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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Semana Illustrada: Lanterna Mágica

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 04.12.2023
1860
1876
Apontada como uma das publicações mais conceituadas da segunda metade do século XIX no Brasil, a Semana Illustrada: Lanterna Mágica é o primeiro periódico ilustrado produzido inteiramente no país. Diferentemente de publicações anteriores, ela confere um lugar de destaque às ilustrações, associando-as ao conteúdo escrito e reforçando seu potencia...

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Apontada como uma das publicações mais conceituadas da segunda metade do século XIX no Brasil, a Semana Illustrada: Lanterna Mágica é o primeiro periódico ilustrado produzido inteiramente no país. Diferentemente de publicações anteriores, ela confere um lugar de destaque às ilustrações, associando-as ao conteúdo escrito e reforçando seu potencial argumentativo.

Dirigida pelo desenhista e litógrafo alemão Henrique Fleiuss (1823-1882), a revista, editada entre os anos de 1860 e 1876, distingue-se pela qualidade das ilustrações realizadas por seu diretor e por artistas como Alfred Seelinger (?-1873), Flúmen Junius, pseudônimo de Ernesto Augusto de Sousa e Silva (?-1905), e Aurélio de Figueiredo (1854-1916). Também conta com a colaboração de articulistas importantes, como Machado de Assis (1839-1908), Quintino Bocaiúva (1836-1912), Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882) e Joaquim Nabuco (1849-1910).

A Semana Illustrada alcança projeção entre o público leitor. Graças à qualidade de sua impressão – obtida com o uso da litografia e da xilogravura como técnicas de reprodução de texto e imagem –, revoluciona os padrões gráficos da imprensa brasileira, atualizando-os em relação às congêneres europeias. A revista serve como modelo para outros periódicos nacionais lançados posteriormente.

Filiando-se aos ideais defendidos pela Corte, aborda temas relacionados à crítica de costumes e aos problemas urbanos. Adota uma postura de neutralidade em relação às personalidades políticas, instituindo a abordagem satírica desse universo por meio de diálogos estabelecidos entre personagens como o Dr. Semana, o Moleque e a Negrinha. Criados por Fleiuss, eles discutem, de forma irônica, os principais acontecimentos políticos, econômicos e sociais do período.

Destinada às elites e encarnando os ideais civilizatórios do discurso dos estadistas e intelectuais do Segundo Reinado, a publicação tem como objetivo corrigir vícios e problemas nacionais. Desse modo, é vista pela imprensa liberal como o mais importante veículo de defesa do Império e da figura do imperador. Essa posição favorável à monarquia torna-se evidente quando comparadas matérias e charges sobre assuntos polêmicos – como a Guerra do Paraguai (1864-1870) e a abolição da mão de obra escrava –, publicadas na Semana Illustrada e na revista A Vida Fluminense (1868-1875). O diretor de arte desta última, o caricaturista Angelo Agostini (1843-1910), adotando um discurso liberal, escreve várias críticas sobre o conservadorismo assumido pelo periódico de Fleiuss.

Além de abordar assuntos cotidianos, o periódico mantém, sem espaços definidos, seções destinadas a comentar os principais eventos teatrais, literários e artísticos realizados no Rio de Janeiro. Em 1861, textos anônimos comentam a Estátua Equestre de D. Pedro I, elogiando o polêmico conjunto estatuário proposto e executado pelo escultor francês Louis Rochet (1813-1878). Inaugurado em 1862, é o primeiro monumento público brasileiro. Com a realização da Exposição Geral de Belas Artes (Egba), em 1865, e da Exposição Nacional, em 1866, a revista parece conferir maior importância às artes visuais, pois os textos assinados pelo Dr. Semana criticam o caráter incipiente do meio artístico nacional e constatam a ausência de bons trabalhos nos dois eventos.

Na década de 1870, são publicados mais três artigos referentes às atividades artísticas no país: no primeiro, de 1871, o articulista tece uma comentários favoráveis à tela histórica A Batalha de Campo Grande, pintada por Pedro Américo (1843-1905), e elogia a primeira biografia do artista, escrita por Luiz Guimarães Júnior (1845-1898) e publicada no mesmo ano. Em 1873, outro artigo sobre a Exposição Nacional enaltece as marinhas apresentadas pelo pintor Edoardo de Martino (1838-1912) e os instrumentos ópticos desenvolvidos por José Maria dos Reis (ca. 1800-1875).

Mesmo não trazendo textos fundamentais para a compreensão histórica do panorama artístico brasileiro do século XIX, a revista é um documento importante sobre a evolução das técnicas de impressão. Traz informações sobre as exposições realizadas nas décadas de 1860 e 1870, bem como críticas ao funcionamento da Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), ao descaso governamental em relação à instituição e à atividade desempenhada pela crítica de arte nacional.

Outro fato que confere interesse à história da publicação é a abertura, em 1861, da Tipografia do Instituto Artístico, que tem como sócios o litógrafo Carlos Linde (ca.1830-1873), o diretor da Semana Illustrada, Henrique Fleiuss, e seu irmão Carlos (?-1878). A partir de 1863, a tipografia passa a se designar Imperial Instituto Artístico, empresa gráfica responsável pela edição de algumas das principais obras científicas e literárias do período. A empresa também oferece cursos regulares de xilografia e torna-se um dos primeiros centros de ensino das artes gráficas do país.

Após o fechamento de Semana Illustrada, em 1876, Henrique Fleiuss edita, pelo Imperial Instituto Artístico, mais dois periódicos importantes: a Illustração Brasileira (1876-1878) e a Nova Semana Illustrada (1880-1882). Apesar de sua efemeridade, eles se destacam pelas qualidades artísticas e editoriais e contam com a colaboração de  intelectuais importantes da segunda metade do século XIX.

Fontes de pesquisa 4

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  • SEMANA Ilustrada: Luneta Mágica. Rio de Janeiro: Tipografia do Imperial Instituto Artístico, 1860-1876.
  • SEMANA Ilustrada: história de uma inovação editorial. Rio de Janeiro: Secretaria Especial de Comunicação da Prefeitura do Rio de Janeiro, 2007.
  • SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: Mauad, 1999.
  • SOUZA, Karen Fernandes Rodrigues de. As cores do traço: paternalismo, raça e identidade nacional na Semana Illustrada (1860-1876). Dissertação (Mestrado) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007.

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