo. São Paulo, vol. 5, nº 13, jul. 2008. P. 27-34
  • COIMBRA, Cristiano Maitan. O cinema da Vila Madalena como modelo para a retomada: as lições, as direções, a técnica. O desfecho glorioso de uma geração pioneira. 2007. 97 f. Monografia (Especialização) - Pontíficia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP, São Paulo, 2007.
  • PUCCI JR., Renato Luiz. Cinema Brasileiro Pós-Moderno: o neon-realismo. Porto Alegre: Sulina, 2008.
  • TAVEIRA, Maurício Cândido. Entrelaçamentos, interfaces, hibridismos, passagens em Anjos da Noite, a Dama do Cine Shangai e Cidade Oculta. 2001.

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