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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Lenora de Barros

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 27.05.2022
06.11.1953 Brasil / São Paulo / São Paulo
Foto de Humberto Pimentel/Itaú Cultural

Retromemória, 2022
Lenora de Barros
Metal, espelhos retrovisores de dimensões variadas com impressão em vinil adesivo e som
780,00 cm x 650,00 cm
Acervo Itaúsa

Lenora de Barros (São Paulo, São Paulo, 1953). Artista plástica, poeta. No fim da década de 1970, forma-se em linguística pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Une, em seus trabalhos, vídeo-arte e poesia. Marcada por influência concretista, ressignifica paradigmas do movimento e traz à t...

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Lenora de Barros (São Paulo, São Paulo, 1953). Artista plástica, poeta. No fim da década de 1970, forma-se em linguística pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Une, em seus trabalhos, vídeo-arte e poesia. Marcada por influência concretista, ressignifica paradigmas do movimento e traz à tona discussões sobre gênero.

A trajetória artística de Lenora de Barros é marcada pelo concretismo, seja pela via familiar, com o pai, o artista Geraldo de Barros (1923-1998), seja pelo interesse pela poesia concreta, sobretudo do grupo Noigandres. Este, formado por Augusto de Campos (1931), Haroldo de Campos (1929-2003) e Décio Pignatari (1927-2012). Seus trabalhos iniciais são em poesia e, em 1983, expõe poemas visuais na 17ª Bienal Internacional de São Paulo, em uma seção dedicada ao videotexto, gênero então em efervescência, com curadoria de Julio Plaza (1938-2003).

No mesmo ano, publica o livro Onde Se Vê, pela editora Klaxon. Reside em Milão de 1990 a 1991. Nesta cidade, realiza a mostra individual Poesia É Coisa de Nada, na Galeria Mercato del Sale. Também faz a curadoria da exposição Poesia Concreta in Brasile, no Archivo della Grazia di Nuova Scrittura. De volta ao Brasil, trabalha como colaboradora do Jornal da Tarde e assina a coluna Umas, sobre experiências poéticas e fotoperformáticas, de 1993 a 1995. 

Nesse período, passa atuar como editora de fotografia no jornal Folha de S.Paulo e diretora de arte da revista Placar. Em 1998, participa da 24ª Bienal Internacional de São Paulo ao lado de Arnaldo Antunes (1960) e Walter Silveira (1955), com a instalação A Contribuição Multimilionária de Todos os Erros.

Interessada na qualidade "verbivocovisual" da palavra, expressão dos concretistas, explora a simultaneidade da comunicação verbal e visual e desenvolve trabalho em artes plásticas com influência da arte conceitual e pop. Exemplo de investigação dessas relações é a instalação apresentada no evento Arte-Cidade 2 - A Cidade e Seus Fluxos, em 1994. Na obra, bolas de pingue-pongue são o suporte de um jogo visual e sonoro, mais do que gráfico.

Utiliza a fotografia como forma de documentação de performances encenadas diante da câmera. Exemplos são: Poema (1981), um de seus primeiros trabalhos, ou a série Procuro-Me (2002). Nesta, incorpora a intervenção na imagem, com sobreposições e recortes feitos digitalmente. Tais intervenções remetem às técnicas utilizadas por Geraldo de Barros, especialmente na série Sobras (1996/1998). Também executa performances ao vivo, como O Corpo Não Mente (1994) e Da Origem da Poesia (2000).

Em 2000, recebe o Prêmio Multicultural do jornal O Estado de S. Paulo. Com o músico Cid Campos (1958), cria a instalação sonora (Des)Encorpa (2001), para a mostra The Overexcited Body, no Palazzo Arengario, em Milão. Em 2001, também realiza sua primeira mostra individual no Brasil, O que que Há de Novo, de Novo, Pussyquete?, na Galeria Millan, em São Paulo. 

Segundo Augusto de Campos, o que a artista propõe é uma incorporação da linguagem escrita em movimento, na “libertação da palavra para fora das páginas”. Nesse sentido, é percebida uma nova atitude com o corpo e sua imagem: se a vocalização já estava presente na primeira geração de poetas concretos, a geração de Lenora de Barros concebe suas performances sob formas visuais que retratam e problematizam o poeta. Uma delas é a performance fotográfica, utilizada em Homenagem a George Segal (1975), Eu Não Disse Nada (1990) e Procuro-me (2001)1.

A influência de Lygia Clark (1920-1988) e Hélio Oiticica (1937-1980) pode ser identificada na ruptura das barreiras entre observador e obra. Se Oiticica e Clark propõem a comunhão entre corpo, cor, forma e espaço, a comunhão desejada por Lenora é entre a palavra (sua pronúncia e escrita), o espaço, o corpo do poeta, sua imagem e o observador. Dessa maneira, a dimensão sonora da palavra é também um campo de experimentação fundamental para alcançar tal objetivo. Trabalhos como Sonoplastia (2011), em que o visitante é convidado a escutar através das paredes com o auxílio de copos de vidro, instigam a investigação física do espaço por meio da sedução da voz. 

Em 2002, é contemplada com bolsa da Fundação Vitae e desenvolve o projeto do livro-objeto Para Ver em Voz Alta, e tem a instalação sonora Deve Haver Nada a Ver premiada na 1ª Mostra RioArte, do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ).

O uso do vídeo retorna em trabalhos mais recentes como a série de videoperformances Não Quero Nem Ver (2005) e A Mulher - Há Mulheres (2005). Num vídeo desta série, um gorro de lã sobre o rosto se desfaz enquanto a artista enumera frases sobre tipos femininos. Exemplo de como é forte em sua obra o peso cultural e teórico da poesia concreta e de como comparece um discurso sobre a condição feminina e a construção social de sua imagem.

Embora a performance imagética e a abertura para o espaço expositivo abram possibilidades de comunicação extraverbal para o poema, expandindo o campo sensível de contato com o observador, a palavra continua central no trabalho de Lenora de Barros. Mesmo em obras recentes que  a suspendem, como Língua Vertebral e Linguagem, ambos de 2008, a palavra permanece sob observação e experimentação cuidadosas.

Leonora de Barros, ainda que influenciada pelo concretismo, não se prende ao movimento, mas o amplia como linguagem para discussões atuais sobre a arte contemporânea, como espaço, imagem, corpo, identidade e posicionamento crítico. Sua obra mescla diferentes suportes a fim de envolver o público em uma experiência visual, poética e sensorial.

Notas

1.  CAMPOS, Augusto de. Lenora, videoformas: de onde se vê e não quero nem ver. In: BARROS, Lenora. Relivro. Rio de Janeiro: Oi Futuro, 2011.

 

Obras 5

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Foto de Humberto Pimentel/Itaú Cultural

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Metal, espelhos retrovisores de dimensões variadas com impressão em vinil adesivo e som

Espetáculos 1

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Exposições 136

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Mídias (1)

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Lenora de Barros - Enciclopédia Itaú Cultural
A poesia concreta é uma grande influência no trabalho da artista plástica e poeta paulistana Lenora de Barros. “O empenho deles [concretistas] apareceu para mim como uma libertação. Era impossível continuar fazendo uma poesia tradicional”, diz ela, que é filha do concretista Geraldo de Barros. O estudo da linguagem, da comunicação verbal e visual tem papel importante em sua produção, que envereda pela poesia visual, usando recursos de fotografia, vídeo e instalações. Também marcada pela performance e pelo trabalho da artista multimídia Yoko Ono e do grupo Fluxus, Lenora se torna personagem de muitas de suas obras, sejam elas em vídeo ou foto. “Foi uma coisa que captei como atitude na época”, afirma. Ela também acumula importante atuação na imprensa nos anos 1990, assinando a coluna “Umas”, de experiências poéticas e fotoperformáticas no extinto Jornal da Tarde, e como editora de fotografia da Folha de S.Paulo.

Realização do vídeo: Documenta Vídeo Brasil
Captação e edição (Libras): Sacisamba
Intérprete: Carolina Fomin (terceirizada)
Locução: Júlio de Paula (terceirizado)

Fontes de pesquisa 12

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  • AFONSO, Ligia. Crítica da Exposição Coletiva: Entre a Palavra e a Imagem, no Museu da Cidade de Lisboa, em 2007. Disponível em: [http://www.artecapital.net/criticas.php?critica=109].
  • BARROS, Lenora de; JAFFE, Noemi. Procuro-me. Rio de Janeiro: Espaço Cultural Sérgio Porto, 2002.
  • CANTANELLA, Elaine. "_quero_ver". BARROS, Leonora. Não quero nem ver. São Paulo: Paço das Artes, 2005.
  • COHEN, Ana Paula "O que há de novo, de novo, pussyquete? Lenora de Barros, Galeria Millan, São Paulo". ArtNexus No. 42 - Nov 2002. Disponível em: [http://www.artnexus.com/servlet/NewsDetail?documentid=7840].
  • DUARTE, Luísa. Retalhação. Catálogo Centro Cultural Maria Antonia da Universidade de São Paulo, 2007.
  • DUARTE, Paulo Sergio. "Lenora de Barros". Texto sobre a série de vídeos Não quero nem ver, publicado no catálogo da 5ª Bienal do Mercosul. Porto Alegre: Bienal do Mercosul, 2005.
  • KHOURI, Omar. "Lenora de Barros". Fotografia Contemporânea. 22/5/2005. Disponível em: [http://www.fotografiacontemporanea.com.br/arquivos/artigos/3336CF/%7BB8F15C9E-4CCA-4223-9DD2-3438B445B26D%7D_pdf.pdf].
  • KHOURI, Omar. Visualidade: característica predominante na poesia da era pós-verso: apontamentos. FACOM - Revista da Faculdade de Comunicação da FAAP, n.2. 2º semestre de 2001.
  • PALAVRA imágica. Curadoria Betty Leirner, Walter Silveira; fotografia Eide Feldon; introdução Ana Mae Barbosa; texto Lucia Santaella, Betty Leirner. São Paulo: MAC/USP, 1987.
  • PALAVRA imágica. Curadoria Betty Leirner, Walter Silveira; texto Lucia Santaella, Betty Leirner. São Paulo: MAC/USP, 1987. [58] p., il. p&b.
  • SATO, Amelia. "Palabras que picam". Página 12/ RADAR. Buenos Aires, Argentina, Domingo, 29 de Junho de 2003. Disponível em: [http://www.pagina12.com.ar/imprimir/diario/suplementos/radar/9-808-2003-06-29.html].
  • TERRITÓRIO expandido II. Prêmio Multicultural Estadão 2000. São Paulo: Sesc, 2000. paginação irregular, il. color.

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